O empresário moçambicano sequestrado na Matola, foi encontrado esta noite sem vida! Segundo fontes de Carta, os sequestradores ligaram a família a informar que “estava mal” e que o deviam ir buscá-lo num determinado lugar, nao revelado. A família encontrou Hayyum estatelado. Foi levado a um hospital, onde lhe deram como morto.
Ele era dono de uma sorveteria, Vanilla Gelado Italiano, na Polana, de um centro de lojas para comércio na Matola e de um grupo de lojas da marca Kids r US. Recentemente ele abriu outra sorveteria na Matola, em frente ao Builders, e foi ali onde lhe raptaram. Num dos pormenores destas imagens de CCTV, vê-se o empresário sentado, de T-shirt branca, já molestado. Ele foi encontrado na companhia de familiares. Uma criança estava no local e presenciou o acto macabro.
Hayyum Alimamade foi raptado à mão armada, na quarta-feira (14 Dez). O sequestro durou apenas 30 segundos. Seus filhos teriam sido alvo de uma tentativa de sequestro anteriormente.
A indústria do rapto movimentou 35 milhões de dólares nos primeiros 11 meses do ano, afirmou o vice-presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), Prakash Prehlad, em declarações a 7 de Dezembro. Prehlad falava num workshop sobre Branqueamento de Capitais e Financiamento do Terrorismo em Maputo. E destacou que os US$ 35 milhões sairão de Moçambique por meio de lavagem de dinheiro, o que era mais um motivo para se tentar coibir os sequestros.
Os raptos já duram mais de uma década e as vítimas são maioritariamente empresários moçambicanos de origem asiática e suas famílias. Estão a ter impacto no investimento e alguns empresários estão a sair do país.
Carlos Camurdine, um dos empresários mais bem sucedidos de Moçambique, foi raptado à porta da sua loja de vinhos no centro de Maputo a 3 de Abril de 2019 por três homens armados com espingardas de assalto AK-47 e detido durante dois meses até ser pago um resgate. Em junho deste ano (2022) comprou o Fontecruz Lisboa Hotel, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, por 42 milhões de euros, e parece estar a transferir para lá os seus interesses comerciais.
Na semana passada, no seu informe sobre o Estado Geral da Nação, o Presidente, Filipe Nyusi, falou vagamente sobre um processo em curso, designadamente da formação de uma Unidade Anti-Corrupção no seio da PRM (Polícia da República).
Só neste ano, as autoridades moçambicanas registaram 11 raptos e 27 detenções ligadas aos crimes desde Janeiro, anunciou na quinta-feira (17 de Novembro), a ministra do Interior, Arsénia Massingue, no Parlamento.
Por sua vez, a procuradora-geral da República, Beatriz Buchili, referiu em Maio que “alguns” agentes da polícia, investigadores, advogados e magistrados são suspeitos de envolvimento nos raptos, acrescentando que os crimes têm vindo a aumentar e que nalguns casos há ramificações com a África do Sul. Segundo a magistrada, há vítimas “constantemente chantageadas” mesmo depois de libertadas, continuando a pagar quantias em dinheiro para garantir que não voltam a ser raptadas.
O ano passado, Buchili confirmou uma percepção que já estava amplamente enraizada na sociedade: a de que os raptos eram protagonizados por operacionais do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC).
Aliás, em Fevereiro desde ano, a Procuradoria Geral da Republica acusou Procuradoria-Geral da Repúbllica, refere que o Ministério Público, acusou e notificou, os agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM) e do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), em prisão preventiva, desde Abril de 2021, pela prática de vários crimes, dentre os quais, roubo agravado, tráfico de droga e outras actividades ilícitas, sequestro, associação criminosa, porte ilegal de armas proibidas, entrada abusiva em casa alheia, abuso de cargo ou função, abandono de sinistrado, branqueamento de capitais, falsificação de documentos.
Não consta que este caso já tenha sido julgado. O que consta é que, depois de um alegado desmantelamento da rede do SERNIC, a orquestração dos raptos passou alegadamente a ser operada por agentes da Unidade de Intervenção Rápida (a UIR). A morte do empresário Hayyum é um tremendo golpe junto da comunidade empresarial de origem asiática em Moçambique, que esperam do Governo uma atitude mais incisiva contra os sequestros. (M.M.)