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terça-feira, 14 janeiro 2020 03:48

Renamo diz que tomou posse por “valorizar as sobras deixadas pelos ladrões”

Decorreu ontem a cerimónia de investidura dos 250 deputados eleitos a 15 de Outubro de 2019. O evento foi dirigido pelo Chefe de Estado, Filipe Jacinto Nyusi, e contou com a presença de 246 deputados, sendo 180 da Frelimo, 60 da Renamo e seis do Movimento Democrático de Moçambique (MDM).

 

Uma vez que até há dias existia um certo “suspense” em volta da tomada de posse do maior partido na oposição, eis que estes se fizeram presentes na cerimónia de investidura. Em entrevista à “Carta”, tanto José Manteigas, Porta-voz da Renamo, António Muchanga e Ivone Soares, todos deputados nesta legislatura que iniciou, foram unânimes em afirmar que foram tomar posse porque valorizam o voto da população e que tudo farão para que o mesmo seja respeitado.

 

Para José Manteigas, “a nossa primeira função é representar os cerca de 28 milhões de moçambicanos na casa do povo”. Manteigas disse que os seus pares irão fiscalizar devidamente o Governo neste quinquénio que começa. Questionado pela “Carta” sobre qual seria a estratégia da Renamo nesta legislatura, face à maioria da Frelimo, o nosso interlocutor disse que as estratégias serão implementadas em função dos casos e que, neste momento, não poderia adiantar nada.

 

Segundo António Muchanga, a Renamo vai representar com dignidade o povo moçambicano, “o povo moçambicano está consciente do que aconteceu. O que aconteceu é que houve roubo, que qualquer um está sujeito”. Usando uma metáfora, Muchanga disse: “se na tua casa aparece um ladrão e descobre teu cofre, rouba 15 milhões, e depois a correr deixa cair cinco, você abandona os 5 milhões porque roubaram a maioria?”. António Muchanga afirmou que as “sobras são de representação do povo moçambicano e por isso temos de dignificar este povo que votou em nós”. Para o deputado, a Renamo vai “representar o povo moçambicano com dignidade e respeito, fiscalizar o governo do dia e denunciar as manobras dilatórias que põem em causa o bem-estar do povo moçambicano”.

 

Enquanto isso, Ivone Soares, também deputada da Renamo, disse que espera não defraudar as expectativas dos moçambicanos que esperam ser muito bem representados. Para tal, disse, a Renamo irá fiscalizar o governo declarado vencedor e discutir questões que mexem com a população, como os salários que são discutidos sempre no primeiro semestre de cada ano.

 

Soares disse ainda que a pressão que a sua bancada vai fazer será para que o governo eleito possa cumprir com os planos de governação, garantindo condições de vida para os moçambicanos, como por exemplo na questão da electricidade que, embora seja produzida em Moçambique, não chega a todos os cantos do país, falta de água potável para as comunidades, falta de meios para escoar os produtos agrícolas, entre outros problemas.

 

Ivone Soares disse que a expectativa da Renamo era de ter maioria para que pudesse aprovar leis que iriam beneficiar os moçambicanos. “Nós vimos o que foram as eleições que acabaram de acontecer, e depois os resultados foram validados pelo Conselho Constitucional (CC) apesar do nosso partido não reconhecer. No entanto, apesar de termos sobrado poucos, o que temos de fazer é garantir que tenhamos muita qualidade”, defendeu a Deputada.

 

Respondendo uma questão feita pela imprensa, sobre porque decidiram tomar posse, embora não reconhecendo os resultados eleitorais, a deputada voltou a socorrer-se da mesma metáfora usada pelo colega: “se alguém assalta a nossa casa, nós não vamos dizer que o bandido fica com tudo, fica com tudo para si… A postura da Renamo é de proteger aquilo que sobrou. E como os moçambicanos quiseram que a Renamo estivesse aqui representada, e nós somos esta sobra, temos que garantir intervenções com a qualidade que os moçambicanos merecem, e não estarmos a discutir pessoas, mas sim políticas que possam melhorar a qualidade de vida dos moçambicanos”, finalizou. (O.O.)

 

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