Para quem visita Pemba, capital provincial de Cabo Delgado e termina pela zona cimento, pensa que a beleza das praias, a gastronomia e qualidade do pescado é tudo. Não! A par dos deslocados que circulam pelas ruas e avenidas da Cidade, a realidade em bairros como Chibwabwary, Cerâmica, Paquitequete, Natite, Mahate e outros revela um autêntico drama humano.
Em entrevista concedida à “Carta”, Juma Salimo, residente em Chibwabwary, disse: "aqui não entra Mahindra, ambulância e as crianças desistem da escola devido às dificuldades que enfrentam para lá chegar. As estradas são estreitas e falta de tudo".
Segundo Salimo, o bairro enfrenta vários problemas e não sabe porque até ao momento as autoridades locais ainda não trouxeram programas para melhorar a realidade dos habitantes daquela parte da Cidade de Pemba.
Conforme verificamos, a erosão acentuada é um dos maiores desafios do bairro de Chibwabwary. A par disso, as vias de acesso, a pobreza, a qualidade das habitações, transporte, electricidade, água e saneamento do meio e a falta de outros serviços básicos para a população são outras preocupações sem fim à vista. A realidade de Chibwabwary é preocupante e andar pelo bairro é uma maratona olímpica.
Um outro munícipe de Chibwabwary que aceitou falar à nossa reportagem foi Selemane Nassolo. Questionado se as autoridades interagiam com os moradores, eis que prontamente respondeu: "agora aqui ninguém chega, mas no tempo de campanha eleitoral todos querem falar connosco. Não temos nada. Vivemos à nossa maneira. Estão à espera que algo pior aconteça para se preocupar".
Segundo o nosso interlocutor, devido à extensão e características do bairro, muita coisa estranha acontece. "Aqui até aqueles insurgentes podem se esconder, porque é uma zona cheia de problemas. As nossas crianças desistem da escola por dificuldades em andar (…) uma vez que para sair do bairro é difícil, principalmente no período chuvoso. Esta terra é argilosa e com estas elevações ninguém anda (…)", disse Selemane Nassolo.
Situação similar verifica-se nos bairros Cerâmica, Alto Gingone, Colocolone e Noviane que, segundo apuramos, é um dos locais onde mais jovens foram recrutados para integrar o grupo terrorista. A realidade nestes bairros é preocupante. Em entrevista concedida à nossa reportagem, Raimo Momade, residente em Noviano, na Cidade de Pemba, explicou que o importante para eles é dormir, comer e trabalhar. "É aqui onde vivemos, conforme vês, a nossa vida aqui é mesmo essa. Cada qual busca a vida à sua maneira, o importante é continuar em pé", disse Raimo com o rosto triste e prestes a deixar cair lágrimas.
Com vista a apurar o posicionamento das autoridades locais, concretamente a edilidade da 3ª maior Baía do mundo, "Carta" procurou ouvir, sem sucesso, o Presidente do Conselho Autárquico da Cidade de Pemba, Florete Mutarua, se existia algum plano de reassentamento abrangendo os residentes daquelas zonas ou um plano de desenvolvimento autárquico que abrange aquelas zonas.
Entretanto, "Carta" teve acesso ao plano estratégico de desenvolvimento da Cidade de Pemba, da antiga administração autárquica liderada por Tagir Carimo, com a sigla PEDM, entre 2014 a 2018, de 83 páginas, onde reconhecia que os assentamentos eram desordenados e havia problemas críticos de erosão, vias de acesso em péssimo estado e precariedade de abastecimento de água, extensão de energia eléctrica e demais serviços públicos. Portanto, a situação da Cidade de Pemba mantém-se a mesma, embora existam bairros em expansão e que demonstram um melhor ordenamento territorial. (Omardine Omar)