Esmeralda Mendonça, secretária de Estado para as Relações Exteriores de Angola, disse que o seu país tem militares integrados na força conjunta da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, que luta contra o terrorismo em Cabo Delgado, acrescentando que Luanda “estará sempre com e ao lado de Moçambique, naquilo que for necessário”.
“Nós demonstramos o nosso total apoio, tanto é que temos as nossas forças em Cabo Delgado para formação dos militares. Então, nós estamos sempre dispostos para apoiar os nossos irmãos de Moçambique”, reforçou a diplomata angolana, falando à margem da cimeira da União Africana, realizada sábado (05) e domingo (06) em Adis-Abeba, capital da Etiópia.
Governo angolano propõe conferência africana para discutir terrorismo e golpes de Estado
Durante a cimeira, o Governo de Angola defendeu a realização de uma cimeira extraordinária para discutir o problema do terrorismo em África, provavelmente em Maio, aquando realização da Cimeira Humanitária da União Africana e a Conferência dos Doadores, previstas para a capital da Guiné Equatorial, Malabo.
A proposta apresentada por Luanda durante a cimeira da União Africana (UA), na capital etíope, quer também que, nessa conferência, se discuta igualmente o problema dos golpes de Estado.
Os líderes africanos queixaram-se da 'onda de golpes' no continente
O mais recente foi em Burkina Faso há duas semanas. Os líderes africanos queixaram-se durante a cimeira continental da "onda" de golpes, após cinco golpes militares no ano passado. O número de golpes em África vinha caindo, com a proliferação de eleições e transferências pacíficas de poder.
Dois dos países onde o exército tomou o poder recentemente - Burkina Faso e Mali - lutam para conter as insurgências islâmicas. Na semana passada, houve uma tentativa de golpe na Guiné-Bissau, que o presidente atribuiu às quadrilhas do narcotráfico. O país fica num importante ponto de trânsito entre os países produtores de cocaína da América Latina e os mercados da Europa.
Na semana passada, o presidente do Gana, Nana Akufo-Addo, disse que o golpe no Mali foi "contagioso", encorajando oficiais militares nos países vizinhos da África Ocidental, Guiné e Burkina Faso, a seguirem o exemplo.
Embora os golpes na África Ocidental tenham sido bem recebidos por muitas pessoas nesses países, a tomada do poder militar no Sudão em Outubro de 2021 levou a inúmeros protestos de rua exigindo o retorno do governo civil. Estes foram recebidos com força implacável, em que dezenas de manifestantes foram mortos.
Todos os líderes africanos na cimeira realizada na capital etíope, Adis Abeba, "condenaram inequivocamente a onda de mudanças inconstitucionais de governo", disse o chefe do Conselho de Paz e Segurança da UA, Bankole Adeoye, acrescentando que os governos militares não serão tolerados.
Após os golpes militares, Burkina Faso, Guiné, Mali e Sudão foram todos suspensos da União Africana. Adeoye disse que esta foi a primeira vez que tal acção foi tomada contra tantos países num período de 12 meses.
No entanto, alguns acusaram a UA de padrões duplos ao não suspender o vizinho do Sudão, o Chade, depois que o exército interveio quando o presidente Idriss Déby foi morto durante uma batalha com rebeldes em Abril passado. Seu filho, Mahamat, foi nomeado o novo líder do país por um conselho militar.
Muitos países africanos sofreram golpes após a independência nas décadas de 1960 e 1970, mas houve um declínio acentuado desde a década de 1990. As duas primeiras décadas deste século viram oito golpes militares cada, mas já houve seis desde 2020.(Carta)