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segunda-feira, 08 janeiro 2024 09:30

Médicos Sem Fronteira lamentam morte de colaborador em incursão rebelde em Mocímboa da Praia

A organização não-governamental Médicos Sem Fronteira (MSF) lamentou ontem a morte de um colaborador durante um ataque de rebeldes, na sexta-feira, no distrito de Mocímboa da Praia, província moçambicana de Cabo Delgado, próximo à sede da vila.

 

“Estamos de luto e muito tristes com a perda do nosso colega neste ataque em tão tenra idade (menos de 30 anos). Este nosso colega era um membro ativo da comunidade que estava empenhado em ajudar a salvar dezenas de vidas através da divulgação de mensagens de promoção da saúde, identificação e encaminhamento de pacientes para cuidados especializados, incluindo mulheres grávidas e crianças”, refere a coordenadora de emergências da MSF em Cabo Delgado, Marta Cazorla, citada numa nota de imprensa da ONG.

 

O novo ataque aconteceu por volta das 19:00 locais (17:00 em Lisboa), na comunidade de Chimbanga, a menos de 50 quilómetros da sede distrital, a vila de Mocímboa da Praia, tendo pelo menos três pessoas sido mortas e destruídas várias residências.

 

Segundo a MSF, em 2023 outro trabalhador foi morto durante um ataque enquanto viajava num transporte público no distrito de Macomia. “Embora tenha havido uma narrativa crescente de estabilização em Cabo Delgado, a situação de segurança permanece volátil, com a morte e deslocação forçada de civis a ser observada de forma regular”, acrescenta a organização na nota, frisando que, apesar deste ataque, vai continuar a prestar assistência médica e humanitária às famílias afetadas nos distritos de Macomia, Mocímboa da Praia, Mueda, Muidumbe, Nangade e Palma.

 

Além deste ataque, outro grupo de terroristas, com recurso a canoas, chegou na quinta-feira à ilha de Tembuze, também em Cabo Delgado, tendo aterrorizado pescadores e saqueado produtos de comércio e outros bens da população.

 

Os ataques a Mocímboa da Praia e outros pontos de Cabo Delgado acontecem numa altura em que as populações estão empenhadas na produção de alimentos, atividade ameaçada por estes ataques.

 

Na quarta-feira, grupos armados que têm aterrorizado a província de Cabo Delgado voltaram a atacar o distrito de Mocímboa da Praia, na comunidade de Ntótwé, a escassos quilómetros de Awasse, onde está montada uma das posições das forças ruandesas que apoiam Moçambique no combate aos grupos rebeldes em Cabo Delgado. O ataque terá provocado um número ainda indeterminado de mortos, de acordo com fontes no terreno.

 

A nova incursão rebelde em Mocímboa da Praia provocou a fuga de populares de Ntótwé para o posto administrativo de Awasse, embora tenha merecido uma resposta imediata das forças moçambicanas e ruandesas que estão na região.

 

A localidade de Ntótwé, a pouco mais de 100 quilómetros da sede de Mocímboa da Praia, está localizada ao longo da estrada nacional número 380, uma das poucas asfaltadas da região e que liga aos distritos mais ao norte de Cabo Delgado, onde estão ancorados os projetos do gás do Rovuma.

 

O distrito de Mocímboa da Praia, no norte de Cabo Delgado, foi o primeiro alvo dos terroristas, em 05 de outubro de 2017, tendo os insurgentes atacado, depois, outros pontos da província. No total, cerca de 62 mil pessoas, quase a totalidade da população, abandonaram a vila costeira devido ao conflito que começou há seis anos, com destaque para as fugas em massa que ocorreram após a intensificação das ações insurgentes em junho de 2020.

 

Após meses nas ‘mãos’ de rebeldes, Mocímboa da Praia foi saqueada e quase todas as infraestruturas públicas e privadas foram destruídas, assim como os sistemas de energia, água, comunicações e hospitais.

 

A província de Cabo Delgado enfrenta há mais de seis anos um levantamento armado com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico, que levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás.

 

O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

 

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, pediu em 22 de novembro “decisões” sobre a capacidade de resposta das Forças Armadas em Cabo Delgado, nomeadamente com reservistas, tendo em conta a prevista retirada das forças estrangeiras que apoiam no terreno contra os grupos terroristas, prevista para julho. (Lusa)

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