O Banco de Moçambique justificou hoje o aumento da taxa de juro com a necessidade de evitar uma “espiral” nos preços e o “descontrolo da inflação”, alertando que “não hesitará em tomar medidas corretivas” para proteger a economia.
No último dia 30, o Comité de Política Monetária (CPMO) do Banco de Moçambique decidiu aumentar a taxa de juro de política monetária (taxa MIMO) em dois pontos percentuais de 15,25% para 17,25%.
Comentando hoje a decisão, o diretor do Departamento de Estudos Económicos do Banco de Moçambique, Pinho Ribeiro, afirmou que a medida visa proteger o país da contínua volatilidade de preços dos combustíveis e dos alimentos provocada pela guerra de invasão russa da Ucrânia e travar um agravamento acentuado de preços no mercado interno.
“Não conter o ritmo de aceleração de preços e deixar que a inflação fique descontrolada” representa “um risco maior de a economia sofrer mais por não se tomar nenhuma medida neste momento”, sublinhou Ribeiro.
Aquele responsável do regulador financeiro moçambicano falava durante uma palestra sobre a “Conjuntura Económica e Perspetivas de Inflação” com estudantes da Faculdade de Economia da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), a maior e mais antiga instituição de ensino superior de Moçambique.
Através do aumento das taxas de referência, prosseguiu, o banco central visa travar uma maior circulação de dinheiro e controlar a tendência de aumento de preços.
“Como é habitual, o Comité de Política Monetária monitora sempre e continuará a monitorar a evolução dos riscos e incertezas associados a estas projeções e não hesitará em tomar as medidas corretivas necessárias”, enfatizou.
Pinho Ribeiro avançou que o regulador está focado no objetivo de conseguir que a inflação desça para menos de dois dígitos, contando com a perspetiva de uma redução dos preços de combustíveis e alimentos, a médio prazo, no mercado internacional.
“As perspetivas de inflação apontam para um contínuo aumento, no curto prazo, e uma desaceleração, no médio prazo”, sublinhou Ribeiro.
Encarecer o custo do dinheiro para travar o agravamento dos preços tem sido a medida mais adequada, mesmo num contexto em que a maioria das empresas moçambicanas precisa de crédito menos caro para se capitalizar face à quebra de rendimento provocada pela pandemia de covid-19, explicou.
A inflação homóloga em Moçambique foi de 12,1% em agosto, o valor mais alto dos últimos quatro anos e 11 meses, anunciou o Instituto Nacional de Estatística (INE).
Falando na mesma palestra, Carlos Baptista, diretor do Departamento de Mercados e Gestão de Reservas do Banco de Moçambique, observou que as medidas da instituição têm permitido que a moeda moçambicana se mantenha “sólida e apetecível” face a divisas estrangeiras, rejeitando a ideia de que o metical esteja “artificialmente valorizado”.
“O metical, comparado com outras moedas, é uma moeda apetecível, porque é mais rentável deter meticais do que deter outras moedas, isso é a principal razão” da apreciação da moeda nacional, enfatizou.
O mercado cambial, continuou, tem mantido o equilíbrio entre a procura e a oferta, evitando distorções que levem a uma interferência do banco central, através da injeção de mais capital.(Lusa)