Director: Marcelo Mosse

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Para começar...

 

O presente comentário constitui a nossa percepção em torno do que os partidos acima mencionados dispõem nos seus manifestos políticos para os jovens moçambicanos. A nossa leitura baseia-se no que está escrito em cada documento analisado, não sendo assim nenhum estudo aprofundado. Por questões de equilíbrio metodológico, escolhemos os três partidos pelo facto destes estarem a concorrer para as eleições presidenciais, mesmo que não nos tenha chegado o manifesto político do partido AMUSI. Num cenário próximo, ficamos com a tarefa de fazer uma leitura que agregue somente os partidos que concorrem para a eleição legislativa, e sem assento parlamentar.

 

Entendemos ser importante esse exercício dado o facto de recorrentemente se colocar o debate em torno da(s) juventude(s) como central no discurso político nacional, mesmo que em dado momento da história esses mesmos jovens tivessem sido chamados a “seiva da nação” (Samora Machel, 1977), e noutro foram tidos como potenciais “vendedores da pátria” (Hama Thai, 2008). Aliás, os três partidos que serão alvo de análise, demostram o seu condão político-juvenil através da criação da Organização da Juventude Moçambicana (OJM) para o caso da Frelimo, e das Ligas Juvenis para os casos do MDM e da Renamo.

 

Importa esclarecer que a colocação do termo juventude no plural representa, para nós, a dúvida teórica quando procuramos buscar um consenso. De facto, não conseguimos definir o que seria juventude(s), sendo o mesmo polissémico e socialmente ambíguo. Pensamos ser problemático falar de juventude moçambicana, razão pela qual propomos o seu uso no plural por considerar a multiplicidade na sua concepção sócio-cultural, biológica, política e económica.

 

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FRELIMO

 

Num total de 100 páginas, é na secção 3.1.4 (Título: Juventude – página 47) que o partido Frelimo trata da(s) juventude(s), na qual afirma: “A FRELIMO reconhece o dinamismo, perseverança, e espírito de liderança que sempre caracterizaram a juventude em todos os processos históricos que culminaram com transformações políticas e sociais profundas no País. O compromisso da FRELIMO em relação à empregabilidade e ao trabalho, a habitação, a promoção de pequenas e médias iniciativas empresariais, o aumento da produção e produtividade, a promoção da educação e a formação profissional tem como principal grupo alvo os jovens Moçambicanos.

 

Assim, a FRELIMO vai:

 

“Promover o associativismo juvenil, como um mecanismo de diálogo com as lideranças e de acesso às várias oportunidades de desenvolvimento; Promover iniciativas que contribuam para o fortalecimento do associativismo juvenil, com destaque para as iniciativas colectivas empreendedoras, para tornar os jovens actores cada vez mais preponderantes no combate a pobreza; Desenvolver programas e acções que contribuam para a materialização da Política da Juventude e demais instrumentos orientadores para o desenvolvimento da Juventude; Facilitar o acesso dos jovens à terra infra-estruturada, habitação condigna com crédito em condições concessionais de prazo e juro, bem como aos recursos de que o País dispõe;  Promover medidas que incentivem as iniciativas dos jovens, que concorram para o fomento de actividades geradoras; de rendimento e, para o desenvolvimento da economia nacional do País; Estimular a criação de iniciativas que incentivem a participação dos jovens nos processos de planificação e implementação de programas de desenvolvimento; Estimular nos jovens o respeito pelos direitos humanos, valores morais e éticos, o espírito patriótico e o sentido de justiça social e de género; Promover a saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes e jovens e hábitos de vida saudável”.

 

Pela contagem feita, a palavra JUVENTUDE surge 5 vezes no manifesto do partido Frelimo.

 

MDM

 

54 páginas prefazem o manifesto do MDM, sendo que destas o assunto sobre a(s) juventude(s) surge na 46a página  (Título: Juventude, secção 4.11), na qual é referido que: “O MDM vê na Juventude a grande esperança de um Moçambique novo e para todos. A Juventude será o eixo inspirador e condutor da acção governativa do MDM. A Juventude será a prioridade do governo do MDM. Para o fortalecimento da juventude moçambicana, o MDM compromete-se, como sua grande prioridade para este grupo social, criar Postos de trabalho, Serviço de Acção Social Escolar e destinar parte do PIB para financiar o Programa Nacional de Habitação para a juventude. A participação e apropriação do processo do desenvolvimento por parte dos jovens vai merecer do Governo o maior empenho, como forma de reforçar e aprofundar a participação dos jovens e, como via privilegiada de assegurar patamares mais elevados de desenvolvimento económico e social”.

 

Para tal o governo do MDM irá ainda, entre outras coisas:

 

“Promover acções que estimulem o espírito empreendedor nos jovens de modo a envolverem-se activamente nos processos de desenvolvimento do país, adquirindo e aplicando habilidades que os tornem cidadãos produtivos e desenvolvam as capacidades de gestão e liderança; x Estimular através de uma educação sólida e continuada, o desenvolvimento de uma geração mais qualificada, melhor preparada, mais solidária e mais participativa; x Criar o Serviço de Acção Social Escolar em todas as Instituições Públicas e ou Privadas do Ensino Superior de modo a assegurar a igualdade de acesso ao Ensino superior por parte dos estudantes carenciados oferecendo maiores oportunidades de bolsas de Estudos; x Administrar durante o serviço militar cursos profissionalizantes nos ramos militares e outros de modo a conferir aos jovens um sentido de maior oportunidade e utilidade, tanto na iniciação de formação profissional como em apoios de natureza social e outros da sua vida particular; x Fortalecer a Juventude, implementando o Sistema Nacional de Políticas para a Juventude. Criando condições para uma maior autonomia e independência ideológica em estrito respeito e cumprimento da Constituição da República; Ampliar e consolidar as políticas de juventude, articulando em estrito cumprimento com o definido na Constituição da República;  Introduzir programas de divulgação da importância de se frequentar o ensino médio, técnico profissional e de artes e ofícios (...)”.

 

No manifesto do MDM, a palavra JUVENTUDE foi escrita 13 vezes.

 

RENAMO

 

São 44 páginas que compõem o manifesto do partido Renamo, e do mesmo a palavra JUVENTUDE foi escrita 4 vezes. Na página 23, (Título: A Juventude, secção 4.1.5), a Renamo diz que: “A intervenção das políticas públicas, no âmbito da juventude, deve ter como objectivos a promoção do emprego e a inclusão social dos jovens”.

 

Mais adiante, na página 24, o partido adianta que: “O Governo da RENAMO vai:

 

  •  Promover o acesso ao emprego.
  •  Instituir linhas de crédito de habitação bonificado para jovens ao primeiro emprego;
  •  Aprovar política de crédito favorável à aquisição ou construção de casa própria;
  •  Conceder bolsas de estudos por mérito a jovens”.

 

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O nosso comentário geral:

 

Colocados os três partidos, encontramos entre semelhanças, alguma ambiguidade do que chamamos no início deste comentário juventude(s) moçambicana(s). A forma como todos os partidos tratam os jovens – a partir de um conjunto com necessidades iguais – nos remete ao pensamento segundo o qual não há categorias sociais, culturais, políticas ou mesmo económicas do ser jovem em Moçambique, o que consideramos metologicamente errôneo.

 

Por um lado, dos documentos lidos apenas os partidos Frelimo e MDM apresentam a data de concepção ou aprovação dos respectivos manifestos políticos, sendo Julho para Frelimo e Maio para MDM.

 

Por outro lado, o elencar de problemas identificados por estes partidos como os que afligem os jovens, pode ser visto como uma estratégia que oculta, em grande medida, a potencialidade que se pretende encontrar nos jovens enquanto auto-didactas e donos do seu próprio caminho. Ou seja, os três manifestos são, na sua essência, um conjunto de soluções para problemas que consideram ser dos jovens, mesmo que em nenhum momento se explique como conseguiram determinar entre problema e não problema.

 

Contudo, notamos diferença no cuidado e uso dos termos para referir a intenção de cada partido, sendo que nesse quesito os partidos Frelimo e MDM surgem a usar de forma variada alguns termos que nos fazem entender que existe alguma intenção em colocar nos jovens a responsabilidade destes tomarem as rédeas do seu próprio desenvolvimento.

 

A Renamo apresenta, como vimos acima, quatro destaques nos quais vai intervir no tocante aos jovens, o que em comparação com os partidos Frelimo (oito promessas) e MDM (dezoito promessas) há uma larga diferença da quantidade textual e explicação das acções que se pretendem realizar, mesmo entendendo que a análise vai para além da quantidade das promessas.

 

Constatamos ainda que dos três partidos, apenas a Frelimo intercala as suas acções com fotografias, sendo que na secção da(s) juventude(s) fê-lo com uma foto que, pelo que se pode entender, representa duas jovens.

 

Mais ainda, entendemos que tornou-se recorrente a colocação do emprego e da habitação como centrais e necessários “problemas” a resolver quando se fala dos jovens. Talvez sim, mas talvez não. Aliás, não nos parece que estes dois elementos devam ser tratados de forma universal para a(s) juventude(s) em Moçambique. Não consideramos que esses sejam os “problemas primários” dos jovens em Moçambique, pois pensamos que não existe clareza na identificação de tais “problemas” numa dimensão de género, idade ou mesmo situação social.

 

Por fim, entendemos que continua polissémico caracterizar os jovens a partir de uma perspectiva biológica, ou por outra, faixa etária (18 aos 35 anos, por exemplo), sobretudo num contexto regional, continental ou mesmo mundial em que não existe consensos sobre a fórmula baseada na faixa etária.

 

*Os manifestos foram de acesso electrónico, sendo que copiamos taxactivamente o que cada partido político refere na secção sobre a(s) juventude(s), com excepção do partido do MDM que por opção tivemos que fazer um recorte na segunda página, dado o facto de se apresentar como demasiado extenso.

 

Ver os manifestos analisados em https://cipeleicoes.org/documentos/

sexta-feira, 20 setembro 2019 07:14

Somos puros moralistas convencionais

Se a violência, a chamada xenofobia, que está a acontecer na vizinha África do Sul - em que os donos da terra matam estrangeiros - é veementemente condenável, imagina, então, esta nossa "irmãofobia" - em que irmão mata irmão por causa da cor partidária! Se incendiar loja é um acto vil, imagina, então, casa - onde se vive... onde se dorme! 
 
 
O que vale a pena: matar por causa da fome ou matar por causa do partido? Alguma coisa vale a pena!? 
 
 
Não sei se temos alguma moral de condenarmos a xenofobia. Se temos, não sei até que nível. Tudo o que se pode dizer é que a nossa indignação é convencional. Indignação de ocasião. As vezes para inglês ver. 
 
 
Enquanto tentamos entender os incêndios de Cabo Delgado, vêm os de Quelimane, os de Gaza, os de Manica, os de Sofala, os de Tete, os de Nampula, os de etecetera. Enquanto apelidamos uns de insurgentes ou Al-Shabab, outros são simpatizantes ou militantes. Então, "vale a pena" os vizinhos que são xenófobos. 
 
 
Existe alguma explicação para isso!? Até parece que o tal dia 15 de Outubro é último dia das nossas vidas. Esquecemo-nos que depois virão outros quinzes de outros Outubros e outros de não-de-Outubros. Esquecemo-nos que virão outros quinzes de outros Outubros, dias de aniversário da mana Veró, do tio Sualei, da cunha Lili, da vó Saquina, do vizinho Amisse, que pereceram nas sinzas das suas habitações de pau-à-pique algures. Esquecemo-nos que virá o 16 de Outubro, o dia em que todos vamos celebrar o embarque do Chang. Todos abraçados como irmãos porque o Chang é de todos nós. 
 
 
Não sei se ainda temos moral suficiente para nos indignarmos, ou nos indignamos a toa. 
 
 
- Co'licença!
quarta-feira, 18 setembro 2019 06:23

Roubar em inglês

Agora já estou a ficar muito preocupado com a qualidade dos nossos gatunos. Parece que não sabem roubar quando estão a nos representar no estrangeiro. Pode ser impressão minha, mas parece que os gatunos que enviamos como diplomatas não sabem roubar em inglês. 

 

Está provado que fora do país os nossos gatunos não roubam bem. Temos gatunos condenados por terem surrupiado oito milhões de meticais. Ahhhhh!!! Kê-kê-isso?! Mas você ir à Rússia para roubar oito paus mesmo!? Hummmmm!!! Precisa viajar para conseguir isso!? Precisa sentir tanto frio para ter isso na conta!? Aquela dos Estados Unidos só encaixou 440 mil euros e foi presa. Isso é quanto alguns concidadãos conseguiram só por serem amigos dos gatunos. 

 

Excelências, estão-anús-envergonhar. Parem com isso! Malta Chang encaixaram milhões de dólares andando nestas avenidas e respirando o mesmo ar que nós. Malta Cetina também. 

 

Organizem-se, Excelências! Ir ao estrangeiro para roubar meia-dúzia de milhões de Meticais num quinquénio é manchar o nome do país. Não é isso que ensinamos. Isso põe em causa a nossa imagem e podemos cair no "ranking". O país não pode investir e depositar a sua confiança em alguém que não tem competência para roubar moçambicanamente. Xê!!! Até o puto Nhangus, que nem é diplomata, nos representaria melhor no estrangeiro. Até uma secretária particular mostrou competência. 

 

Definitivamente, para os nossos gatunos, no estrangeiro não é para roubar, é só para ser preso. Não está a ser fácil roubar em inglês. Um curso de inglês para diplomatas-gatunos é urgente. Deve-se ensinar como se faz "vai um" em inglês. Não basta saber "gudi-moning", "hau-are-yu" e "ai-emi-faini", tem que saber também "it-iz-goingui-uani-in-mai-poket" (para quem não sabia, é assim que se diz 'vai um' em inglês). 

 

Urge purificar as fileiras. Não podemos continuar com gatunos burros na nossa diplomacia. Um embaixador que não sabe subtrair no idioma do país em que vive não val'apena. O embaixador é o nosso legítimo representante no estrangeiro e tem que zelar pelo bom nome do país. As suas acções são patrioticamente representativas. Um diplomata que se preze sabe roubar em inglês. 

 

- Co'licença!

terça-feira, 17 setembro 2019 10:05

Carta ao Presidente Ciryl Ramaphosa

Desculpa, senhor Presidente, mas foi você mesmo que acendeu o rastilho desta dinamite estúpida. Lembra-se? Esqueceu? Agora como é que vem, em pleno Estádio Nacional de Rufaro, perante os holofotes do mundo, pronunciar aquelas palavras sem sentido? Opacas. Você tomou uma atitude  retrógrada, senhor Presidente!  Você me fez lembrar Tchaka Zulu, que por tudo e por nada, mandava matar, mu bulaleni (matem-no).

 

A sua posição, meu caro Presidente, é de um primitivo. Porque uma pessoa que incita à violência e à morte de outros seres humanos, e fica insensível perante o sangue que jorra dos corpos desses seres, no mínimo é  irracional. E você, senhor Presidente, prometeu, durante a campanha eleitoral, que ira correr com os estrangeiros da África do Sul.

 

Os seus compatriotas pilharam, destruiram e mataram em nome do Presidente da África do Sul. E o Presidente é você, senhor Ramaphosa, que autorizou implicitamente aquilo tudo. O seu comandante-supremo da Polícia dançou a música que você tocou, ou mandou tocar. Os agentes policiais também, participaram como actores de primeira linha na execução da sinfonia animalesca daquela semana. E depois da tragédia lá vem você, senhor Presidente, pedir-nos desculpas, lembrando-nos um tirano daqui da nossa zona, que mandava matar um companheiro de luta, e depois ia fazer ele próprio o elogio fúnebre exaltando os feitos patrióticos do finado. Veja só!

 

Se a África do Sul tem problemas, senhor Presidente, o culpado do vosso declínio não somos nós. Você sabe muito bem aonde é que está o busilis da questão. E saiba mais, os tempos de ouro nunca voltarão usando gasolina para incendiar nossos corpos, provocando a risada dos crueis polícias sob sua égide como comandante-chefe. Não é esse o caminho. Não são as facadas que nos decapitam, nem as pauladas por sobre as nossas cabeças que vão trazer a prosperidade para os sul-africanos. Não é toda essa selvajaria. Esse primitivismo.

 

Senhor Presidente, se você quer, na verdade, uma África so Sul que caminhe à luz do arco-iris, guie-se pela sensatez. Respeite sobretudo a vida do seu próximo. E  mais, esse grande país nunca vai crescer sozinho. Aliás, uma boa parte da economia sul-africana foi sempre movida por estrangeiros, por moçambicanos como eu, trabalhando nas minas de onde voltaram doentes para morrer aqui no nosso solo-pátrio. Muito outros morreram aí mesmo, erguendo o grande edifício que acolhe a você, senhor Presidente e a todos os seus compatriotas.

 

Eu tenho muito respeito por si, como símbolo da Nação, mas deixei de me simpatizar consigo como pessoa, a partir do dia em que incitou à violência, prometendo expulsar as pessoas que não são daí. Ora essa! Vista outra roupa, meu caro Presidente. Roupa nova, e venha nos mostrar que está, daqui em diante, depois das desculpas que pediu em Harare,  comprometido com uma África do Sul não vingativa contra estrangeiros. Porque até prova em contrário, você, senhor Presidente, está no mesmo saco dos vingativos. A sua atitude mancha a África inteira.

 

Senhor Presidente, não se esqueça que você é uma pessoa vulgar. O que está a acontecer é que está investido de poderes invulgares. Mas esse escafandro não é eterno. O seu madato vai terminar depois de alguns anos. E eu não acredito que gostaria de sair e deixar uma África do Sul mais manchada de sangue do que já está. Você é uma pessoa capaz de se mudar a si mesmo, senhor Presidente, e se fizer isso, toda a África do Sul vai lhe seguir e toda a África vai-lhe agradecer.

 

Por enquanto estarei aqui, deste lado, agora mais do que nunca, aconchegando a lenha na fervura da esperança.

segunda-feira, 16 setembro 2019 08:02

Maximizar o acordo de paz

Bayano Valy

O país testemunhou recentemente a assinatura de mais um acordo de paz entre o governo e a Renamo, numa cerimónia com toda a pompa e circunstância. Não era para menos: alguns chefes de estado africanos (antigos e actuais) estiveram presentes, altos dignatários, membros do clergo, entre outros.

 

Os textos das declarações dos principais assinantes e compromisso com a paz soavam como se escritos pelo mesmo grupo de conselheiros. Enfim... ironicamente ninguém parece ter notado que mais ao norte da Praça da Paz, há uma insurgência cujas dispersão geográfica e frequência crescem a olhos vivos. E a tinta ainda nem havia secado do papel quando um grupo dissidente da Renamo, um dos signatários, distanciou-se do acordo, ameaçando voltar às matas.

 

segunda-feira, 16 setembro 2019 06:45

O Futebol Sou Eu

Nos idos e revolucionários anos oitenta e bem antes de eu ouvir falar da figura de agente de jogadores (de futebol) conheci um na escola primária de nome Artur Roubão. O sobrenome sobrevinha das suas exímias qualidades de subtracção de bens alheios. Ele era o mais velho da turma e fazia valer o posto a quem ousasse contrariá-lo ou que o troçasse por uma “gafe” fora ou na aula. Algumas vezes o professor condicionava a saída da turma à uma resposta correcta do Artur Roubão. Debalde. E sempre que chamado a responder olhava de esguelha à caça de quem se atrevesse a zombar das suas debilidades.
 
 
O Artur Roubão era praticamente o “dono” da equipe de futebol de uma das turmas da segunda classe formada por um quinteto (Nando, Messias, Abdul, Abreu e Nicolau) que impunha respeito nos jogos inter-turmas. Um outro colega (Nené) era o responsável pela torcida feminina e assessor desportivo das funções de dirigente do Artur Roubão. Na confusão infantil das escaramuças diárias quer as dos jogos, quer as do fecho das aulas o quinteto e todo o corpo técnico e logístico estavam sob protecção do também treinador, o temido Artur Roubão. 
 
 
A sua costela de agente de jogadores adveio do facto de ter reprovado e o quinteto transitado de classe o que implicava que os últimos jogariam pela nova turma da terceira classe. Mas assim não foi porque o Artur Roubão alegara que detinha os direitos dos jogadores do quinteto. E estes continuaram a jogar na equipe da segunda classe. Fora e mais o agenciamento de jogadores o Artur Roubão ainda actuava como federação (organização dos jogos) e tribunal desportivo. Nas repreensões de justiceiro recorria à pancada e, no limite, erradicava o visado da prática desportiva no recinto escolar e espaços adjacentes. 
 
 
Assim aconteceu até ao dia em que o Artur Roubão rescindiu unilateralmente a sua ligação com a escola e automaticamente o contracto colectivo que o vinculava ao quinteto. De certeza que nos tempos que correm o Artur Roubão seria um respeitado Agente-FIFA e de alto gabarito internacional. 
 
 
A única vez em que a turma (turno da tarde) esteve de castigo e o Artur Roubão não teve nada a ver foi numa sexta-feira. Esse dia a pena (cárcere privado) durou até a hora do jantar e foi sustada graças a intervenção dos pais. O famoso e sonoro “ADEUS SENHOR PROFESSOR E ATÉ NA SEGUNDA SE DEUS QUISER” foi o dito crime que levara o professor a encarcerar a turma de petizes. Estes não sabiam que por essa altura histórica o todo-poderoso (DEUS) estava suspenso/banido da terra da Pérola do Índico. 
 
 
Desses áureos tempos da revolução socialista não tenho memória oficial de um agente de jogadores ao estilo capitalista como existe e pululam actualmente. Contudo, fica a indelével memória do Modus Operandi do multifacetado Artur Roubão que era bem ao estilo da época e à luz do não menos famoso monarca francês, Luís XIV: O ESTADO SOU EU!