Há oito de Março de 1977, no Pavilhão do Maxaquene, o Presidente Samora Machel reuniu com alunos que deveriam prosseguir com seus estudos, na 10ª e 11ª classes, e comunicou-lhes que a partir daquele momento já não tinham mais sonhos. De que em diante: “Não é aquilo que eu quero, não é aquilo que tu queres, é aquilo que nós queremos, aquilo que o povo quer”. E o dito povo, reunido dias antes, no seu III Congresso, realizado em Fevereiro de 1977, decidira que devia sacrificar o sonho destes jovens em prol dos desafios que o país enfrentava na altura. Da data, do discurso presidencial e do percurso dos jovens de então, nasceu a geração “8 de Março”.
Sobre os feitos e defeitos da decisão e da própria geração “8 de Março” muito já foi dito e escrito. De tudo apenas não se compreende uma coisa: por que carga de água a geração “8 de Março” não tomou o PODER? (não confundir tomar o Poder com servir o Poder).
No debate sobre o acesso e controle do Poder no seio do partido dominante, e não só, esta geração não é tida e nem achada e bem que poderia ser uma das alas ou grupo influente. Aliás, a sua participação e influência poderia abarcar outros quadrantes de intervenção pública nacional. Neste Domingo e por ocasião da celebração da passagem do 43º aniversário do encontro de 77, é expectável que os “oitomarcistas” tenham aproveitado para, entre outros, responderem a pergunta, sobretudo e agora que a reforma e as cobranças da consciência, batem-lhes a porta, e esta, para alguns, já se encontra escancarada.
Numa recente discussão com amigos e a propósito da pergunta, ficou patente que a geração “8 de Março” teve (porventura continua a ter) todas as condições para conquistar/exercer/controlar o PODER. Fora o denominador comum de terem sido “vítimas” do 8 de Março, os “oitomarcistas” são, na sua maioria, urbanos, com estudos, vasta experiência profissional e de governação e com uma profunda inserção em todos os sectores-chave de actividades a nível de todo o país, incluindo do partido dominante. Assim sendo, não se compreende que em matéria de Poder, a geração “8 de Março”, não tenha feito melhor que a anterior geração, a geração “25 de Setembro”. Esta , maioritariamente rural, sem estudos, sem experiência profissional e muito menos inserida em sectores-chave da máquina colonial, conquistou o Poder, exerceu-o e controla-o até aos dias que correm. Desta geração, fora a vénia, é importante que se tire dela as devidas lições em matéria de manutenção e expansão do Poder.
Numa comunicação do anterior Presidente da República (PR), Armando Guebuza, por ocasião da passagem do 27º aniversário do 8 de Março e diante de representantes da respectiva geração, disse: “Aproveito esta oportunidade para vos lançar um desafio para que se unam e se organizem (…) para transmitir às gerações mais novas a necessidade de aprofundar os conhecimentos sobre os processos políticos e históricos do nosso país, para neles buscarem referências, exemplos e inspiração, …”. Neste trecho, o então PR faltou afirmar: “Que a geração 8 de Março transmita às gerações mais novas a necessidade e a forma de conquista e manutenção do poder de acordo com os padrões de cada época”. O PR não o tendo tido, é compreensível. Porém, é incompreensível que os destinatários da comunicação nada tenham feito para que tal fosse um dos legados a transmitir.
Nas celebrações dos 38 anos do “8 de Março”, em 2015, um representante da associação com o mesmo nome, intervindo numa sessão de auscultação à convite do actual Presidente da República, Filipe Nyuse, disse: “De nada vale dizer constantemente que nos meus tempos, nos meus tempos, quando daí em diante nos alheamos de tudo o que ocorre à nossa volta” (Jornal Noticias, 18/03/15). E uma das alheações - e bem à volta dos “oitomarcistas”- foi a de terem deixado o Poder passar.
Infelizmente, e por terem deixado o Poder passar, a história não absolverá a geração “8 de Março”. Dela, apenas o registo da prontidão na resposta ao chamamento da pátria, e a podridão na resposta ao chamamento da cidadania.