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segunda-feira, 23 setembro 2019 06:17

Exploração de madeira: Comunidades de Mecubúri e Murrupula acusam Green Resources Moçambique de “burla”

É uma situação que, sempre que é abordada, leva as comunidades de Mecubúri e Murrupula a lágrimas e raiva, criando “má disposição” nas instituições governamentais a nível distrital, provincial e central. É que as promessas de uma multinacional de origem norueguesa, denominada Green Resources Moçambique que, em 2011, começou um projecto de plantio de eucaliptos nos distritos de Ribáuè, Mecubúri, Murrupula, Eráti e o recém-criado distrito de Nampula-Rapale, de mudar a vida daquelas comunidades nunca mais passaram do discurso para a realidade.

 

São 126 mil hectares que as populações daqueles distritos cederam ao projecto de plantio de mais de sete milhões de mudas das variedades “eurograndis e europhila”, importadas do Brasil e Zimbabwe, num investimento estimado em 1.8 bilião de USD e uma produção anual de 52 mil/m³ de madeira e outros derivados florestais.

 

No entanto, para a materialização do empreendimento, a Green Resources Moçambique negociava a cedência de espaço com as comunidades, em troca de indemnizações que variam entre 300 mil a 600 mil Mts, dependendo das dimensões do espaço. Também prometeu pagar 1 Metical por cada estaca de eucalipto plantada aos que aderissem ao projecto.

 

Entretanto, segundo contaram-nos as comunidades residentes nos cinco distritos que também integram o Corredor de Nacala, as promessas daquela multinacional nunca passaram do discurso, acusando-a de “burla”. De acordo com as comunidades, a empresa norueguesa não pagou nem a indemnização e, muito menos, o valor referente ao plantio das mudas.

 

Duas fontes do Governo a nível dos distritos que falaram à nossa reportagem, na condição de anonimato, disseram-nos que a situação já levou a várias reuniões entre as partes, mas nunca houve avanço e sempre que o Governador de Nampula, Victor Borges, o Director Provincial da Terra, Ambiente e Desenvolvimento de Nampula, Francisco Sambo, e o colectivo dos Serviços Florestais e Agricultura se reúnem com as comunidades visadas e a Direcção da Green Resource Moçambique, nunca chegam a consenso, ficando tudo em promessas.

 

Em Mecubúri, por exemplo, as comunidades visitadas pela “Carta” dizem não querer saber mais da empresa, porque esta destruiu os seus campos de produção e espaços que tinham projectos de habitação.

 

Segundo apurámos, várias organizações da sociedade civil, como a Justiça Ambiental, Livaningo, União Nacional dos Camponeses vêm lutando para reverter a situação, desde 2016, mas sem sucesso porque, de acordo com as fontes, Green Resource Moçambique encontra-se a enfrentar uma crise financeira.

 

A Green Resource Moçambique faz parte do Grupo Green Resource, SA, um grupo criado em 1995, e que é considerada a maior empresa de desenvolvimento florestal em África, possuindo 38 mil hectares de floresta em pé, em Moçambique, Tanzânia e Uganda. No entanto, segundo o Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM), em todos os países onde actua, a Green Resource é conhecida como “rainha em falsas promessas”, pelo que as comunidades da província de Nampula não são as únicas a viver a situação.

 

Face às reclamações das comunidades, “Carta” procurou ouvir a versão dos representantes da empresa, em Moçambique, mas sem sucesso. Vasco Martinho, técnico dos Serviços Distritais de Actividades Económicas (SDAE) de Mecubúri, o projecto foi a maior decepção dos governantes locais, tendo “azedado” as relações entre as organizações da sociedade civil, Governo e as comunidades locais. (Omardine Omar)

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