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segunda-feira, 17 janeiro 2022 03:04

Chuvas e má localização: 65 mil pessoas na Matola Santos sem acesso à unidade sanitária há mais de duas semanas devido à inundação

Há mais de duas semanas que o Centro de Saúde da Matola Santos, no Município da Matola, Província de Maputo, encontra-se encerrado devido às chuvas que desde o dia 30 de Dezembro de 2021 vêm caindo um pouco por todo o país, constatou "Carta" num trabalho de reportagem realizado nos últimos dias naquela urbe.

 

"Avisos não faltaram sobre o local escolhido para a construção do Centro de Saúde que está numa zona baixa", disse Amina Rajabo, residente da Matola Santos, que participou nas reuniões entre as autoridades e a comunidade local. O facto foi confirmado pela Directora dos Serviços Distritais de Saúde, Mulher e Acção Social da Matola, Amélia Tembe, que explicou que "antes de se erguer a infra-estrutura, as autoridades sabiam que o local era baixo e tinha uma bacia".

 

De acordo com os moradores ouvidos pela nossa reportagem, "o centro de saúde foi construído num local onde no passado tinha uma bacia de retenção de água da chuva. E por diversas ocasiões, a comissão da comunidade propôs outros sítios onde poderia ser erguido o empreendimento, mas as autoridades governamentais fizeram ouvidos de "mercador".

 

Sucede que as chuvas que se fazem sentir um pouco por todo o país vieram confirmar os alertas da comunidade sobre a má localização da infra-estrutura que custou 59.800 milhões de meticais dos cofres dos parceiros internacionais.

 

A infra-estrutura viria a ser inaugurada com pompa e circunstância pelo Governador da Província de Maputo, Júlio José Parruque, a 09 de Novembro de 2021.

 

Entretanto, dois meses depois, a população está desprovida dos serviços básicos de saúde porque a unidade sanitária foi engolida pela água que transformou o local numa Ilha. 

 

De acordo com Samuel Macamo, residente na Matola Santos, que acreditava que não voltaria a andar tanto para ter acesso a uma unidade sanitária, a população está a sofrer nos últimos dias.

 

De fontes do sector de saúde na Matola, "Carta" apurou que o atendimento dos utentes é feito no Círculo do Posto Administrativo da Matola. Entretanto, sempre que chove, os serviços são interrompidos e os doentes encaminhados a outras unidades sanitárias. Durante a época chuvosa, o bairro da Matola Santos é propenso a doenças diarreicas e malária.

 

O Centro de Saúde da Matola Santos emprega cerca de 30 funcionários entre médicos, enfermeiros, técnicos e serventes que, conforme apuramos, alguns não estão a trabalhar até que se encontre uma solução efectiva.

 

O Administrador do distrito da Matola Isaías Mondlane e o Presidente do Município, Calisto Cossa, bem como o Governador da Província de Maputo, Júlio José Parruque, são acusados pela população de se mostrarem indiferentes à situação. Mas a Directora dos Serviços distritais de Saúde, Amélia Tembe, disse que "o município e o Governo provincial estão a trabalhar com vista a encontrar uma solução para o problema". 

 

Aliás, no dia 30 de Dezembro de 2021, o Governador e o Administrador dirigiram-se ao local e as suas viaturas por pouco ficavam por lá, devido à intensidade das águas. 

 

Conforme explicou uma fonte do hospital, o problema são as condutas que estão entupidas e esperava-se que a edilidade, através dos serviços de saneamento e meios, viesse drenar a água, mas, até ao fecho desta reportagem, o Centro de Saúde continuava inacessível.

 

Aquando da inauguração em Novembro de 2021, Júlio José Parruque, Governador da Província de Maputo, disse que as obras constituíam a primeira fase e, para a segunda, estava prevista a construção de uma maternidade com a capacidade para 12 camas no puerpério e três camas na sala de parto.

 

Parruque disse na ocasião que "é uma infra-estrutura moderna e robusta, que vai beneficiar a população com os serviços de saúde materno-infantil, de pediatria, consultas de adultos, laboratório, (…) e que iria reduzir o tempo de espera para o atendimento nos bairros circunvizinhos". 

 

Só que, volvidos dois meses depois da sua inauguração, as águas da chuva que se faz sentir estão a testar a infra-estrutura. A nossa reportagem apurou no último sábado (15) que o Centro de Saúde da Matola Santos chegava a atender 200 doentes por dia.

 

De referir que a Unidade Sanitária foi construída com o apoio dos fundos do Governo norte-americano através do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) no âmbito das iniciativas do PEPFAR para o alívio do HIV-SIDA e equipada pela Fundação Ariel Glaser. (Omardine Omar)

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