“Temos situações gravíssimas de desvio comportamental no nosso seio. Em alguns círculos, somos tidos como actores do crime, nós que juramos combater o crime. Infelizmente, temos no nosso seio colegas que o seu dia-a-dia (…) praticam acções reprováveis”, assim começava Domingos Jofane, Director-Geral do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), numa reunião que teve lugar, há dias, na Academia de Ciências Policiais (ACIPOL), no distrito de Marracuene, província de Maputo.
Jofane disse: “alguns, quando correm para uma informação operativa, não fazem para combater o crime, fazem num contexto para substituir os criminosos. Fazem apreensão de drogas e eles próprios vão vender a droga. É possível isso, numa organização como esta nossa? Que o legislador e a direcção do Estado deste país entenderam dar autonomia em função das responsabilidades que cabem a este órgão (…) e este órgão simplesmente desvia-se do seu rumo”.
Prosseguindo, o Director-Geral do SERNIC disse que, hoje, para actuarem, os bandidos fazem sob protecção de colegas nossos. “Nossos colegas vigiam os nossos movimentos para facilitar a ocorrência de casos criminais (…), mas nós assistimos isso (…) até batemos palmas. Desde quando um criminoso é esperto? Ou seja, quando é nosso colega, já não é criminoso, é esperto?”, questionou Jofane, tendo depois dito que não existe ninguém acima da Lei.
Acrescentando, Domingos Jofane criticou o facto de alguns agentes aproveitarem-se dos cargos de nomeação para envolverem-se com o mundo do crime organizado e, consequentemente, enriquecerem ilicitamente. “Hoje em dia temos raptos. Alguns destes raptos envolvem os nossos colegas. Eles dão cobertura aos raptores. Com instrumentos que o Estado nos dá, alguns usam para facilitar os raptores, porque depois do pagamento do resgate, eles terão a sua parte, ou seja, recebem valores oriundos do sofrimento de famílias e pessoas que devemos defender”, atacou Jofane.
No encontro em que se debateu a vida interna do SERNIC, Domingos Jofane disse que devem acabar estas práticas de corrupção, na instituição, de envolvimento nos raptos e no crime organizado. Garantiu que já não vai tolerar situações de género. (O.O.)