“Dê um deserto a um burocrata e em cinco anos ele estará importando areia” – (Henri Jeason).
Já me não reconheço mais
Há muito que ando foragido do meu modesto mundo
Quando livremente circulava pelos ares
Hoje brutalmente poluídos por pseudo-santos homens!
Não me esqueci
Mas já não consigo mais andar
Não me esqueci
Mas já não consigo mais voar…
Hoje sou um pálido pássaro-aquático
Igual a tantos outros pássaros
Hoje sou um moribundo pedestre-marinho
E nisto confesso, não estou sozinho!
O mundo dos outros, hoje puramente é meu
Comigo também estão a Rosa e o renomado Romeu
Juntos e isolados, lutamos pelo mesmo troféu
Que somente se ganha, quando se já morreu…
Cavalgo sigiloso nas escuras e lúgubres sombras de tubarões
Silenciosos e calmos, de olhares meio serenos
Maquinam planos para alegremente devorar os pobres peixinhos…
Tão quão a sua gigantesca estatura, fartos de vida
Assim é o tamanho do seu descuidado
Face aos pacatos protestos dos pobres peixinhos
Tão bravos nas suas atitudes e decisões
Ruminam os sagrados planos dos peixinhos
Maleficamente cobiçosos e incontinentes
Erguem planificadamente desumanos
O património dos futuros tubaronzinhos!
Assim como o sopro, o tempo passou
De igual modo, muita coisa mudou:
Hoje vivo no mundo dos outros
Como a comida dos outros
Falo e canto com a voz dos outros
Danço e bamboleio com as pernas dos outros
Enfim, sou quase tudo dos outros!
Os génios e forasteiros
Ensinaram-nos a moda actual:
Se quiserem falar e reclamar
Façam-no de boca fechada
E se quiserem gritar
Abram suavemente os vossos pobres lábios
Entretanto, jamais deixem
Que os vossos débeis dentes se desabracem
Pois melhor é chorar para dentro
Chorar para fora, é barulho
E barulho só atrapalha
Por isso, não atrapalhem…
Ora, de tanto chorar para dentro
Sofro hoje desconhecidas patologias
E hoje o meu abdómen inteiro reclama por justiça
Já não consigo mais andar
Para asseveradamente protestar
A carnívora vida que hodierno
Lenta e camufladamente feroz
Os forasteiros, sequestrando o vigor dos nossos sentidos
Malandramente implantaram em todos nós
E hoje, sim, nós os peixinhos
Ao mundo inteiro e a quem tem ouvidos
Clamamos um significante SOCORROOO…!