A prisão de Mieze, onde o jornalista Amade Abubacar, está detido, localiza-se numa pacata vila do distrito de Metuge, a 20 km de Pemba. É uma construção rodeada de arbustos e casas velhas, algumas delas já sem tecto, e outras cobertas de capim, onde a vida é feita de muita correria e negócios que consistem na venda de pedra e transporte de passageiros com recurso a motos. Os habitantes de Mieze têm medo “de toda a gente”, sobretudo devido à proliferação de agentes do SISE e forte presença de militares. O Estabelecimento Penitenciário, uma construção recente, tem muros com cinco metros de altura, casotas e celas numeradas. Dois repórteres de “Carta de Moçambique” tentaram visitar Amade Abubacar e Germano Adriano (outro jovem jornalista detido algum tempo depois do primeiro), ontem. Não tivemos permissão. Disseram que a única forma de comunicar com ele era por carta em papel. Fizemos isso.
Antes, tínhamos tentado por outras vias. Quando chegamos à prisão de Mieze, por volta das 05h00, não nos identificámos de imediato como jornalistas, mas como amigos de um recluso que ali se encontrava. Isso permitiu-nos colher dados que desmentem até a autenticidade da carta que Amade Abubacar depois iria nos enviar, em resposta à nossa "missiva", e na qual o jornalista dizia que estava “bem” ou “normal”.
O atendimento público na cadeia de Mieze começa às 08h00. Tivemos de aguardar fora do recinto prisional. Saímos do local mas nossa presença despertara a atenção dos agentes secretos espalhados pela vila. Volvidas cerca de três horas regressámos à prisão de Mieze onde, desta vez, identificámo-nos como jornalistas que pretendiam ver Amade Abubacar.
Pediram-nos os documentos de identificação e fomos encaminhados para um outro local de controlo e autorização, a uma distância de aproximadamente 100 metros do portão principal. Lá, fomos informados que as visitas não eram presenciais, mas sim através de correspondência. Quisemos saber o porquê de tal atitude, ao que nos responderam que temiam um eventual ataque dos insurgentes com o propósito de soltar os reclusos que lá se encontram!
Alguns funcionários do Estabelecimento Penitenciário de Mieze contaram-nos que Amade Abubacar não está bem de saúde, queixando-se frequentemente de “pontadas” no coração. Na quarta-feira, representantes de órgãos de informação públicos e privados, do judiciário e Cruz Vermelha de Moçambique (CVM), entre outras organizações, foram mobilizados para visitar Amade Abubacar. Chegados ao local, todos os jornalistas foram impedidos de captar imagens, ainda que lhes tivesse sido permitido conversar com Abubacar, que antes de avistar os colegas de profissão, terá recebido instruções para dizer que estava bem de saúde. Na suposta resposta do jornalista Amade Abubacar à nossa carta, ele revelou que na próxima semana será ouvido pelo Ministério Público (MP), altura em que se saberá “se vai ou ser acusado”. (Omardine Omar e Anne Keronina, em Cabo Delgado)