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BCI
quarta-feira, 08 maio 2019 08:18

Hospital da Machava corta refeições aos funcionários

Os funcionários do Hospital Geral da Machava (HGM), no município da Matola, província de Maputo, viram as suas refeições retiradas da lista de benefícios naquela unidade sanitária sem aviso prévio, desde 11 de Abril último.

 

”Carta” teve acesso ao comunicado que, por sua vez, explica: “mediante a situação actual de deficiente fornecimento dos géneros alimentícios por parte dos fornecedores, a cozinha propôs à direcção do hospital a suspensão das refeições dos trabalhadores, salientando que a medida fornecerá um ganho aos funcionários”.

 

Fontes do HGM disseram à nossa reportagem que há bastante tempo que aquela unidade sanitária cortou o pequeno-almoço para os funcionários, passando apenas a dar-lhes um pedaço de pão e sem direito a açúcar e, para o espanto deles, no mês de Abril, a direcção resolveu retirar-lhes o almoço e o jantar até mesmo para os funcionários que fazem turnos.

 

“Não temos como trabalhar com fome, neste hospital não somos respeitados, não temos o direito de estudar e quem vai à escola à revelia não muda de carreira. Tínhamos um fogão, onde podíamos preparar as nossas refeições, mas pouco tempo depois desapareceu e quando questionamos sobre o mesmo disseram-nos que foi emprestado ao Hospital Provincial da Matola”, contam os trabalhadores daquele hospital, alertando ainda que a medida abrange também os pacientes, que recebem uma refeição (sopa) por dia.

 

“Com a medicação ‘pesada’ que tem, isso acaba precipitando a morte dos doentes. Neste hospital há falta de pessoal médico, há mais de cinco anos que não vemos caras novas e dos poucos que aqui existem não cumprem com os horários de entrada”, acrescentam as fontes.

 

De acordo ainda com as mesmas fontes, cada departamento teve de fazer uma “vaquinha (pequenas contribuições)” para aquisição de uma chaleira eléctrica, de modo a tomar uma chávena de chá.

 

Durante o exercício das suas funções são, igualmente, restringidos ao pagamento salarial nas datas certas, chegando a ficar um mês sem o seu ordenado. As fontes explicam ainda que, numa das reuniões com a direcção do Hospital, o corpo directivo chegou a dizer que eles podiam queixar, onde quisessem e que nada mudaria aquela situação.

 

A Directora do Hospital Geral da Machava, Ana Paula Rodrigues, disse à “Carta” que o corte de refeições deveu-se à falta de condições económicas, por um lado, e, por outro, que o documento em nossa posse, por ela assinado, tem alguns erros de digitação.

 

Em relação ao fogão que desapareceu, a gestora afirma que foi roubado. Avança ainda que o Hospital nunca proibiu ninguém de estudar, o que tem acontecido é que muitos funcionários fazem cursos cujo enquadramento não existe naquela unidade sanitária, o que faz com que alguns funcionários, depois de estudar, sejam afastados até que se encontre um lugar para eles.

 

“As refeições dos doentes não foram cortadas. A direcção resolveu passar a dar sopas, porque os pacientes dizem ser mais fácil digerir”, explicou Ana Paula.

 

Na Cidade de Maputo também se reclama

 

Numa ronda feita pela “Carta” nos hospitais de referência, na Cidade de Maputo, tais como Hospital de Mavalane, Polana Caniço e José Macamo, constatou-se que também houve cortes de alimentação para os funcionários que fazem horário único (das 7:30 horas às 15:30 horas), por estes não terem direito e quanto aos que fazem turno continuam a ter as refeições normalmente.

 

Parte dos funcionários dos hospitais acima referidos, interpelados pela nossa reportagem, mostraram-se insatisfeitos com a medida, principalmente, porque nos últimos meses recebem apenas um pedaço de pão.

 

“Recebemos mal, o pouco que nos dão temos de comprar comida para os nossos filhos e a mesma quantidade não serve para levarmos para almoçar nos nossos locais de trabalho, porque temos de deixar para as crianças, aqui tínhamos direito à sopa e uma pequena quantidade de comida. Quando a direcção do hospital resolveu cortar, não teve sequer a dignidade de nos avisar, cheguei à cozinha e mandaram-me voltar, dizendo que os trabalhadores já não tinham direito de receber refeições, passando apenas a receber um pãozinho nas manhãs”, desabafou uma fonte do Hospital Geral da Polana Caniço.

 

Para o esclarecimento deste assunto, Sheila Lobo, Directora de Saúde da Cidade de Maputo, explicou à “Carta” que nenhum funcionário do hospital que trabalha em horário normal das 07:00 às 15:30 horas tem direito às refeições e quanto aos que fazem turno continuam a receber as refeições, normalmente. (Marta Afonso)

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