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segunda-feira, 08 março 2021 12:47

Juma Gigante Aiuba

Juma Aiuba foi gigante. Gigante na audácia e na fineza da palavra. Os gigantes são esses seres especiais, com um espaço reservado na eternidade. O paraíso, também, carece de criatividade. Se a leitura é o alimento da alma, o esplendor celestial, deve ser um espaço privilegiado para os diferentes géneros literários. Anjos e santos se divertem, agora, um pouco mais com o surgimento inesperado, do Juma. Nenhuma vida, nem presente e muito menos futura, sobreviveria sem humor, desprovida de uma requintada sátira e, muito menos, sem o sorriso maroto e platónico.

 

Maitololo, seu nome caseiro, viveu como partiu, irreverente, imprevisível e nas alturas. Qual estrela cadente que cruza as nossas pupilas, desaparecendo sem deixar rastos. “Juma”, etimologicamente, significa alguém que nasceu na sexta-feira. O nosso, fez a sua páscoa, também na sexta-feira. Aiuba (Aniba permollis) é um nome tupi guarani, das amazonas, Brasil. Significa árvore gigantesca, com aproximadamente 50 metros, recordando a todos que subindo numa árvore, deveremos descer pelo mesmo tronco. Esta a combinação perfeita que explica um cronista de múltiplas dimensões.

 

Vezes sem conta, iniciávamos as manhãs lendo seus ousados, interventivos e contundentes textos. O cozinhado de palavras e narrativas que rescreviam a hipocrisia, reconvertiam o descaso e perfumavam esse prazer matinal de uma leitura que fugisse do corriqueiro e banal. Estas crónicas reforçavam a fugacidade dessa crítica metódica, tantas vezes, viciada e respaldada em interesses obscuros. Vivemos carentes e sedentos de olhar para nós próprios, reconhecer o quanto temos sido insensíveis, perversos, egoístas e pouco racionais na nossa normalidade. Surgia, então, Maitololo recordando, através de corajosas, destemidas e humoradas palavras, que tão bem soube recriar, que poderemos fazer um país melhor, mais inclusivo, uma democracia menos frágil, instituições mais fortes e representativas.

 

A história da literatura e do jornalismo é profícua em exemplos de escritores satíricos. Na verdade, todos nós escondemos uma faceta humorística dentro de nós mesmos. Aldous Huxley e Evelyn Waugh, da Irlanda e Inglaterra, respectivamente,  argumentavam que a sátira e o humor são questões que ultrapassam as épocas. A sátira social sempre consistiu em revelar a inconsistência, a incredulidade, a hipocrisia, a crueldade, o cinismo e a indignação. Em períodos mais modernos, Salman Rushdie, foi o rosto marcante da sátira. Este autor dos “Versículos Satânicos” teve de viver refugiado e escondido, para se manter vivo. Tal a força da palavra e o poder da sátira.

 

Em Moçambique, a literatura revela alguma dificuldade para conviver com a sátira social, na sua plenitude. Os poemas e, de alguma forma, a prosa continuam os veículos subtis que valorizam este género. Eventualmente, existam factores de ordem cultural, linguística, editorial, social ou política, conjugados, que limitam uma sátira mais genuína. A Revista Tempo com jornalistas como Areosa Pena, Filipe Mata e Bartolomeu Tome, ultrapassaram barreiras e se firmaram como os cronistas de referência. Censurados pelo regime colonial, se mantiveram firmes e agraciados pelo projecto libertador.

 

Mesmo depois da independência, jamais pararam de satirizar, com humor e leveza, modelos e propostas governativas pouco coerentes.

 

Depois de algum interregno e de um momento de muitas veleidades, novas vozes tentaram seu espaço e traçaram o seu próprio caminho. Juma, foi essa feliz e improvável revelação. Quando lhe perguntavam de onde buscava tanta inspiração, ele era peremptório. Não era ele que se inspirava. Era Moçambique que palmilhava e trilhava pelos sinuosos caminhos da paródia e indignação. Eram as incongruências da corrupção e a maledicência da democracia atípica, da política quotidiana maquiavélica, da insensibilidade do sistema judiciário.

 

A paródia se constrói com a vida, na seriedade e na adversidade dos factos. O que mais o incomodava e, um pouco aos cidadãos de bom-senso, eram as infundadas justificações para narrar o óbvio, os números problemáticos do registo eleitoral, das arbitrariedades com os contentores que, misteriosamente, desaparecem, a leviandade como se constrói a narrativa de pagamentos duvidosos, enfim, essa espécie de tragicomédia e de uma morte anunciada, para relembrar Gabriel Garcia Márquez.

 

A Carta de Moçambique, jornal digital para o qual publicou, reconheceu, em momento oportuno, que o seu projecto jornalístico ganhou espaço e expressão muito por conta de se ter pendurado na sua bagageira. Na realidade, a publicação acomodou-se, confortável, na poltrona da sua irrepreensível imaginação e frontalidade. Juma era uma pessoa corajosa e de perspicaz frieza. Assustava. Quase vaticinávamos um final premeditado e anunciado.

 

No seu humor, muitas vezes, tão trivial, noutras tão sério, ele será aquele jornalista que morre e sobrevive. Continuará escrevendo a partir das catacumbas. Para quem lê sátiras, o mais difícil seria não pensar em Charlie Hebdo e em tantos outros, que ousam atravessar pelos caminhos do politicamente correcto. Mas, a vida continua esse sopro. Passará algum tempo até que se entenda da natureza do furúnculo que o vitimou. Porém, o importante será saber que cumpriu, como ninguém, o nobre dever de servir à pátria e, no dia da maior celebração islâmica, ele regressou as profundezas das suas origens.

 

Sócrates dizia, várias vezes, que as pessoas sábias falam de ideias, mas que as pessoas comuns falam de factos e a pessoas, apenas, falam de outras pessoas. Ficaremos com os novos cronistas e que são produto da paródia que experimentamos como pão nosso de cada dia, Armando Nemane, Sérgio Raimundo e tantos outros, cuja intervenção social fará de Moçambique um lugar para todos, sem medos e de plena liberdade. 

O último episódio da tragicomédia "Rede SIMO vs Bizfirst" não obedeceu a tradição de "viveram felizes para sempre". O governo e os bancos descobriram que, afinal de contas, aquele xerife do 25 de Setembro ostenta um revólver de água. Não mata ninguém.

 

Depois de jurar e prometer que o Banco Central nunca mais iria trabalhar com aquela empezinha de meia-tigela e sanguessuga, eis que, no último capítulo, Rogério Zandamela aparece dizendo que o restabelecimento do sistema foi uma ação coordenada entre o Banco Central e a banca comercial. Disse ele que, não tendo solução e sendo a Bizfirst a primeira a apresentar a solução, seria ingénuo e seria irresponsabilidade do regulador [o Banco Central] não cooperar para essa solução.

 

Mais do que sentir-me feliz por estar novamente em liberdade, após superar o flagelo do Corona-Virus sobre o meu corpo, invade-me agora uma indescritível sensação de júbilo, em agradecimento profundo a todos que me amam, com certeza sem o merecer. Tenho passado os últimos anos da minha vida em cativeiro, dentro da minha própria carrapaça, um casulo que  vai  sendo fortificado irreversivelmente pela solidão. Estou em permanente fuga dos meus amigos, mas eles não me largam, percebi isso quando fiquei temporariamente sob as garras desse violento e cruel virus, ou seja, enquanto a dor e o medo assolavam-me por um lado, por outro lado vinha uma surpreendente avalanche de amigos que queriam saber como eu estava.

 

Com muitos deles eu já não falava fazia muito tempo, mas quando receberam a notícia da minha condição de positivo para o Covid-19, pegaram imediatamente no celular e do outro lado a voz comovida perguntava, como vai meu irmão? Outros apenas diziam, força brada, isso vai passar. E eu acrediatava nessas palavras de conforto, mesmo sentindo a dor na carne, o sufoco no peito, os arrepios em todo o esqueleto, as febres que me faziam transpirar suores frios toda a noite embrulhado nas mantas, as dores nas articulações. O desespero.

 

A minha casa transformou-se. O silêncio foi substituído por incessantes pedidos de lincença para entrar, de uma tal forma que a minha diarista jamais vira desde que está comigo ajudando-me em dias específicos. Ela percebeu que afinal há pessoas que me valorizam, como ela, embora eu ficasse com a sensação de que estava sendo visitado numa clausura de um condenado a morte, onde a comunicação é feita sem aproximação. Mas toda essa peregrinação animava meu espírito, e eu pedia-lhes para não voltarem mais enquanto não ultrapassasse esta linha vermelha. E na verdade capitulavam, como se estivesse a escorraça-los da minha casa.

 

As chamadas telefónicas não parávam. As mensagens entravam em catadupa no meu celular como remédio para a alma, e tudo isso ia ajudando-me na superação. A minha família ficou mais unida em redor de mim, e eu sentia-me embaraçado porque nunca fiz nada para retribuir esse amor, ou pelo menos para ser digno dele. Mas esse é o verdadeiro amor porque enquanto não me queixei, eles me amavam no silêncio, e agora que a espada parecia descer, o amor deles vibrou mais em defesa de mim.

 

A minha filha, a Ndola, deixou de trabalhar e veio acampar na minha casa, contra a minha vontade, pois eu não queria que corresse o risco de ser contaminada por mim, mas  ela ignorou todos os avisos. Protegeu-se no máximo, juntou-se à diarista e as duas lutaram a meu favor. Foi a Ndola que me levou ao hospital para o teste, partilhamos o mesmo carro, a mesma cabina, o mesmo medo, a mesma fé de que isto é um vendaval que vai passar. Ndola olhava para mim e no lugar de se comiserar, cantava e contava-me histórias de alegrar o coração. Ficamos juntos, distanciados, e ela sempre mascarada, a lavar as mãos sem parar, conzinhando e preparando a fruta imprescindível, e eu chorava escondido no quarto. De emoção por ver minha filha feita minha médica particular.

 

Graças a Deus tudo passou. Obrigado a todos, aos meus amigos, a minha família. Agora estou bem, pronto para o trabalho e para viver novamente, Na minha solidão.

terça-feira, 02 março 2021 07:05

Leituras em tempos pandémicos

Neste tempo, intensificamos as leituras que dialogam com a pandemia. Lemos de tudo um pouco. Depois, por questões de sanidade mental, até nos sugerem um desligamento. Outras leituras. Evitar o risco de pânico. As epidemias sempre desempenharam um papel fundamental na história da humanidade. As pandemias deflagraram crises políticas, económicas, destroçaram famílias e sociedades. Os vírus não moldam à história, os seres humanos sim. Os riscos que enfrentamos ultrapassam o vírus e os demónios exacerbados que geram ódio, ignorância, ganância e pânico.

 

A nossa reacção, em tempos pandémicos, revela desespero e ausência de esperança. Foi assim no passado. Pandemias propagam ódio, sobre tudo e todos, estimulam a ganância, revivem, até, o sentido da ignorância. 2020 foi tenebroso. 2021 se reveste já de memórias apocalípticas. Nos rendemos à resignação. Na nossa ingenuidade e apressada intuição, alimentamos esperanças de melhores dias. A pandemia não muda, nós sim.

 

Nas últimas leituras, tanto nas de ficção, bem como noutras, exorcizamos os demónios. Rebusquei algum encantando no “Planisfério Moçambicano – Atlas Literário”. Uma espécie de reencontro com o horizonte e suas escritas, citando o José dos Remédios. Um mergulho, em seco, pela literatura, seu cancioneiro e política cultural. Uma viagem fiel pelo acervo das memórias de Nelson Saúte. Essa memorável trajectória que revê clássicos. O libelo contra o esquecimento colectivo e a desmemória. Craveirinha, quase centenário, Noémia de Sousa, Rui Nogar, Eduardo White, Rui Knopfli, Leite de Vasconcelos, Aníbal Aleluia, Albino Magaia, Heliodoro Baptista, Ricardo Rangel, Fanny Mpfumo, Marcelino dos Santos, Calane da Silva, Malangatana e Bertina Lopes. Todos eles celestiais. Escrevem para outros olhares, cantam para outros ouvidos e pintam para os privilegiados.

 

Como teria sido oportuno exaltar outros escritores, como Adelino Timóteo, Mbate Pedro, Nelson Lineu, Sangare Okapi, Lucílio Manjate, Sara Jona Laisse e tantos outros, que insistimos serem a nova fornalha. Mas, eles são consagrados. Hoje, acrescentaria o cronista-mor da sátira moçambicana, Juma Aiuba. Ele mereceria essa reverência. Os seus textos foram imprescindíveis e os mais lidos nesta pandemia. Juma Aiuba deixara marcas indeléveis no jornalismo moçambicano e no fenómeno das redes sociais.

 

Ganhei de presente, da minha esposa, “A Promised Land”, de Barack Obama. Soberba e admirável biografia. Obra quase obrigatória. Lançada nos EUA, antes das contraditórias e fleumáticas eleições. Obama se expõe. Valoriza o aprendizado e percurso político. Revela como as lideranças políticas são manipuladas e mantidas reféns de interesses obscuros. Ele retoma os “órfãos da ordem política e economia americana”. O convencional que se converteu em adverso.

 

Porque se descontentam os jovens, desmotivam os partidários, políticos se banalizaram e perdem credibilidade? “Uma casa dividida não se sustenta”, tal como dizia Abraham Lincoln. Na difícil missão de liderar os povos, nunca como agora, foi tão necessário prestar redobrada atenção aos preteridos.

 

A amiga e colunista da Folha de São Paulo, Cláudia Costin, lá no Atlântico, interrompeu as minhas leituras, recomendando a imperiosa necessidade de ler o artigo “O Crepúsculo da Democracia” (Twilight of democracy) de Anne Applebaum. Esta jornalista americana descreve o réveillon, de 1999, na Polónia e a virada do milénio. Anteviu um milénio sem harmonia, pouco salutar, e com tendências invertidas. O mundo mudaria para o pior.

 

Anne Applebaum antecipou, com perspicácia, as tendências do neoliberalismo, o resvalar das instituições democráticas mundiais, o surgimento da distopia, que seria expressa em regimes populistas, sistemas políticos polarizados e sociedades intolerantes. A pandemia política já havia chegado muito antes dessa catástrofe humanitária. Vivemos algo que ela designou por “o apelo sedutor do autoritarismo”.

 

Estes novos tempos parece oferecem, de forma indiscriminada, saídas simplistas e mágicas, para problemas tão complexos. Estes tempos ainda mantém discursos que contradizem a práxis. Autoritarismos com números assustadores, lealdades e parcerias que se sobrepõem ao conhecimento.

 

Nesta senda outra das obras que sugiro, seria o último livro do consagrado historiador israelita Yuval Noah Harari: “Notas soltas sobre a pandemia”. Yuval Noah acredita que na batalha contra o coronavírus faltam líderes a humanidade. Desaconselha o descarregar de culpas à globalização, as restrições de toda a espécie, incluindo as viagens. Se opõe de forma frenética a “desglobalização do mundo” e ao isolacionismo prolongado. O antídoto para a pandemia, refere, não será a segregação, mas a cooperação. Descreve como as anteriores pandemias surgiram. Como elas ceifaram mais vidas que qualquer guerra. 

 

Continuo, no entanto, sedento de livros e relatos sobre como numa situação de impossibilidade de funcionamento normal das escolas, poderíamos improvisar aulas ao ar livre e deixarmos as crianças aprender. Soluções tecnológicas, no nosso caso, são paliativas. Música para adormecer quem vive de insónias. Procuro soluções e formas de reduzir esse quadro da profunda desigualdade educacional, decorrente da Covid-19.

 

As leituras destas novas normalidades precisam de descartar saídas simplistas ou mágicas, para problemas tão complexos. Discursos que contradizem a práxis. Leituras que nos façam compreender os descalabros. Os demónios das lealdades e alienadas alianças.

 

Estes são tempos que deixaram de ser assintomáticos. Exigem criatividade na reestruturação socioeconómica, inovação na resiliência, novas abordagens estruturantes para alcançar uma sociedade de justiça social, uma economia diversificada e sem pobreza. Buscamos pragmatismo, firmeza e posturas motivacionais. Como diz o provérbio, com êxito ou não, o importante é que cada um, no final, possa dizer, “fiz o que pude”.

 

Nestes tempos de leituras pandémicas, uma vénia muito especial a classe médica. A alma mais forte e melhor constituída é aquela que não se deixa envaidecer com os sucessos, nem abater com a infelicidade. Vocês são os nossos heróis. (X)

Conhecemo-nos no bairro Samugue, na cidade dos Bons Sinais – Quelimane, capital da província da Zambézia, Moçambique. Sunil, rapaz com raízes machanganizadas e coração machuabonizado, cresceu em Quelimane. Éramos amantes da bola, amigos leais e brincalhões. Tão miúdos que éramos, mas sempre com ideias grandes. Vivíamos a vida na intensidade e com bons projectos de vida para o futuro. Sunil, era um rapaz bravo, filho de todos e amigo presente. Quis o anjo da morte obrigá-lo a parir a alma tão cedo e logo nos primeiros anos do século XXI: deixou-nos.

 

Num dia lindo, com o calor ardente da terra dos Bons Sinais, acabávamos de jogar a bola no campo da Escola primária e completa 25 de Junho de Quelimane, hoje onde funciona a Universidade Católica de Moçambique (UCM); saímos a pedalar numa bicicleta de marca hero em direcção ao bairro Janeiro, onde residiam umas namoradinhas; a viagem estava perfeita, alta velocidade, adrenalina elevada e vibrante.

 

No aludido dia dos primeiros anos da contagem do ano 2000, cruzamos o cemitério saudade, onde jazem os restos mortais do nosso amado Sunil – chegaremos lá nas próximas linhas! Noite quente, escuridão estratégica e estranha – coisa do diabo! Sem querer, atropelamos um cachorro vadio e com o vírus da raiva canina no sangue a ferver! O Sunil amava e criava cachorros – no seu quintal tinha vários…naquele dia, quis o destino que a raça dos cães não o reconhecesse – deixamos aquele vadio por trás – a viagem continuou em direcção às casas das donzelas.

 

Chegamos, brincamos por mais de duas horas. No nosso regresso, eis que o vadio reconheceu-nos e começou a seguir-nos, eu por detrás da bicicleta, o Sunil conduzindo – a, eis que o vadio deixou-me por trás e foi aos pés do Sunil e mordeu-o, tendo desaparecido após o acto.

 

Naquele momento ninguém percebeu, fomos para casa e dia seguinte é que o Sunil percebeu que havia sido mordido pelo canino, foi levado ao hospital, donde teria que cumprir uma medicação de seis doses de vacinas contra a raiva, mas o Sunil apenas cumpriu três – alegadamente porque alguém da família disse-lhe que o problema já estava ultrapassado e ele como criança, queria brincar apenas…90 dias passaram,  a ferida e o veneno do canino já havia penetrado o robusto organismo do Sunil – estava com os sintomas raiva…

 

Foi levado ao Hospital Central de Quelimane – onde alguns médicos tentaram trocar o gato por lebre – tentaram vender uma cura que não existia - alimentavam as promessas da família em troca de dinheiro – mas já era tarde – o Sunil já ladrava que nem um canino faminto e sedento de sangue ou preza para morder – que situação! – dias passaram – todos se culpavam por não terem feito muito mais para salvar a vida daquele rapaz alegre e querido por todos no bairro de Samugue – Sunil perdeu a vida!

 

O bairro estava em choque – um bom rapaz inteligente, dedicado, sonhador e abnegado a boas causas havia partido do mundo dos vivos! A minha des-paixão por cachorros agudizou-se depois daquele acto, eles mataram o Sunil: o amigo que todos gostariam de ter e não perder!

segunda-feira, 01 março 2021 06:43

Juma Aiuba reloaded*: Outros gráficos da vida

Quando se pergunta a uma pessoa bem sucedida ou rica (rica, não no sentido moçambicano da palavra) qual é o segredo do seu sucesso, a resposta tem sido simples: humildade e honestidade. Aos que gerem finanças alheias ou públicas pede-se-lhes o dobro. Isso não é brincadeira.

 

Por falta de honestidade, o governo ofereceu-nos uma dívida de estimação sem solução à vista.

 

Desde o revés sobre o "Nosso Banco", passando pelo negócio da "Kuhanha" sobre o "Moza" e agora o caso "SIMO-Rede", está mais do que claro que o xerife da 25 de Setembro entrou nesta empreitada com uma calculadora na mão, mas sem nenhuma de humildade. O senhor Zandamela devia trazer de casa um papel branco (resma), um lápis "Aga-Bê", uma borracha bicolor (tipo aquelas que apagam tinta de caneta Bic) e um afiador. O cota devia aprender a perguntar e a escrever as respostas mais simples e, sempre que necessário, desenhar as mais difíceis. É a vida.


O povo está a sofrer por falta de bom-senso dos gestores do Bê-Eme. Excesso de zelo. Excesso de ciência. Excesso de contas. Excesso de aritméticas. Excesso de cálculos. E mais que tudo, excesso de orgulho.

 

A vida não é só matemática de "vai-um". A vida não são só gráficos da oferta e da procura. A vida tem outros gráficos também: da humildade, por exemplo.

 

- Co'licença!

Publicado em 20-11-2018

 

*Desde a primeira edição de Carta, em 22 de Novembro de 2018, o cronista Juma Aiuba impregnava nestas páginas o doce sabor da sua escrita. Sua morte abrupta foi um tremendo golpe. Para tentar manter sua voz viva, Carta decidiu reeditar semanalmente uma das suas crónicas. Seu perfume permanecerá vivo!

 

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