Quem não vive em Nampula ou quem vive há menos de dois anos pode não entender. Mas, é o seguinte: pelo menos até 2017, ano em que o edil Mahamudo Amurane foi barbaramente assassinado, a cidade estava repleta de flores. Haviam jardins e parques infantis na urbe. Haviam tulipas, orquídeas, rosas, bom-dia, calêndulas, camélias, línguas-da-sogra, rainha-da-noite, etecetera.
As flores pressentiram a burla. Quando o cota Vahanle ganhou as eleições intercalares, na segunda volta, logo em seguida as flores murcharam começando pelas que se encontravam no próprio pátio do seu gabinete e residência. As flores sabiam do engodo. Com a nova vitória do tio Vahanle, de 15 de Outubro de 2018, as flores que ainda deram o benefício da dúvida ao presidente morreram de vez... de angústia. As plantas que exibiam sete-vidas, da avenida do Trabalho (da meia-via à padaria Sipal), despediram-se logo antes da tomada de posse do edil. Nós vimos isso, mas não entendemos.
Já li algures artigos científicos que afirmam que crianças e cachorros conseguem ver pessoas más. Pressentem. Lêem almas. Vêem energias negativas. Mas eu acho que as plantas também têm o seu próprio horóscopo. Lêem a mão de quem cuida delas. Esperemos apenas a confirmação.
Quem vivia aqui certamente que viu. As flores que mais mostraram musculatura e esperança exacerbada foram as do Jardim Parque. Até Janeiro do ano passado as pessoas tiravam fotos de casamento ali. Hoje, até "molwenes" têm medo de entrar ali. Até a vedação se foi.
As flores do gabinete e da residência do Governador ainda estão ali, mas entediadas pedindo socorro aos transeuntes e sentinelas. Mas ninguém as escuta. Nós não temos a capacidade de entender a língua das flores - o floriguês. Aquelas plantas estão a definhar lentamente. Estão a dar o último adeus aos munícipes, o que Amurane não teve a oportunidade de fazer.
Se o tio Vahanle estivesse num país onde o meio ambiente é assunto sério, talvez hoje estaria na prisão. A inoperância da edilidade é um feitio de formação de quadrilha para delinquir. Dói a alma! Dá raiva!
As flores sabiam do seu genocídio. Hoje, quem encontrar uma flor saudável na cidade de Nampula (que não seja num quintal particular) que dê um beijo, tire uma foto e publique. Essa flor merece uma medalha e estátua. "Wariya wa Wamphula", era uma vez.
Será que o edil Vahanle tem falta de assessoria? Aqueles quadros - jovens e velhos - que vejo por ali não o podem assessorar? Não estamos a falar de máquinas para trabalharem com lixo e buracos. Estamos a falar de dar água as flores. Custa alguma coisa?!
- Co'licença!
Estou aqui, desde a semana passada, a vasculhar os meus apontamentos da faculdade para ver onde se encaixa o valor-notícia do espectáculo artístico do arguido Paulo Zucula. Não entendi bem qual era o alcance da notícia. Mostrar que o antigo ministro sabe tocar guitarra? Mostrar que ele faz caridade ensinando outros detentos a dedilhar a guitarra? Mostrar que ele é homem-do-bem? Mostrar que ele é um cara benevolente?
Não apanhei a intenção até agora. Quem convidou a imprensa? Os serviços penitenciários? Os advogados? O próprio "gatuno"? Os familiares?
Está muito difícil para mim entender. Paulo Zucula é um arguido como tantos outros que andam nas prisões deste país. E ele não foi preso porque plagiou uma música de dono. Nem porque roubou uma guitarra. Ele e mais dois comparsas foram indiciados da prática de sobrefaturação num valor estimado em 400 mil dólares. Zucula é acusado de ter aceite subornos enquanto membro do Governo para facilitar a aquisição de duas aeronaves da companhia estatal de aviação. Sem contar também que Zucula é acusado de ter recebido valores que variam entre 135 mil dólares e 315 mil dólares para facilitar a adjudicação de obras do Aeroporto de Nacala, na província de Nampula, à construtora brasileira Odebrecht. Sendo menos poético: Zucula pode ter delapidado o país. Ou seja, é um potencial gatuno. Não é brincadeira, não!
Por isso, eu acho que fazer uma cobertura jornalística pomposa do espectáculo musical de um punhado de prisioneiros liderados pelo antigo ministro é brincar com coisas sérias. É tentar ludibriar o povo, uma vez que até àquele dia Zucula ainda aguardava julgamento. Ainda não tinha sido condenado, e não foi até agora. Aliás, o julgamento começou uns dias depois daquele "show" de bom-moço. Que implicações terá aquela campanha beneficente no julgamento?
E se a moda pega?! E se cada prisioneiro quiser o seu espaço de antena?!
E se a Helena solicitar uma cobertura para mostrar que sabe imitar Zena Bacar? E se as suas colegas de cela pedirem cobertura para mostrarem que sabem "tsovar" como Zaida Chongo? E se o Ndambi quiser mostrar que sabe jogar golf? E se o Rosário quiser mostrar que sabe jogar xadrez? E se o Mazoio quiser exibir que é um grande trompetista? E se o Chang quiser mostrar que é um autêntico Bethoven? E se o Nhangumele quiser mostrar que sabe tocar chocalhos? Quid juris?
Não sei o que os manuais dizem sobre isso. Só sei dizer que existem muitos detentos talentosos, desde artistas plásticos, músicos, atletas até acrobatas. Se antes de cada julgamento, quisermos exibir os dotes de cada arguido teremos de montar um "The Gatuno's Channel" com o orçamento do Estado. Matéria é que não vai faltar. Até Manuel Escurinho fez curso de árbitro na cadeia, era arbítrio do campeonato penitenciário... ninguém mostrou.
E agora, quid juris?
- Co'licença!
"Eu não conheço Nhangumele!" - um herói negando outro herói, uma guerra intergeracional, um conflito estatutário.
Não sei que justificativas daremos às futuras gerações, se encontrarem apenas heróis de armas naquelas tumbas. Que argumentos daremos para essa exclusão? O que diremos, se os putos do futuro encontrarem uma tabela periódica de gatunos de alto quilate sem sequer um inventor reconhecido? Uma obra sem obreiro. Uma ciência sem cientista. Que desculpas daremos aos putos, se descobrirem que passou por aqui um ladrão intercontinental de obra feita, mas sem lápide? Não estaríamos a ser egoístas?!
Quer queiramos quer não, os gatunos também fizeram a sua parte na história. Lançaram o país na sarjeta - sim, mas, também, diga-se, içaram a nossa bandeira mundialmente até ao ápice do mastro. É normal que alguns não se sintam confortáveis com isso, mas é a mais pura verdade. São heróis de outros feitios. Não há como! Não adianta ficar nervoso. Quem não gosta se pica no olho.
Essa nova categoria de heróis é demasiadamente audaz. Brutalmente corajosa. Vejam que Marcelino dos Santos negou receber tratamento médico na Índia, enquanto o Chopstick foi capturado quando ia fazer digestão da ceia de Natal em Dubai. Vejam só, irmãos, a petulância dos novos personagens da nossa história! Não há dúvida que é preciso reconhecer a sua epopeia. A heroicidade estende-se também àqueles compatriotas que aceitaram carrões zero quilómetro de presente desses pilantras que nunca trabalharam. É muita coragem!
Quando inventamos esta cena de viragem e não-viragem, sabíamos o que nos esperava como povo e como nação. Sabíamos que viragem é virar do avesso, dar cambalhotas, fazer piruetas. Virou a moral, viraram os valores, viraram os conceitos, viraram os personagens, viraram as virtudes, viraram os heróis. Há uma nova espécie de heróis que também quer uma praça... a praça dos heróis da viragem... a praça dos gatunos de estimação.
É isso. Temos de assumir sem vergonha que esses "burlas" também são nossos "ERROIS". E isso não é para discutir. Se quiser ajudar, arranje-nos um terreno para construirmos uma nova cripta. Se for perto da Bê-Ó, melhor. Ou, então, ali na zona da EMATUM. Acabemos de uma vez por todas com essa assimetria de tratamento. Esse debate de que as enchentes no velório e a quantidade das lágrimas definem a heroicidade deve acabar. Ou estamos virados ou não estamos!
- Co'licença!
Os especialistas em postura pública do racismo dizem que o jogador Moussa Marega não devia ter abandonado o jogo. Dizem que devia ter ficado para marcar mais um golo e, no final da partida, lançar a sua camisola à bancada onde estavam os brancos racistas, fazer gesto de macaco e sair. Dizem esses peritos que isso chama-se sair em grande estilo. Dizem que é a melhor resposta aos actos racistas.
Quer dizer, já começaram a aparecer compatriotas nossos "ekspertis" em etiqueta do racismo. Daqui a pouco, vão começar a fazer "cotxingui" sobre métodos de resposta ao racismo. Vamos ter "workshops" sobre etiqueta do racismo. Vão nos ensinar técnicas de auto-defesa contra o racismo assim tipo taekwondo. Racismo vai ter ritos de iniciação. Vão produzir manuais de resposta contra o racismo para o ensino primário e secundário.
Para o bem da humanidade haverá um guia do racismo. Haverá um tratado do racismo que deverá ser ratificado por todas as nações. O objectivo é não perder a elegância quando estiver a sofrer racismo. Do tipo, não pode perder a postura. Não pode ser boçal. Tem de manter a classe quando estiver a ser insultado. Pode doer, pode-se sentir humilhado, pode ficar chateado, mas, faz favor, não mostre. Mantenha a pose.
Os entendidos na matéria dizem que a melhor forma de reagir ao racismo é não reagir. Não ligar. Mandar passear. Ficar tipo nada aconteceu. Procurar a tia Verô para te relaxar como fez com a imunidade de Chopstick. Dizem que os pretos devem estar psicologicamente preparados para sofrerem racismo, principalmente quando estiverem a viver na Europa. Preto não deve ter frescura.
Assim, estamos a desenvolver um código de conduta para convivemos pacificamente com o racismo. Infelizmente, é assim que vamos fabricando almofadas mornas para acomodar cobardias. Vamos tratando romanticamente a estupidez. Vamos protocolando o racismo, assim como fazemos com o estupro, com a violência doméstica, com o casamento prématuro, com os gatunos, com a homofobia, etecetera, onde a vítima é treinada a agir politicamente correto. Onde a vítima, antes de reagir, deve pensar na imagem e no bom-nome do seu agressor. Onde a vítima deve ser civilizada. Ser "polaiti". Vai que o agressor fique traumatizado!
Nesses moldes, o Marega devia ter permanecido no rectângulo do jogo para manter a harmonia no estádio. Foi constrangedor. Havia crianças e idosos ali. De acordo com o novo código, o Marega foi ríspido e selvático. Quem assim procede precisa de uma indução comportamental muito séria. Essa cena de racismo e não-racismo, o Marega não entende patavina.
Eu: aos especialistas, vai aquele inglês de Doppaz para vocês.
- Co'licença!
Afinal, tio Vahanle existe!? Vive aqui mesmo na cidade de Nampula!? E tem ido ao seu gabinete trabalhar!? Tem equipa de trabalho!? Recebe salário pelo trabalho que faz!? Quer dizer, assim como a cidade está tem um Presidente que ganhou eleições para gerí-la!? E esse Presidente tem a sua equipa de assessores, directores, vereadores, técnicos, etecetera!? Verdade...!? Juuuuura!!!
Custa-me acreditar que a cidade de Nampula tem um gestor. Se isto é gerir, então, podemos assumir que Nhongo também está a gerir a região Centro. Na verdade, a diferença entre Nhongo e Vahanle é que o primeiro se esconde no mato e o segundo, na casa protocolar. Nampula está chamuscada. É buraco, é lixo, é cheiro, é vendedor no passeio - aliás, na estrada. As medidas tomadas são "paracetamólicas" para a imprensa registar. Aqueles jardins que Amurane reabilitou e brilhavam já ruíram. Aquelas flores que Amurane plantou morreram de tédio. Até as flores que estavam no próprio edifício do Município murcharam. É uma cidade esquecida. Acho que sem nenhum gestor a cidade podia estar melhor do que está hoje.
Assim, quando ouço que o edil Paulo Vahanle está vivinho-da-silva com sua equipa a trabalharem, fico assarapantado. Estão a trabalhar em quê concretamente!? Afinal, o trabalho deles não é gerir a cidade!? Não é cuidar dela!? Andam pelos bairros urbanos e suburbanos!? Vêem as estradas!? Falam com os munícipes!? Ou pensam que o seu trabalho se circunscreve apenas ao ar condicionado do gabinete e do "fô-bai-fô" protocolar!?
Não é este Paulo Vahanle que sonhamos. Venderam-nos galinha por perdiz. De resto, se estivesse disposto em chamar os bois pelos nomes, diria que Vahanle é a maior burla democrática que já vi. Uma fraude monumental. É lerdo demais. Não vê, não ouve, não fala e não anda. Só respira, come e caga. É com muita tristeza que digo isso. Infelizmente! E parece que os seus assessores viraram acessórios. Os serviços municipais, hoje, são catacumbas de funcionários esfomeados ávidos em encher os seus próprios bolsos.
Ainda não vimos nada que seja trabalho de Paulo Vahanle. Eu, que fui observador eleitoral nas eleições que levaram o Vahanle ao trono, sinto-me triplamente defraudado. Também estou a sofrer "trêji-veji", como Mazamera. Querer que tio Vahanle seja como Amurane é pedir demais. Amurane também exagerava na qualidade. Mas é imperioso saber onde anda a "fórmula do sucesso de Mahamudo Amurane". O que fizeram com a "receita mágica de Amurane"? Deitaram fora!?
Paulo Vahanle entrou no Município com largas vantagens em relação aos demais edis. Ele já tinha a "receita mágica" deixada pelo falecido. Cabia ao tio Vahanle trazer os ingredientes (até porque muitos já estavam lá) e montar o fogão. Podia não inovar mais, mas, ao menos, manter o que já tinha sido alcançado. Não precisava ser inteligente como Amurane, mas também não precisava ser pior que Tocova. E, honestamente falando, ser pior que Tocova é uma classificação que desportivamente não existe. Se tiver que existir, vai merecer um prémio. É do tipo ficar atrás do último classificado... perder com quem sequer competiu.
Quem estiver perto do Paulo Vahanle deite-lhe um pouco de água fria à cabeça, e grite: acorda, tio Vahanle!... só tens mais dois anos.
- Co'licença!
Finalmente! Depois de um trabalho aturado, usando as mais recentes tecnologias de ponta, um grupo de cientistas de um consórcio das melhores universidades de Moçambique, descobriu que, afinal de contas, quem anda a destruir Moçambique são as Redes Sociais. A boa nova foi dada a conhecer em primeira mão pelo Chefe de Estado depois de dois dias de Conselho de Ministros ALA(r)GADO que decorreu em Pemba.
Infelizmente, os cientistas não especificaram, concretamente, qual é a plataforma que tem sido obstáculo ao desenvolvimento do país. Não disseram ao Chefe de Estado qual tem sido a rede social vilã do processo de crescimento do país. Não foram precisos nesse ponto. Não foram claros. Mas a verdade é que não são os gatunos, a corrupção, a má gestão, etecetera, que estão a destruir este nosso Moçambique. Não! São as redes sociais... vagamente.
Seja como for, de certeza que não é o "Feicibuque" o mau da fita. É que o Chefe de Estado tem uma página no "feici" que ele usa para interagir com o povo. Um espaço onde ele partilha as suas ideias e realizações esperando colher sensibilidades. E tem recebido muito "fidi-bequi", pelo menos que se saiba.
Aliás, é no "Feicibuque" que o Chefe de Estado encontra os melhores quadros deste país. A título de exemplo, foi aqui onde o Chefe de Estado encontrou um professor e coreógrafo da arte da malcriadez e o nomeou Pê-Cê-A de um parque que se dedica (melhor, devia-se dedicar) à ciência e tecnologia.
De resto, o tal "Pê-Aga-Dê" está a fazer um grande trabalho científico e tecnológico lá. Ele também fez o seu estudo a solo onde concluiu que o jornal "Carta" devia ser encerrado e os seus colaboradores, fuzilados em leilão por estarem a retratar a realidade miserabilista da guerra em Cabo Delgado. De acordo com o seu comunicado de imprensa científico e tecnológico, as Forças de Defesa e Segurança "devem conjugar inteligência e acções enérgicas---mesmo as extra-legais!" contra o jornal e seus profissionais. Só que ninguém entende por que raio a tal "inteligência e acções enérgicas" não são convocadas para acabar com o terrorismo no terreno de uma vez por todas. Parvoíces!
Definitivamente, se o país está a ter problemas, não estão a sair daqui. Aqui no "Feicibuque" não há nenhum stress. Aqui estamos muito bem. Estamos a conviver com os acólitos do sistema de forma muito civilizada como mandam os bons costumes. Aqui debate-se com muita etiqueta. Só as vezes as pessoas se insultam... as vezes mesmo... muito raramente. No "Wati-Sapi" também creio que também não haja problemas relevantes.
Eu acho que, se existe uma rede social onde o governo e o povo não têm interagido bem é no "Eme-Pesa". Esta tem sido, até agora, a única plataforma, ao meu ver, que o governo não tem dado o devido valor para se comunicar com os cidadãos. Há que melhorar muito. Se o governo usasse o "Eme-Pesa" como tem usado o "Feicibuque" para interagir com o povo, hoje nem estaríamos a falar nesse assunto. Se os acólitos do sistema estivessem de plantão no "Eme-Pesa" a exibir a sua estupidez como têm estado no "feici", seria uma harmonia total.
O problema é que na rede social "Eme-Pesa" só conversam entre eles. Depois de trocarem ideias no "Eme-Pesa" aportam no "Feicibuque" para guengarem o povo. E é aqui onde o povo manda os gajos pentearem macacos. Acrobacias aqui, não!
- Co'licença!
As dívidas ocultas também começaram como um boato. Houve comunicados e conferências de imprensa aqui e acolá. Houve entrevistas. Houve "exclarações". Chopstick - o próprio catequista dos gatunos - deu a melhor justificação que se tem memória sobre o assunto. O então Governador do Banco Central jurou de pés juntos que nunca tinha ouvido falar do tal dinheiro. Era tudo boato e a ordem do dia era "fiquem tranquilos".
Era tudo boato até ao dia em que malta Nhangumele & Ndambi foi presa e Guebuza decidiu acabar com a epopeia e brindar-nos com aulas gratuitas de exaltação patriótica em plena praça dos heróis. Depois que nos ensinaram a assaltar... digo, exaltar a pátria, o antigo boato virou agora uma verdade... uma verdade empoeirada. Muito empoeirada mesmo! E ainda estamos nessa lenga-lenga de poeiras e pudins fosfóricos.
Era tudo boato quando desconhecidos atacaram, incendiaram aldeias e decapitaram pessoas em Cabo Delgado. Até jornalistas foram presos por promoverem esses boatos. Por causa desses boatos um helicóptero aterrou de emergência de pernas para o ar no mato. Era tudo boato até ao dia em que, de repente, os atacantes viraram insurgentes. Era tudo boato até ao dia em que os russos cansaram de ser trucidados e se renderam. Onde é que podemos encontrar a verdade sobre os misteriosos ataques "jihadistas" de Cabo Delgado que já fizeram 350 mortos e milhares de refugiados nos últimos dois anos? No "boato" das redes sociais, é claro.
Era tudo boato o recenseamento eleitoral de Gaza. Houve comunicados e conferências de imprensa para justificar. Na senda de justificar, o "doutor Apriorístico" levou porrada com o puto Venâncio em plena tê-vê. Era tudo boato até ao dia em que o Rosário Fernandes - qual capim alto - colocou Gaza em 2040. Até ali era tudo boato.
Também era tudo boato os esquadrões da morte. Era tudo boato até ao dia em que os espíritos do irmão Anastácio Matavele deram um "baaasta!" nesse crime asqueroso. Até a premiação dos criminosos era tudo boato. As "massagens" na Circular de Maputo eram boato. As valas comuns eram boato. Os sequestros eram boato. Para a nossa infelicidade, hoje todos sabemos que é tudo verdade.
Feliz ou infelizmente, estamos habituados a parir verdades a partir de boatos. O boato de hoje será verdade amanhã. A verdade de hoje era o boato de ontem. Aqui os boatos têm prazos de validade até serem verdades. Esse é o cerne da questão. É a partir daqui que eu quero discutir. Um pai que não diz verdades à sua família não se deve admirar quando esta for buscar as suas verdades na rua.
Vamos "desboatizar" as mentes. A verdade nua e crua é que, se um governo se sustenta com mentiras, o seu povo vai se sustentar com boatos. Se o governo não fala verdades, o povo irá inventar as suas próprias verdades. Se da fonte legítima não sai a verdade, o povo irá buscá-la em algum lugar. É o método da auto-defesa natural. Uma espécie de Mito da Caverna de Platão. Às vezes o boato é apenas um forma de encontrar uma explicação dos fenómenos que não têm explicação oficial.
Nunca nos dão uma verdade logo de primeira. Não sabemos o que é ter uma verdade genuína. É tudo pela força do boato. Foi a partir da mídia internacional e das redes sociais que ficamos a saber das dívidas ocultas, das valas comuns, etecetera, e agora, dos ataques no Norte. Então, há razões para o povo ir buscar verdades na rua. É na rua que o povo está habituado a obter as suas verdades.
Talvez o nosso boato seja mais filosófico do que impostor. Podíamos chamar de boato metódico ou boato cartesiano. O boato como instrumento metodológico para chegar à prova da existência da verdade, assim como é a dúvida para Descartes. Então, no fundo no fundo, o nosso boato é patriótico também. É esse boato que nos une.
Não basta que o governo lance comunicados e conferências de imprensa de desmentidos. Não basta contra-atacar. Antes de mais, é preciso atacar com verdades. Ser autêntico.
- Co'licença!
"Não fui por vontade própria... O estado estava lá" - tio Pio, o futuro ex-governador da Zambézia.
Agora que o cota Pio descobriu que foi enganado com pasta de "gover" está a levantar poeira. E, diga-se, muita poeira. Dizem que o velhote marimbou para a cerimónia de abertura do ano judicial. Não quis levar desaforo para casa. Como todos sabem, o tio Pio pode alegar não bater bem da "head". Pode dizer que está a ter uma recaída.
O mais engraçado nisso tudo é que os seus camaradas têm consciência de que o velhote não tem preguiça de entornar o caldo. Já fez no passado e pode fazer de novo, se lhe irritarem os miolos. Sabem que o velhote pode mandar um manguito para essa porra e bazar. E com razão. É muito abuso.
Sujou geral na banda. Ninguém tem dúvida do que o cota Pio é capaz quando está f*dido. E agora, o que vamos fazer!? Remédio de lua vai ajudar!? Levarmos o velhote aos ritos de iniciação!? Ao Infulene!? Ao Onório Cutane!? Darmos uns chambocos!? Ou vamos deixar acalmar-se sozinho!?
O cota Pio é uma espécie de político "kamikazi". Age como se não tivesse nada a perder. Lava roupa suja no rio, ao relento. Tá nem aí. Cagou para todo o mundo. A qualquer momento pode bater a sua última beata e escangalhar essa porra. Está pouco se marimbando pra a malta.
Já dizíamos, quando ainda era cabeça de lista, que tio Pio devia apresentar Junta Médica, mas não nos deram ouvido. Agora é tarde. O cota deve ter tido uma recaída e deve ter activado o "f*da-se!". Os médicos podem dizer que trata-se de uma reincidência. O futuro está cada vez mais incerto na zona dos Bons Sinais. Natural não treme... pior quando é eleito.
Literalmente, o cota disse: fí-lo porque quí-lo. Um dia "As Recaídas do Tio Pio" pode ser um grande capítulo de um livro de História Universal. Quem viver verá. "Muana mutxuabo ka-nkala burutu".
- Co'licença!
Queria saber se esses Secretários de Estado da Juventude e Emprego e dos Desportos já receberam os seus termos de referência. Não é por mal, mas é que os primeiros Secretários de Estado que foram enviados ás províncias não conhecem as suas atribuições. Estão aqui a "faitar" com os Governadores eleitos.
Assim hoje, aqui em Nampula, há duas cerimónias de abertura do ano lectivo 2020. Quer dizer, jornalistas agora já não sabem onde ir. Jornalistas da Ere-Eme ou da Tê-Vê-Eme correm o risco de irem cobrir o evento do tio Manuel Rodrigues e o primo Mety Gôndola não gramar ou vice-versa. Provavelmente, vamos acabar por ter dois noticiários, um para cada chefe. Do tipo, "bom dia, está no ar o jornal da tarde da Rádio Moçambique emissor provincial de Nampula referente ao Secretário de Estado". Ainda vamos a tempo de termos uma Tê-Vê-Eme dividida em duas equipas, uma para eventos do Secretário de Estado e outra, do Governador.
Por isso queria saber se Osvaldo Petersburgo e Gilberto Mendes já levam as suas atribuições. Se já sabem o que vão fazer, quando, onde e como. Não é para ouvirmos, amanhã, que o Secretário de Estado do Emprego mandou informar que apartir de agora Cê-Vês para qualquer vaga serão entregues no seu gabinete. Não é para ouvirmos que Petersburgo mandou informar que jovens não podem falar inglês na rua.
Não podemos governar "manera manera", como diria aquele meu conterrâneo campeão olímpico de retratos no elevador. É isso! Não é para ouvirmos, amanhã, que o Secretário de Estado dos Desportos decidiu que o Maxaquene vai subir ao Moçambola. Não é para ouvirmos, amanhã, que Gilberto Mendes vai fazer a convocatória dos Mambas para o próximo jogo ou, então, que as chaves do Estádio do Zimpeto agora andam nos bolsos do Excelentíssimo Senhor Secretário de Estado.
Seria muito bom que antes da tomada de posse cada um já conhecesse o seu trabalho. Que cada um já conhecesse as suas atribuições. Que cada um já fosse ao seu gabinete para trabalhar e não para ter aulas do seu próprio trabalho.
O que está acontecer entre o Secretário de Estado e o Governador aqui na banda é uma autêntica palhaçada. Não se pode repetir. Quero ver como vai ser no dia 3 de Fevereiro. Talvez cada camarada terá a sua própria praça dos heróis. Sem contar que a procissão ainda não saiu da paróquia.
- Co'licença!