Um estudo efectuado pela Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) em parceria com a Escola de Higiene e Medicina Tropical da Universidade de Londres (LSHTM) encontrou indícios de Violência Baseada no Género (VBG) entre pessoas deslocadas, que fugiram dos ataques terroristas na província de Cabo Delgado.
O estudo, apresentado esta quarta-feira na cidade de Pemba, capital provincial de Cabo Delgado, foi conduzido entre os meses de Julho a Setembro de 2021, tendo constatado que as comunidades deslocadas enfrentam riscos crescentes de VBG em Centros de Acolhimento de Deslocados e nas comunidades de acolhimento onde procuram segurança.
De acordo com a nota de imprensa enviada pelo ACNUR, o estudo revela que as mulheres e raparigas, assim como homens e rapazes, estão expostos à violência física, sexual e ao assédio de grupos armados.
Segundo aquela agência das Nações Unidas, o estudo defende que mulheres e raparigas sentem frequentemente receio de reportar incidentes de violência, devido a ameaças pessoais ou às suas famílias.
“Em certos casos, estas ameaças são feitas pelos próprios cônjuges/parceiros. Os investigadores receberam relatos de pessoas deslocadas internas de que alguns perpetradores da exploração sexual ameaçam excluir os nomes de mulheres e raparigas das listas de distribuição de assistência humanitária, incluindo apoio em alimentos ou outras formas de assistência, caso estas reportem os incidentes”, revela a fonte.
“Um entrevistado partilhou com os investigadores o caso de um líder comunitário que abusou sexualmente de uma mulher deslocada e pressionou o seu senhorio a ameaçá-la com possível despejo, caso esta não retirasse a queixa apresentada na polícia”, acrescenta.
O ACNUR garante que os seus investigadores e os da LSHTM recolheram depoimentos de membros das comunidades de deslocados e de acolhimento, incluindo de “activistas comunitários” (voluntários), e provedores de serviços de VBG (saúde, gestão de casos, apoio psicossocial e jurídico), através de discussões presenciais em grupo e entrevistas individuais.
A agência das Nações Unidas refere que a falta de documentos de identificação civil também expõe os deslocados à violência física e sexual de agentes armados, assim como limita a sua liberdade de movimento e impede o acesso a serviços básicos de saúde e educação. (Carta)