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segunda-feira, 26 novembro 2018 03:00

Populares perseguem atacantes de Squaia, em Nangade, e capturam 7 jovens

Sete jovens foram ontem detidos por populares nas proximidades da aldeia de Squaia, na localidade de Litingina, no distrito de Nangade em Cabo Delgado. Squaia sofreu um violento ataque de alegados “extremistas islâmicos” na passada quinta-feira à noite. Dezenas de jovens armados maioritariamente com facas e catanas irromperam aldeia dentro depois das 22 horas. Os residentes já se tinham recolhido aos aposentos. Os atacantes chegaram  ao local e desataram a bater cada porta. Quem ousasse abrir era logo abatido. Esfaqueado. Relatos colhidos por “Carta” apontam para 12 mortes e dezenas de feridos. Mas quem não abrisse a porta via sua barraca incendiada imediatamente.

 

Contam-se 40 casas incendiadas, gente carbonizada e famílias ao relento. Depois do ataque, que apanhou desprevenidos os residentes e as unidades do exército que patrulham lugares vulneráveis em Palma, Meluco, Macomia e Nangade. Populares decidiram partir para uma perseguição nas matas, culminando com a captura dos 7 rapazes. Segundo “Carta” apurou, entre os capturados consta um indivíduo que terá morto um seu irmão, um agente económico local e um seu tio, de quem ter-se-á apoderado de bens e uma soma não quantificada em dinheiro.

 

Uma fonte local assegura que os bens e o dinheiro roubados foram encontrados na posse do homem detido. Este é o terceiro ataque ocorrido no distrito de Nangade, desde que os alegados insurgentes iniciaram suas incursões em Cabo Delgado o ano passado.

 

O cenário na região é dramático, diz uma fonte integrante de um dos governos dos distritos afetados. Mas há também uma clara orientação, não se sabe de quem, para que os incidentes não sejam amplamente divulgados pela comunicação social. A população vive em pânico, entre um profundo sentimento de falta de proteção e o voluntarismo para a autodefesa e perseguição dos insurretos, se for o caso. Em Pundanhar, a 60 kms de Palma, no início de Outubro deu-se o roubo massivo de mandioca numa machamba. 200 Kg foram surripiados. O “modus operandis” suscitou a suspeita de que os autores do roubo tinham sido alguns representantes dos insurgentes. Populares foram ao encalce e prenderam 3 rapazes, que alegadamente confessaram ser integrantes dos que desafiam com violência o Estado em Moçambique. Eles foram entregues à Policia, tal como os detidos de ontem em Squaia.

 

Nangade dista 100 kms de Palma, o centro das atividades da indústria extrativa em Cabo Delgado, onde trabalham milhares de estrangeiros nas operações da ENI, Anadarko e Exxon Mobile. Palma ainda não foi alvo de ataques. O centro das operações de patrulha do exército está localizado neste distrito. A partir dali tem havido patrulhas constantes e investidas na mata para a caça ao homem mas sem um efeito dissuasor efetivo. Os insurgentes, explicou uma fonte, melhoraram seus sistemas de informação, que lhes permite detetar a presença do exército numa dada localidade, indo atacar onde menos se espera. Suspeita-se que os insurgentes tenham informadores entre a população. Um oficial do governo distrital de Palma disse-nos que há cada vez mais adolescentes envolvidos nos ataques. Em Setembro, num grupo de insurgentes detidos havia adolescentes com idades entre os 12 e 15 anos, disse a fonte.

 

O pânico no seio da população decorre também da falta de comunicação. Um ataque pode acontecer no interior de Mecula e não ser reportado. Há dois meses, foi assim. Uma aldeia foi atacada em Mecula e os alunos internos de uma Escola Secundária em Moaguide fugiram. A escola, uma antiga Missão,  recebe alunos de toda a província e de Nampula, funcionando em regime de internato. Uma semana depois, alguns alunos regressaram mas outros fizeram uma longa ponte com as presentes férias. No terreno, a vida é um rosário de dramas. Novas rotinas fazem o dia-a-dia. E um ambiente cheio de suspeições. Alguns pequenos comerciantes em Macomia são acusados de fornecerem mantimentos aos insurgentes. E soldados do exército são apontados como estando a extorquir comerciantes honestos, sob alegacão de que são os financiadores dos ataques. No fim, exigem dinheiro. A região, nas suas aldeias do interior, vive na incerteza do futuro. E o gás está ali perto (MM e GS)

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