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quinta-feira, 16 março 2023 07:55

Ativistas acusam Governo moçambicano de querer "controlar" ONG

ong sociedade min

Ativistas sociais acusaram o Governo moçambicano de pretender "controlar" a atividade das organizações da sociedade civil e "limitar" o exercício democrático, ao apresentar no parlamento uma proposta que dizem dar poderes excessivos ao executivo.

 

Uma proposta de lei sobre organizações sem fins lucrativos, submetida à Assembleia da República, prevê que o Governo possa dissolver organizações não-governamentais (ONG), em caso de alegados delitos, retirando este poder aos tribunais, o que é contestado por ativistas sociais.

 

“As organizações da sociedade civil estão a associar alguns artigos desta proposta com a vontade do poder político de controlar a sociedade civil”, disse Edson Cortez, diretor da ONG Centro de Integridade Pública.

 

Para Cortez, é uma “aberração” que a proposta imponha às organizações da sociedade civil a obrigação de prestação de contas periódicas ao Governo, sob o argumento de combate ao branqueamento de capitais e ao terrorismo.

 

“O pouco dinheiro que as organizações da sociedade têm vem dos mesmos parceiros que dão ao Governo moçambicano”, enfatizou, para ilustrar o modo transparente como as ONG são financiadas.

 

Com a lei, prosseguiu, as autoridades pretendem condicionar a fiscalização da atividade governativa que é exercida pelas ONG, dado que “a oposição é uma nulidade” em Moçambique.

 

Dércio Alfazema, diretor de programas do Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD, na sigla inglesa), observou que a referida proposta de lei suscita “desconfianças”, porque a sociedade civil não foi consultada.

 

“O problema é saber quais são as reais intenções, uma vez que a proposta foi elaborada sem que a sociedade civil tenha sido ouvida”, afirmou Alfazema.

 

O ativista social também criticou o argumento do combate ao branqueamento de capitais e ao terrorismo, notando que a atual legislação dá poderes ao banco central para controlar os mecanismos e fontes de financiamento das ONG.

 

Por seu turno, Dércio Tsandzana, docente de Ciência Política na Universidade Eduardo Mondlane, considerou que alguns dispositivos contidos no documento violam direitos fundamentais e convenções internacionais de que Moçambique é signatário.

 

“Quando um Governo pretende ser ele a decidir sobre como as organizações devem ser geridas, é claro que se fica em clara violação de direitos fundamentais”, referiu.

 

O Governo “tenta intrometer-se na forma de composição da estrutura das organizações”, declarou Tsandzana.

 

O académico apelou a uma mobilização geral das organizações da sociedade civil contra a proposta, através de “manifestações em grande escala contra essa proposta”.

 

A proposta de lei ainda não tem data marcada para debate no parlamento moçambicano.(Lusa)

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