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quarta-feira, 02 junho 2021 02:53

Associação leva à PGR caso de jornalista ruandês desaparecido em Maputo

A Associação dos Ruandeses Refugiados em Moçambique decidiu submeter à Procuradoria-Geral da República (PGR) o caso do desaparecimento do jornalista ruandês Ntamuhanga Cassien, que se encontrava exilado na ilha de Inhaca, Maputo, disse à Lusa o porta-voz da organização.

 

"Decidimos submeter o caso à PGR e o nosso advogado esteve lá hoje. Esta é a maneira que nós temos de fazer pressão sobre as autoridades para que se localize o Ntamuhanga Cassien", declarou disse à Lusa o porta-voz da associação, Cleophas Habiyareme.

 

Segundo a Associação dos Ruandeses Refugiados em Moçambique, Cassien foi levado no 23 do mês passado "por oito indivíduos desconhecidos que se apresentaram como agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM)", num grupo que incluía outro cidadão do Ruanda "que se expressava na mesma língua local do visado".

 

A Lusa contactou ontem o porta-voz do Serviço Nacional de Investigação Criminal (Sernic), Hilário Lole, que voltou a demarcar-se da eventual detenção do jornalista. "Nós não temos qualquer informação nova sobre este caso", limitou-se a dizer Hilário Lole.

 

Ntamuhanga Cassien, 37 anos, foi jornalista e director da rádio cristã Amazing Grace, em Kigali (capital ruandesa), trabalhando agora como comerciante em Moçambique. Dizia-se vítima de perseguição política como outros críticos do regime do Presidente Paulo Kagamé.

 

Fugiu da prisão no Ruanda em 2017, depois de ter sido condenado em 2015 a uma pena de 25 anos de prisão por conspiração contra o Estado, cumplicidade com terrorismo e homicídio - sentença na altura contestada por organizações de defesa de direitos humanos.

 

Líder do Ruanda desde 1994, a Kagame é atribuído o desenvolvimento do país após o genocídio de tutsis daquele ano, mas o chefe de Estado é também acusado de limitar a liberdade de expressão e de reprimir a oposição.

 

A organização Human Rights Watch (HRW) acusou no final de Março as autoridades ruandesas de estarem a limitar a população que recorre à Internet para se expressar no país, depois de restringirem a liberdade de expressão nos órgãos de comunicação social.

 

A organização de defesa dos direitos humanos diz que pelo menos oito pessoas que cobrem ou comentam a actualidade, incluindo o impacto das medidas de contenção da covid-19 na população mais pobre, foram ameaçadas, presas ou processadas no último ano, segundo a agência France-Presse.

 

A restrição de liberdades tem também sido denunciada e condenada por outras organizações como a Repórteres sem Fronteiras e a União Europeia (UE).

 

O genocídio no Ruanda foi responsável pela morte de mais de 800.000 pessoas, principalmente da minoria tutsi, entre abril e julho de 1994. (Lusa)

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