Alunos do Instituto Comercial Mártires de Wiriyamu, na cidade de Tete, denunciam casos de cobranças ilícitas perpetradas por vários professores daquela instituição de ensino. O caso mais “particularizado” foi o de um professor de Matemática, de nome Manuel de Jesus Cangolongondo.
Durante o ano 2018, segundo alunos do curso de Contabilidade daquele instituto, cinco estudantes foram reprovados por não terem dinheiro para pagar o referido docente e por essa razão vão ter de ficar dois anos sem estudar porque se tratava de uma segunda reprovação, na mesma disciplina de Matemática.
No Instituto Wiriyamu, os professores têm a fama de não permitir que os alunos passem sem pagar algum valor. Lê-se numa das mensagens a que tivemos acesso, que um dos alunos efectuou um pagamento de 500 Meticais via M-pesa para o professor de Contabilidade, Horácio António, para este permitir a sua passagem de classe. Numa outra mensagem, o professor Ernesto Massuk (já falecido) chama uma das suas alunas de “cacata” porque a mesma estava a demorar enviar-lhe o valor.
Elicha Inácio João, um dos lesados que reprovou por ter-se recusado a pagar, conta que o professor de Matemática, Manuel de Jesus Cangolongondo, é famoso por prática de corrupção na referida escola, mas que, entretanto, continua a dar aulas e ainda se “gaba” de ser intocável.
Das tramoias do professor Cangolongondo, que os alunos relatam, encontra-se a mais crítica que foi de uma aluna de nome Crescência Zacarias que anulou a matrícula no princípio de 2018 por conta de uma gravidez e no final de ano na pauta de matemática, a referida tinha sido dispensada do exame.
Entretanto, Crescência Zacarias foi contactada pela “Carta” e explicou: “em 2017, o professor de Matemática disse que eu tinha de pagar um valor alto para passar e eu não consegui pagar todo, então, quando fiz o exame reprovei, no ano seguinte, em 2018, fiz a matrícula, mas porque pouco tempo depois tive bebé, fui obrigada a trancar a matrícula. Entretanto, no final de ano fiquei assustada quando meus colegas me ligaram dizendo que eu dispensara na cadeira de matemática sem ir à escola”, explicou.
Outro aluno, Hélder (não identificou o último nome) contou que pagou um valor muito baixo ao professor de Matemática para passar de classe porque não podia correr o risco de ficar naquela escola só por causa de uma disciplina.
“Paguei sim, não posso dizer quanto, mas foi muito pouco porque nesta escola mesmo você sendo inteligente, por causa desta disciplina você fica e este professor faz essas cobranças já há bastante tempo e não seremos nós quem vai acabar com a corrupção neste país”, narrou.
De acordo com o professor Manuel de Jesus Cangolongondo, em entrevista à “Carta”, os referidos alunos estão a mentir e a tentar denegrir a sua imagem. Os alunos já foram à Direcção Provincial, meteram o caso na Procuradoria Provincial e o mesmo nunca teve pernas para andar porque apurou-se que “era inocente”, razão pela qual continua a dar aulas naquela instituição.
Entretanto, sobre os valores que os alunos afirmam ter pago, Jesus Cangolongondo afirmou nunca ter recebido uma moeda dos seus estudantes.
“Estes alunos são indisciplinados e não são inteligentes, só queriam usar essa forma para ver se ameaçavam o professor para dar notas à força, mas eu continuo a trabalhar normalmente porque estas acusações não são verdadeiras. O maior problema é que os alunos não querem cumprir o artigo que diz, quem chumba duas vezes numa disciplina tem de ficar dois anos sem estudar, por isso eles têm raiva de mim”, afirmou.
Sobre o caso da aluna que dispensou sem ter assistido às aulas, o professor explica que foi uma falha do director de turma.
“O que aconteceu é que numa das turmas dos meus colegas onde eu estava a dar aulas de Matemática, durante o conselho de notas, que se fez na minha ausência, os meus colegas acabaram lançando notas no nome de uma aluna que já não estudava, mas esse problema foi resolvido e fez-se uma nova pauta”.
Já o professor Horácio António disse não ter nada a declarar e que qualquer esclarecimento sobre o caso, devíamos contactar a direcção do Instituto.
Por seu turno, o Director do Instituto Comercial, Filipe Diruai, disse que a instituição já trabalhou com este caso “até à exaustão”, que já foram à Procuradoria e que “o processo está a andar em outras instâncias”. (Marta Afonso)