Maria Rosa decidiu acompanhar o filho, de oito anos, à Escola Primária do Triunfo, mas a aglomeração na porta da instituição e as longas filas nas paragens deixaram-na com medo face à propagação da covid-19 na capital moçambicana.
O filho da Maria Rosa está entre os milhões de alunos do 1.º ao 12.º ano que ontem voltaram às aulas em Moçambique, num contexto atípico marcado por divisão de turmas, aulas em grupos alternados e aos sábados, devido à covid-19.
Na Escola Primária do Triunfo, como Maria Rosa, vários pais decidiram levar os seus filhos às aulas. Alguns, para ver as condições de prevenção criadas, outros para regularizar documentos, mas as limitações na instituição adotadas para evitar aglomerações tiveram o efeito contraproducente, gerando uma confusão que precisou de intervenção policial.
"Temos medo desta aglomeração, mas as crianças precisam voltar à escola", diz à Lusa Maria Rosa, no meio da multidão, que, aos berros, tentava entrar, à força, na Escola Primária do Triunfo.
Segundo o diretor pedagógico, a confusão resultou do facto de vários pais terem esperado até ao arranque das aulas para regularizarem a situação das suas crianças.
"É um dia de agitação. Alguns encarregados de educação reservam o primeiro dia de aulas para consultar as salas dos seus filhos, o que cria esta confusão", declarou Lúcio Mavundla.
Mas o receio de Maria Rosa e de tantos outros pais não se limita apenas à prevenção no seio das escolas, que até criaram condições para a higienização das crianças, exigindo o uso obrigatório de máscaras, medindo a temperatura à entrada e distribuindo torneiras e baldes para a lavagem das mãos.
O principal problema está nas longas filas para apanhar o transporte público nas paragens, onde o distanciamento entre pessoas pedido pelas autoridades face à propagação da covid-19 é uma ilusão, na medida em que ninguém quer perder os poucos veículos que se fazem à estrada para transportar passageiros em Maputo.
"A crise dos transportes é caótica. A minha filha já foi hoje à escola, mas foi difícil. As condições nas escolas foram criadas, mas o Governo tinha de organizar a questão do transporte para as crianças", diz à Lusa Augusto Xavier, enquanto espera por um transporte público numa fila com dezenas de pessoas na Praça da Juventude, no subúrbio de Maputo.
Enquanto entre os pais reina o medo, a felicidade é visível entre os professores e alunos, embora hoje, além da caneta e do caderno, as máscaras e o desinfetante tenham passado a ser itens obrigatórios.
"Foi um ano difícil, ficámos muito tempo ser ir à escola", lamenta a estudante da Escola Secundária de Laulane Lígia Alessandra, de 15 anos.
A professora de língua portuguesa na Escola Secundária de Laulane Maria Aguida conta à Lusa que embora alguns pais tenham mostrado receio, as crianças estão felizes e as instituições garantiram as condições básicas para evitar a propagação da doença.
"As crianças estavam muito ansiosas para voltar às aulas. Hoje, algumas chegaram logo as 06:00", declara a professora, acrescentando que com a estratégia das aulas intercaladas a "escola não fica cheia".
O ano letivo de 2021 é subordinado ao lema "Por uma Educação Inclusiva, Patriótica e de Qualidade" e o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano de Moçambique espera cerca de oito milhões de alunos do 1.º ao 12.º ano.
Moçambique viveu em estado de emergência entre abril e setembro de 2020, vigorando desde então o estado de calamidade, designações legais para enquadrar diversas restrições com vista à prevenção da covid-19, que incluíram a suspensão das aulas.
O Governo nunca chegou a declarar um confinamento geral obrigatório, mas há limites à ocupação de determinados espaços públicos e eventos, a maioria dos quais estão suspensos (cultos religiosos, conferências, provas desportivas, entre outras).
O comércio tem horários mais limitados, as praias estão interditas, o ensino pré-escolar está fechado (apesar de os restantes níveis de ensino estarem abertos) e na região da grande Maputo vigora desde fevereiro um recolher obrigatório noturno entre as 21:00 e as 04:00.
O país conta com um total de 746 mortes devido à covid-19 e 66.212 casos, dos quais 79% recuperados. (Lusa)