Depois de um ligeiro abrandamento, a caça furtiva parece ter regressado em grande no distrito de Magude, província de Maputo. Segundo a Procuradora-Chefe Distrital de Magude, Dólia Nguenha, só no primeiro trimestre deste ano, o Ministério Público instruiu cinco processos relacionados com o abate ilegal de animais bravios, que resultaram na detenção de quatro indivíduos e na apreensão de duas armas de fogo, catanas e uma viatura. Dos casos registados, dois estão sob comando da Procuradoria Provincial de Maputo, enquanto os restantes ainda estão sendo tramitados a nível daquele distrito.
Os dados foram apresentados, semana finda, durante o Seminário Distrital sobre conflito “homem-fauna bravia” e caça furtiva, organizado pelo Governo Distrital de Magude, em parceria com o Fundo Mundial da Natureza (WWF) e a Administração Nacional das Áreas de Conservação (ANAC).
No encontro, a Procuradora-Chefe do Distrito de Magude revelou que, de 2016 a 2021, o distrito instruiu 26 processos relacionados com aquele tipo de crime, dos quais 20 foram encaminhados à Procuradoria Provincial. Também foram apreendidas 19 armas de fogo e detidas 41 pessoas por suspeita de prática daquele tipo de crime.
Entretanto, tal como no passado e em outros tipos de crime, as autoridades continuam a não apresentar os mandantes, o que, na óptica da magistrada, “constituiu um grande entrave no combate àquele fenómeno”. Associado a esse facto, sublinha, está também a falta de recursos materiais para recolher informações e a falta de resultados dos exames balísticos, que acaba facilitando o retorno das armas de fogo aos furtivos.
Entretanto…
Alguns investidores na área de conservação acusam as autoridades de conivência com os caçadores furtivos. João Ferreira, um dos investidores desta área, no distrito de Magude, sugeriu, aliás, a investigação de pessoas que residem na zona tampão das fazendas de bravio por considerá-las principais informantes dos caçadores furtivos.
Por seu turno, Célio Matusse, Primeiro-Secretário da Frelimo, em Magude, afirmou que, há sensivelmente um mês, testemunhou a estória de um grupo de agentes da Polícia de Guarda-Fronteira que, ao invés de deter supostos caçadores furtivos, dirigiu-se ao Posto Administrativo de Mahel para receber subornos.
Já Fernando Djinji, Chefe do Posto Administrativo de Mapulanguene, defende que a Polícia de Fauna Bravia não está a desempenhar o seu papel em Magude, encontrando nos caçadores furtivos a sua fonte de sustento.
A corporação rebate as acusações e, na voz do Chefe da Polícia de Protecção de Recursos Florestas e Fauna Bravia em Magude, Manuel Faço, afirma que as armas para o combate à caça furtiva encontram-se nas mãos da comunidade, pelo que é necessário um diálogo para que esta colabore com as autoridades.
Referir que, para além do abate de animais de grande porte, há registo também de abate de gazelas, que são comercializadas na vila-sede do distrito de Magude entre 1.000,00 a 1.500,00 Meticais, perante um olhar impávido das autoridades. (Omardine Omar, em Magude)