Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI
quinta-feira, 19 agosto 2021 06:57

Que lições tirar dos meses de Julho e Agosto mais quente na Europa e, quiçá, mais frio em Moçambique?

Escrito por

Os meses de Julho e Agosto estão sendo marcados pelos eventos climáticos extremos na Europa (Cheias repentinas, incêndios), na Ásia (Cheias e deslizamentos), América (Cheias e incêndios), na África do Sul (Vaga de frio). 

 

A SIC-Noticias relata os dados do relatório da NOAA (https://www.noaa.gov/) que o mês Julho foi mais quente no mundo desde que a agência norte-americana NOAA (figura abaixo), especialista no estudo do clima, tem registos da temperatura global, que remontam a 1880.

 

Fonte: NOAA, 2021 (https://www.noaa.gov/)

 

Esta agência assinala que "é muito provável" que 2021 fique entre os 10 anos mais quentes desde que há registos. Diante destas informações e tantos relatórios disponíveis a nossa posse, que lições tirar para o caso específico de Moçambique?

 

  1. Com ou sem cepticismo climático o que acontece nos outros continentes pode vir a ocorrer no nosso verão em Moçambique (Outubro a Março/Abril) ser marcado por flash-floods (cheias repentinas) e tempestades a evoluírem para ciclones.

 

Esta lição provém do facto de ser factual que em aspectos climáticos estamos conectados, não existem fronteiras, apenas existem dinâmicas e processos climáticos que funcionam em auto-resposta. As ciências da terra nos ensinam isso. Parecem-nos poucas as dúvidas sobre a influência humana no aquecimento da atmosfera, do oceano e da terra. Logo, isso acelera as mudanças que deviam ser naturais nestes compartimentos.

 

  1. Nunca se está 100% preparado para enfrentar eventos extremos, mas podemos minimizar os impactos se nos anteciparmos em acções tendentes à redução de risco de desastres.

 

A esta lição, ocorrem-nos as fotos e vídeos das cheias, deslizamentos devido a precipitações prologadas das cidades de Alemanha, Bélgica, Japão, China e vários outros países que comummente nos assistem quando estamos em emergência, aparentemente com bons serviços de protecção civil. Se calhar minoraram os danos e o sofrimento porque têm mecanismos de resposta rápida e sistemas de seguros para este tipo de eventos, mas não escaparam por ser desenvolvidos.

 

O que fazer para reduzir os prováveis impactos para nosso contexto?

 

  1. À semelhança da Covid-19 que o MISAU se redobra e se prepara e até mobiliza apoios para cenários A, B e C (desde os óptimos aos péssimos), no que concerne a eventos climáticos extremos para próxima época chuvosa e ciclónica, deve-se proceder assim;
  1. Deve-se engajar as comunidades e outros principais “stakeholders” na preparação das comunidades e toda a população com linguagem, canais mais abrangentes e apelativas a redução de risco de desastres (incluir as nossas línguas nacionais neste exercício);
  1. O Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) ficou bastante atarefado neste período porque tem pela natureza do seu mandat, gerir acções humanitárias devido a acções do extremismo violento – Terrorismo no norte, deslocados devido a incursões da Junta Militar no centro do País e mesmo algumas demandas devido à Covi-19, isso não deve distrai-lo de se preparar para cenários piores devido a eventos climáticos extremos. Infelizmente, estamos na zona costeira e estamos expostos!
  1. Com os ganhos da legislação que cria o INGD em 2020 e em extensão da lei de 2014, propunha que os Conselhos Técnicos Distritais de Gestão e Redução do Risco de Desastres fossem mais proactivos no sentido “down-top” e não “top-down” no processo de preparação das comunidades para enfrentar os eventos climáticos extremos. Não podemos cruzar os braços para depois sermos “colhidos de surpresa amnésica”.  

 

Hélio Nganhane,

 

Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.

 

Aluno do Doutoramento em Geologia na Especialidade do Ambiente na Universidade de Coimbra, assistente universitário na Universidade Púnguè.

 

 

Sir Motors

Ler 2302 vezes