O especialista em cirurgia de fístula, Igor Vaz, que também é Director Geral da organização Focus Fístula considera que a situação da fístula obstétrica no país é grave. Igor Vaz falava na manhã desta segunda-feira, 31 de outubro, no workshop de pré-lançamento da 8ª Conferência Internacional de Cirurgiões de Fístula Obstétrica que vai juntar 185 participantes dos entre cirurgiões, médicos e técnicos de saúde de 32 países.
“O problema da fístula obstétrica é grave em Moçambique. Nós temos uma falta de assistência ao parto muito grande, temos muitas mulheres a viverem nas zonas rurais e não tem acesso a saúde, temos ainda muitas dificuldades nas nossas maternidades e, portanto, uma pequena percentagem de mulheres têm partos dentro das unidades sanitárias. Isto leva a que elas (mulheres) percam muito tempo e que haja mortalidade e morbilidade materna muito grande”.
Segundo o médico urologista, apesar de alguma melhoria, a taxa de mortalidade materna continua alta no país. “O Ministério da Saúde (MISAU) tem os dados todos sobre a taxa de mortalidade que é muito alta, que é de quatro a cinco em cada cem partos vivos” e explica que entre as mais afetadas pela doença estão os jovens.
“Nós normalmente temos fístula em mulheres muito jovens, desde os 16 anos, mas também podem aparecer fístulas em mulheres de uma certa idade, entre 40 e 45 anos que também são as idades onde aparecem complicações de parto”.
Seiscentas mulheres operadas por ano
Segundo o Dr Igor Vaz, estão em curso pelo menos dois programas através dos quais têm sido realizadas campanhas de cirurgia a fístula obstétrica em Moçambique, sendo um gerido pelo MISAU e outro pela Focus Fístula.
“O Ministério da Saúde tem o programa Nacional de Fístula e nós, Focus Fístula, temos um outro programa, paralelo ao programa do Ministério, onde em colaboração operamos doentes em todo o país. Portanto, os doentes podem vir não só ao Hospital Central, na Clínica Cruz Azul, como também às nossas equipes têm se deslocado às diferentes partes do país para operar. Nós por ano estamos a operar seiscentas mulheres”.
Alusivo à 8ª Conferência da Sociedade Internacional de Cirurgiões de Fístula Obstétrica (ISOFS), Igor Vaz, que também preside o comité local de organização, explicou que vão ser operadas algumas doenças.
“Nós agora temos um pré-workshop onde vamos operar algumas doenças. Hoje (segunda-feira) só vamos operar uma doente muito complexa. É uma doente que tem uma fístula congénita e amanhã (terça-feira) vamos operar mais quatro ou cinco doentes. O caso de hoje é muito complexo. Trata-se de uma rapariga que nasceu sem vagina, sem bexiga e sem uretra. Já foi operada uma vez, quando ela tinha cinco anos e hoje vamos re-operar para reconstruir a bexiga, o sistema de continência e a vagina”.
Fístula obstétrica é um problema de saúde pública
Por sua vez, a Directora Científica e Pedagógica do Hospital Central de Maputo (HCM) realçou o facto da fístula obstétrica ser um problema de saúde pública em Moçambique e considera que as sessões de cirurgia que decorrem no Bloco Operatório do HCM é uma oportunidade para os cirurgiões de vários países poderem trocar experiências.
“Acredito que com este evento teremos oportunidade de troca de experiências entre os nossos profissionais com os outros profissionais de diferentes instituições estrangeiras e melhorar aquilo que é a colaboração entre Moçambique e outras instituições estrangeiras, melhorar aquilo que é o ensino e aprendizagem em relação a fístula obstétrica que nós sabemos que é um problema de saúde pública. É um problema que todos devemos lutar e acredito que cada um de nós aqui presente poderá contribuir para aquilo que é o objectivo global de eliminação da fístula obstétrica até 2030”.
Fístula obstétrica é uma abertura anormal entre o trato genital da mulher e seu trato urinário ou recto, causado por trabalho de parto arrastado e obstruído sem acesso a cuidados médicos imediatos e de qualidade. A fístula obstétrica pode ser prevenida, através do acesso a cuidados obstétricos de emergência, e acompanhamento pré-natal e de parto seguro.
Em Moçambique, estima-se que mais de dois mil novos casos de fístulas obstétricas são registados anualmente.
São parceiros na organização da conferência a Sociedade Internacional dos Cirurgiões de Fístula Obstétrica (IOSFS), o Ministério da Saúde (MISAU), a Focus Fístula, o Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP), a USAID/EngenderHealth - Projecto Momentum.(Carta)