Espera-se que a maior parte da África Austral, incluindo Moçambique, tenha chuvas normais acima do normal, na próxima época chuvosa, entre Outubro de 2022 e Março de 2023, abrindo caminho para um bom desempenho agrícola.
A última previsão de especialistas de clima, saída do 26° Fórum Regional sobre Perspectivas Climáticas da África Austral (SARCOF), realizado na semana finda virtualmente e presidido pela República Democrática do Congo (RDC), mostrou que havia um potencial para chuvas normais e acima do normal, para a maioria dos países da região.
Realizado sob o lema: "Alerta e acção antecipada: preparação da região da SADC para um "pronto para começar”, o SARCOF revela que a previsão para a próxima época mostra que dois terços do sul da SADC deverá ter chuvas normais a acima do normal nos primeiros três meses, e com normal e abaixo do normal no norte da Zâmbia e Malawi.
"A maior parte da região da SADC provavelmente receberá chuvas normais a acima do normal durante a maior parte do período que vai de Outubro a Dezembro de 2022, sendo que na parte noroeste de Angola, grande parte da República Democrática do Congo (RDC), Tanzânia, norte da Zâmbia, norte do Malawi, norte de Moçambique, Comores, Madagáscar, Maurícias e Seychelles, são esperadas chuvas normais a abaixo do normal", refere o comunicado do SARCOF 26.
"O período de Janeiro a Março de 2023 deverá ter chuvas normais ou acima do normal na maior parte da região, excepto no norte de Angola, grande parte da RDC, metade norte da Tanzânia e grande parte de Madagáscar”, avança o prognóstico dos meteorologistas.
Segundo os especialistas, a possibilidade de inundações em algumas partes apresenta riscos que exigem preparação adequada e um plano de contingência.
No mesmo documento, os meteorologistas referem que a perspectiva é relevante apenas para escalas de tempo sazonais, sobrepostas de três meses e em áreas relativamente grandes e podem não levar em conta todos os factores que influenciam a variabilidade climática regional e nacional.
O centro de Moçambique, o sul do Malawi, a metade norte do Zimbábue, a maior parte da Zâmbia, o sul da RDC, a metade sudeste de Angola, a maior parte da Namíbia, a metade ocidental do Botswana, a maior parte das regiões central e ocidental da África do Sul e parte ocidental do Lesotho aumentaram probabilidades de chuvas normais a acima do normal ao longo da época agrícola.
Os especialistas em clima alertaram que a possibilidade de chuvas normais acima do normal apresenta riscos para a ocorrência de inundações, aumento de doenças de plantas e animais e destruição de colheitas, o que exige uma preparação adequada e um plano de contingência.
Para o efeito, os meteorologistas apelam aos agricultores a evitar culturas em áreas propensas a inundações e cultivar variedades tolerantes a doenças, bem como a adoptar estruturas de retenção de água apropriadas para controlar as inundações.
Além disso, disseram que há probabilidade de inundações repentinas e fluxos turbulentos de rios que podem levar ao aumento do assoreamento das barragens e à possibilidade de danos à infra-estrutura de barragens de baixo custo.
"Para as centrais hidroeléctricas, é preciso planear o aumento da geração de energia. Também é fundamental preparar a resposta de emergência com alocação orçamental correspondente’’, disse no fórum um especialista em energia.
“Precisamos de realizar mais exercícios para emergências. Inundações localizadas também podem afectar pontes baixas”, acrescentou.
Porém, os especialistas em clima disseram que em Moçambique os riscos de inundações são altos no sul, enquanto na Namíbia as inundações podem causar surtos de doenças como cólera, malária e sistemas de esgoto transbordando, e a África do Sul estaria propensa a inundações urbanas, danos nas infra-estruturas e inundações de casas informais.
O prognóstico dos meteorologistas refere ainda que as condições mais húmidas são ideais para as actividades agrícolas de sequeiro e reservatórios de água da África Austral, lembrando ainda que, na estação chuvosa de 2021/2022, um total de seis ciclones tropicais atingiram vários países da SADC, incluindo Moçambique, Madagáscar, Malawi, Maurícias, África do Sul, Zâmbia e Zimbabwe.
As tempestades tropicais e os ciclones trouxeram chuvas e ventos fortes, causando inundações e deslizamentos de terra significativos, resultando em mortes, deslocamentos e destruição de infra-estruturas. Os especialistas instam os estados membros da SADC a desenvolver planos de contingência que incluíam limpeza de drenos, criação de estruturas temporárias para vítimas de enchentes, divulgação de previsões para consciencialização de possíveis perigos e sensibilização sobre prevenção de doenças transmitidas pela água.
"Como região, precisamos de desenvolver planos de contingência ou planos de preparação e resposta a desastres em todos os níveis, locais, nacionais e regionais, delineando estruturas de coordenação, bem como papéis e responsabilidades", disse um especialista na reunião.
Deve optar-se ainda pela divulgação oportuna de informações de alerta antecipado com mensagens adequadas e que podem ser compreendidas e accionadas em vários níveis, incluindo níveis locais.
“Os países da SADC devem realizar a gestão de infra-estrutura que cobre a limpeza de drenos bloqueados antes do início da temporada e os agricultores são aconselhados a plantar cedo e usar variedades de maturidade média”, disse no fórum um agrónomo climático. (Marta Afonso)