O silêncio diante da detenção dos 18 + 5 expõe o cinismo como uma nova face da sociedade civil, uma cobardia que revela os pressupostos do seu agir rasteiro e ainda assim capaz de justificar racionalmente tamanha desumanidade.
Lutar por direitos e garantias, neste contexto, reveste-se de cor e classe social, sobretudo quando se adopta essa postura.
Importa salientar que não se vão mudar grandes coisas se ignorarmos as pequenas injustiças. Aliás, é tão importante promover o respeito pelos direitos da senhora que vende tomate na esquina quanto a presunção de inocência daqueles que estão ser julgados pela grande corrupção.
Qual é, afinal, o papel daqueles que estão na dianteira dos processos? Para quando uma marcha em prol da liberdade dos 18 + 5? Conseguimos pregar os olhos quando abdicamos da nossa potência crítica e assumimos essa “lógica do mutismo”, empregnada na raiz do nosso descaso em relação ao próximo?
A prisão dos 18 + 5 é um pequeno aspecto, mas expressa de forma cabal o potencial imoral de quem diz promover a cidadania, alicerçada pela nossa compulsão que se observa para cruzar os braços e olhar para o lado.
Esse silêncio dissonante com o sentimento de repúdio à promoção dos direitos humanos é ultrajante e devia fazer corar de vergonha muito boa gente. Será que, na calada da noite, estabelecemos enquanto sociedade e arbitrariamente outras prioridades por meio da violação da dignidade humana?
Por qual motivo não nos inquieta a manipulação das regras do jogo? Essa perspectiva sinaliza para actual transformação de cidadãos de classes diferentes, uns pelos quais se luta e abrem-se telejornais e, outros, condenados ao anonimato mesmo quando vítimas de injustiças iguais ou maiores.
De forma mais geral, as lentes selectivas da indignação, que agora olham para cores e posição social, serão responsáveis pelo que aí vem.
Quando for cada um por si e Deus por todos lembrem-se que as maiores injustiças são perpetrados pelo silêncio dos “bons”.