Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI
segunda-feira, 16 outubro 2023 08:07

Eleições 2023: Vilankulo viveu momentos de tensão por alegada fraude da Frelimo

Alguns munícipes da cidade de Vilankulo, norte da província de Inhambane, acordaram em festa, na quinta-feira (12), motivada por alegada vitória do partido Renamo, nas eleições do dia anterior. Este facto confirmava o que alguns órgãos de comunicação tinham avançado, horas antes, que a Renamo estava em vantagem na contagem de votos, naquela autarquia.

 

Em vídeos postos a circular nas redes sociais, logo pela manhã viam-se munícipes movimentando-se por motocicletas e carros cantando vitória da Renamo, com vestes e bandeirolas do partido, um facto inédito, tendo em conta que a autarquia sempre foi governada pela Frelimo. Entretanto, a alegria dos citadinos não foi além do meio-dia. Foi sol de pouca dura, porque depois, instalou-se a tensão no centro da cidade gerada por tiroteios de agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM).

 

Os agentes da PRM atiraram para o ar, balas aparentemente reais. Atiravam também gás lacrimogéneo para dispersar os munícipes amotinados próximo ao edifício onde funciona a Comissão Distrital de Eleições e ao Tribunal Distrital. Uma dessas bombas de gás lacrimogéneo foi atirada para dentro de um carro da marca Toyota Surf. Depois do tiro, os ocupantes puseram-se em fuga deixando o veículo no meio da estrada, com as portas abertas. 

 

Num dos vídeos a que “Carta” teve acesso vêem-se várias pessoas condenando os disparos de agentes da PRM contra indefesos: “Atiraram gás lacrimogéneo para dentro do carro, para que isso? Querem matar crianças? Estamos onde, afinal? Não é Cabo Delgado aqui”. Enquanto isso, um grito aparentemente de criança ouvia-se a chorar, clamando por socorro. Ainda assim, os tiroteios não paravam. O cenário confundia-se mesmo com o de guerra ou com um filme de terror. Contudo, em algum momento, em vez de dispersar, os disparos chamavam atenção de mais gente, que de longe assistia e filmava usando telemóveis.

 

Afinal por que tal aconteceu? Num outro vídeo, ouve-se a resposta: “Tiros em Vilankulo por causa de votos. A Frelimo foi encontrada com votos”, gritava uma senhora correndo em busca de refúgio. Nessa ocasião, de facto, os tiroteios não paravam de se ouvir. Eram disparados em rajada. Repentinamente e no meio da fumaça provocada pelo gás lacrimogéneo, vê-se um agente da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), da PRM, correndo para apanhar um cidadão que tentava fugir. Era um cenário de tensão.

 

O Jornal apurou que tudo começou quando a população foi amotinar-se defronte do edifício da Comissão Distrital de Eleições horas após começar a circular informação dando vitória ao partido Frelimo em detrimento da Renamo. A presença dos munícipes naquele edifício significou, em última análise, contestação aos resultados, mas acabou repelida pela polícia.

 

A porta-voz da PRM em Inhambane, Nárcia Bata, contou à STV que a polícia foi chamada ao local e obrigada a atirar gás lacrimogéneo para dispersar os munícipes que pretendiam entrar numa sala onde decorria a contagem de votos para participar do processo. Sem terem tido permissão, continuou a agente, os munícipes pretendiam entrar à força, o que obrigou a polícia a intervir com armas de fogo e gás lacrimogéneo.

 

Entretanto, Bata assegurou que a tensão não levou horas, pois o motim foi prontamente dispersado e, até ao fim da tarde de quinta-feira, já se circulava normalmente na cidade turística de Vilankulo. Acrescentou que não houve feridos, mortes nem detidos.

 

Contestação continuou

 

A contestação da Renamo continuou dois dias depois, no sábado, em marcha com membros do partido, pelas artérias daquela cidade turística. A contestação aconteceu depois de a Comissão Provincial de Eleições de Inhambane divulgar os resultados dando conta que a Frelimo ganhou na cidade de Vilanckulo com 11080 votos contra 9798 da Renamo. À STV, o cabeça-de-lista da Renamo em Vilankulo, Joaquim Quinito Vilanculo, negou os resultados, alegadamente, porque são falsos.

 

“Os resultados anunciados são falsos. A Frelimo não ganhou nesta cidade de Vilankulo. A Renamo aqui obteve 10203 votos e a Frelimo teve 9602 votos. Não há razão para a Frelimo achar que é vencedora. Portanto, queremos aqui desmentir, dizer à população para estar atenta. Nós a Renamo ganhamos. O governo que vai ser formado aqui em Vilankulo será da Renamo”, disse Vilanculo. Além disso, garantiu ter provas (actas e editais) e que pretendia submetê-las em contencioso eleitoral ao Tribunal Distrital de Vilankulo. (Evaristo Chilingue)

Sir Motors

Ler 2233 vezes