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terça-feira, 03 setembro 2024 09:42

Urge repensar o Msaho

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M´saho é essa grande festa dos chopes, organizada anualmente para esconjurar os espíritos que têm trazido ventos infaustos por aqui. Mas há quem por outro lado, investe na destruição do mwenje, árvore de onde se extrai a madeira usada na produção da timbila. Subjaz ainda a sensação, neste cenário constrangedor, de que todo o remoinho provocado pelo toque e dança e canto desta tribo do sul de Moçambique, está a desvanecer. E o testemunho disso são os últimos festivais a que tivemos a oportunidade de assistir.

 

Warethwa! (Cuidado!)! Este é o grito deles de guerra desde os tempos. Na verdade quando a xipalapala ecoa, é preciso ter-se cuidado com o que vem das mãos e de todo o corpo e da alma dos chopes. Ou seja, depois do grito, Quissico ressurge. Engrandece-se. Embevece. E é projectada para o mundo inteiro. Todos querem estar aqui para se embebedarem com a loucura da timbila.

 

Mas hoje em dia o M´saho já não é o mesmo. É muito provável que esteja a ser diluído pelo tempo. Não se sente a vertigem, e ainda por cima estamos em presença de um Património Cultural da humanidade. Então, há coisas que os chopes não podem fazer sozinhos, mesmo sabendo-se que eles nunca se resignaram em nenhum momento.

 

Não que não haja esse respeito, mas a sensação que tenho é de que está-se a fazer pouco, começando pelo palco que acolhe as orquestras.  Ou seja, para quem chega antes de começar o M´saho, e antes de chegarem as pessoas da assistência, regra geral o que se vê são pequenos sinais como dísticos  apelativos com pouca chama  em termos de imagem. E pior do que isso, olhando-se para o palco, a pergunta que vai surgir imediatamente  será: é aqui onde vamos assistir às loucuras dos chopes? Na verdade o palco instalado não é de forma alguma digno de receber uma manifestação de tão elevado porte cultural.

 

É aqui provavelmente onde começa, ou se agudiza a contrariedade.  Talvez a decepção.  Os executantes são acolhidos naquilo que tende mais para um alpendre carrancudo, do que propriamente para um palco. Quem construiu aquilo provavelmente não tem sensibilidade sobre o que é um festival desta dimensão, sobre a grandeza da timbila no mundo. Não só temos na obra os irritantes pilares múltiplosÉ urgente repensar-se no local da realização dos festivais de Timbila. Zavala tem um tesouro invejável que são as Lagoas de Quissico, esplendorosas, algo que não pode passar despercebido durante o evento. As Lagoas de Quissico devem fazer parte do Festival, e,  fazer com que aquela paisagem seja pertença do M´saho, passa necessariamente por repensar o palco.

 

É imperioso e urgente levar as coisas mais a sério, porque aqueles que vão à Quissico pelas alturas do M´saho, querem ver a beleza em si estampada em todo o lado. Os estrangeiros em particular, vão para ali  porque já ouviram falar desta manifestação cultural e sabem que é Património Cultural da Humanidade. Sabem que a festa da timbila é elevada, então os organizadores precisam de corresponder à todas as expectativas, tornando o festival num importante eixo que deve passar também pela capacidade de fazer a comunicação e imagem. O Marketing. E espreitar aquilo que se faz noutros eventos pelo mundo fora, porque o M´saho tem dimesão mundial. E em tendo uma dimensão universal, é preciso fazer algo que justifique isso.

 

  1. Os timbileiros são artistas de proa, merecem um tratamento a condizer com o seu estatuto, mas esse valor não lhes tem sido dado, em particular a nível dos pagamentos pelas actuações. Isto não é justo.

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