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segunda-feira, 09 dezembro 2019 06:37

Chuvas intensas na Beira lembram o “pesadelo” de um passado recente

A chuva intensa que se abateu sobre a Beira, centro de Moçambique, trouxe para Rabeca Mussece lembranças do pesadelo de um passado recente de destruição, tendo sido obrigada novamente a procurar refúgio num centro de acolhimento após inundações na sua casa.

 

“Voltei a ser obrigada a deixar a minha casa e fugir para um centro de acomodação devido à chuva, tal como em Março. Perdi o pouco que estava a tentar reorganizar”, lamenta à Lusa Rabeca Mussece, 33 anos, com o filho ao colo, sentada num dos bancos da Escola Secundária de Matadouro, no bairro da Manga, cidade da Beira.

 

Tal como Rabeca Mussece, um total de 110 pessoas foram obrigadas a procurar refúgio naquela escola após chuva intensa, de quarta-feira e quinta-feira, nalguns distritos da província de Sofala, incluindo a cidade da Beira.

 

Estas regiões tentam reerguer-se após a passagem do ciclone Idai, que matou cerca 604 pessoas no centro do país e afectou 1,5 milhão, destruindo diversas infra-estruturas. As chuvas começaram na madrugada de quarta-feira, anunciando a época chuvosa que o país agora atravessa e que só termina em Abril.

 

"Só na madrugada de quarta-feira a quantidade de chuva que caiu foi a que nós estávamos a prever para os próximos 15 dias deste mês. Foi muita chuva e vamos continuar a monitorar até que as baixas pressões passem ao nível desta região", disse à Lusa Jamal Alfat, delegado do Instituto Nacional de Meteorologia em Sofala.

 

Além da cidade da Beira, a chuva inundou residências nos distritos de Marromeu, Cheringoma, Caia, Muanza, Dondo, Búzi, Nhamatanda, Marínguè, Gorongosa, destruindo infra-estruturas e deixando um total de cinco mil pessoas vulneráveis.

 

Hoje, para os que se refugiaram nos centros de acomodação, os problemas parecem ser os mesmos de há nove meses.

 

“Pedimos água, mantas e redes mosquiteiras, pois, muitos de nós perdemos quase tudo com a chuva de quarta-feira”, lamentou Rabeca Mussece.

 

Não muito longe da Escola Secundária de Matadouro, o bairro periférico Ndunda é um retrato fiel do impacto das chuvas, com várias casas submersas e crianças a transformarem os charcos em lagoas, num evidente perigo para a saúde pública.

 

"Há pessoas a beberem água retirada dos charcos”, alerta Afonso Luis Neves, um dos poucos residentes do bairro que teve a coragem de permanecer no local, embora, por vezes, temesse que chuva tivesse o impacto do Idai.

 

"Não sabíamos muito bem o que estava a acontecer na madrugada de quarta-feira. Mas decidi ficar, não dá para perder tudo novamente como aconteceu no Idai”, acrescenta Afonso Luís Neves.

 

O Hospital Central da Beira espalhou brigadas pelas ruas da cidade da beira para evitar surtos e outras doenças associadas às chuvas.

 

“Até ao momento não temos qualquer caso de diarreia relacionado com o evento que estamos a passar, mas estamos prontos para responder, disse a directora clínica do HCB, Ana Tambo.

 

Apesar de ter abrandado nos últimos dois dias, as previsões apontam para chuva na Beira nos próximos dias.

 

O ciclone Idai afectou cerca de 1,5 milhão de pessoas no centro do país.

 

Pouco tempo depois, em Abril, o norte do país foi afectado por outro ciclone, o Kenneth, que causou a morte de 45 pessoas e afectou 250 mil. Entre os meses de Novembro e Abril, Moçambique é ciclicamente atingido por ventos ciclónicos oriundos do Índico e por cheias com origem nas bacias hidrográficas da África Austral. (Lusa)

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