A polícia angolana admite ter usado a força contra os manifestantes das províncias de Luanda e Benguela, devido ao incumprimento dos promotores em relação às rotas estabelecidas pelas autoridades. Mas os organizadores desmentem a polícia, acusando-a de ter atirado contra pessoas desarmadas.
Numa nota distribuída à imprensa, a polícia reconhece que usou da força para dispersar as manifestações contra a subida da gasolina nas províncias de Luanda e Benguela, justificando a violência com o facto de os jovens não terem respeitado os trajectos indicados pelas autoridades.
“Em Luanda e Benguela, contrariamente ao que ocorreu nas outras províncias, os promotores das manifestações não observaram os pressupostos legais exigidos e, em desobediência às indicações sobre os itinerários pré-estabelecidos, primaram por arruaças, rebelião e violência contra as forças da ordem. Para o efeito, as Forças de Segurança, no âmbito da manutenção e reposição da ordem pública, tomaram medidas que visaram dispersar os “insurgentes” com emprego de meios tácticos-operacionais moderados e proporcionais à natureza dos actos praticados”, lê-se no texto da polícia.
Por seu lado, Dito Dali, um dos subscritores da marcha, nega todas as acusações e lembra que a polícia usou a força contra os manifestantes, quando notou que a adesão da população aos protestos crescia a cada minuto.
“Quanto ao pronunciamento do Ministério do Interior, são irresponsáveis e procuram a todo o custo ilibar-se da sua falta de organização, porque quem esteve desorganizado é a polícia. A polícia entendeu que tínhamos que deslocar o nosso itinerário. Negociou connosco e chegamos à conclusão que o ponto do destino seria no Largo das Escolas. Na verdade, a manifestação foi dispersada, quando a polícia se apercebeu que muita gente estava a aderir, havia muita gente. Quase dez mil almas”, denunciou.
O activista cívico também assegura ainda que a polícia libertou no sábado alguns jovens nas províncias de Luanda e Benguela, mas aguardam ainda pela libertação de outros indivíduos que continuam detidos em várias cidades do país.
“Pelo menos em Luanda, algumas pessoas já foram soltas, aguardando que outras pessoas a nível de outras províncias também sejam soltas. Algumas mulheres que foram detidas, em Benguela, já foram soltas, faltando os homens.
Entretanto, a imprensa pública angolana, citando supostas fontes governamentais, avança que a UNITA, maior partido na oposição, terá alegadamente "apadrinhado" as manifestações que se realizaram em algumas províncias angolanas.
Movimento dos Estudantes Angolanos repudia "comportamento pidesco" da polícia
Num comunicado, o MEA diz ter tomado conhecimento do comportamento "criminoso" contra jovens que tentavam exercer os seus direitos de reunião e manifestação na província do Huambo (sábado), acusando a polícia de actos "vis e terroristas".
Em causa está a detenção do secretário provincial do MEA, José Sprajeu, que segundo o Movimento sofreu "tortura física e psicológica", tendo a família sido igualmente molestada.
"Sem mandado judicial, os senhores munidos de armas de fogo e farda de um órgão do Estado efectuaram vários disparos, molestaram a sua filha, apontando-lhe uma arma de fogo na cabeça e levaram o jovem para a cadeia onde permanece até ao momento", denuncia esta organização.
A Polícia Nacional acusou a UNITA de envolvimento nos distúrbios, embora o maior partido da oposição angolana não tenha aderido oficialmente à manifestação convocada pela sociedade civil e tenha denunciado através do seu braço juvenil, a JURA, alegadas manobras do regime - suportado pelo MPLA - para culpar a UNITA por eventuais estragos que viessem a acontecer.
O MEA exortou a Procuradoria-Geral da República, a provedoria de Justiça e a presidência angolana a posicionarem-se diante da "anarquia e violência gratuita no Huambo" e encorajou os seus membros a continuarem a exercer os seus direitos. (Lusa)