“Agitação” é como se pode descrever o ambiente verificado em algumas escolas da cidade de Maputo, durante as primeiras horas do primeiro dia de aulas, 365 dias depois da sua interrupção devido à pandemia do novo coronavírus.
Alunos, pais e encarregados de educação foram os maiores protagonistas, devido, por um lado, à fixação tardia das listas e horários e, por outro, à demora destes na consulta destes detalhes. Aliás, devido a esse aspecto, só nesta segunda-feira é que alguns ficaram a saber em que dias da semana far-se-ão à escola e em que salas irão estudar, pois, no novo normal, as turmas estarão divididas e os alunos terão aulas em dias alternados (segunda-feira/quarta-feira/sexta-feira) ou terça-feira/quinta-feira/sábado).
Nas escolas (primárias e secundárias) visitadas pela “Carta” foi notório o cumprimento das medidas de prevenção do novo coronavírus, a começar pelos pontos de lavagem das mãos, o uso obrigatório das máscaras (dentro e fora das salas de aulas) e a separação das carteiras, marcação do pavimento para o distanciamento físico entre os alunos. No entanto, poucas escolas dispõem de termómetro para a medição da temperatura corporal, como também há pouca preocupação em relação aos que entram e saem do recinto escolar.
O primeiro estabelecimento de ensino a ser visitado pela “Carta” foi a Escola Primária Unidade 25, localizada no bairro da Maxaquene D, nos arredores da capital do país. Logo na entrada, era visível a colocação de um balde de água com sabão para a lavagem das mãos, porém, sem a presença de alguém para controlar as entradas e muito menos medir a temperatura corporal dos que entram. Também era notável a colocação de baldes de água com sabão nas entradas de cada sala de aulas.
“Isto vai ser um verdadeiro martírio”, considera um professor
À “Carta”, uma das professoras da Escola Primária Unidade 25 disse tratar-se de um ano lectivo desafiante, tendo em conta o “novo normal”, imposto pela pandemia do novo coronavírus.
“Tudo que podemos fazer, neste momento, é dar continuidade com as medidas de prevenção. Para este primeiro dia, não foi fácil. A escola encontrava-se abarrotada de encarregados de educação que ainda não tinham a certeza de onde os seus filhos vão estudar e isso tornou o nosso trabalho um pouco cansativo”, explicou a fonte, secundada por um colega que garante ser difícil controlar crianças dentro e fora da sala de aulas.
“As pessoas não têm noção do que nós, como professores, teremos de encarar. Isto vai ser um verdadeiro martírio”, considerou o professor, preferindo falar também em anonimato.
Ainda no bairro da Maxaquene, a nossa reportagem escalou a Escola Primária Maguiguana, onde também foi notável a distribuição de pontos de lavagem das mãos, assim como de desinfecção dos calçados. Entretanto, tal como nas outras escolas, os encarregados de educação encontravam-se aglomerados nas vitrinas, igualmente, à busca de informações relevantes para os seus educandos.
Guida Coane, encarregada de educação, diz não estar satisfeita com a reabertura das escolas e explica as suas razões: “Por mim, não deviam abrir as escolas. Nossos filhos são muito novos, não vão saber controlar suas máscaras e podem trocar-se entre eles. Sempre irão partilhar lápis, vão se abraçar e mesmo para lavar as mãos vai ser difícil”.
Coane não é a única encarregada de educação insatisfeita com a reabertura das escolas. Quem também se sente incomodada é Alzefa Mapanga, encarregada de um novo ingresso. “Sabemos que os professores não estarão a todo o tempo para controlar as crianças e poderão partilhar e/ou trocar materiais escolares. Aliás, quando fui levar o meu filho às 10:00 horas, ele já não tinha viseira porque esqueceu na sala e um colega levou”, afirmou.
Escolas secundárias mais organizadas que as primárias
“Carta” visitou também as escolas secundárias para medir o pulsar deste primeiro dia e verificar as condições criadas para a retoma das aulas presenciais. Uma das escolas escaladas é a Secundária Noroeste 1, também localizada no bairro da Maxaquene. Aqui não só há baldes de água e sabão, como também há um sistema canalizado para lavagem das mãos. Entretanto, ninguém mede a temperatura e muito menos controla as entradas e saídas do recinto escolar.
As salas, que antes recebiam mais de 60 alunos, hoje estão organizadas no sentido de receber apenas 20 alunos e o pavimento encontra-se devidamente assinalado para permitir o distanciamento físico entre os alunos.
Em conversa com a nossa reportagem, uma aluna daquele estabelecimento de ensino defendeu que será um ano de enormes desafios. “Agora tudo mudou. Por onde passamos para ter acesso às salas, não é o mesmo local por onde passamos quando estamos a sair. O chão está marcado por setas e as mesmas chegam a baralhar-nos, vai ser difícil nos adaptarmos, principalmente, porque agora não teremos muito tempo para conversar com aquela colega que não vemos há muito tempo. Mas temos de entender que viemos à escola para estudar e não brincar”, disse.
Entretanto, Marla Magalhães, nome fictício de uma professora da Escola Secundária Noroeste 1, diz já se ter adaptado ao novo normal, pois, aquando da retoma das aulas da 10ª e 12ª Classes, no ano passado, teve a oportunidade de aprender a lidar com os alunos na nova realidade.
“Na sala de aulas, os alunos não podem levar muito tempo, os intervalos são muito curtos, razão pela qual temos de ser muito flexíveis. No ano passado, uma das condições impostas por este novo normal, foi termos de nos adaptar a escrever os exercícios para que os alunos façam em casa porque já não podem partilhar as fichas e eles passaram a escrever mais nos cadernos porque nem todos têm o poder de aquisição das mesmas”, apontou.
Já na Escola Secundária Estrela Vermelha, localizada no centro da cidade de Maputo, foi possível notar o controlo das entradas, assim como a medição da temperatura corporal, para além dos habituais baldes para a lavagem das mãos. Aqui também se verifica o controlo dos alunos nos corredores, para evitar aglomerados.
Lembre-se que neste regresso às aulas presenciais, o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano “baniu” as aulas de Educação Física, entretanto, consideradas como importantes para combater o novo coronavírus. (Marta Afonso)