Depois do sobressalto de 1 de Janeiro, quando 2 alegados insurgentes foram descobertos infiltrados numa residência na zona da DUAT (Quitupo) em Afungi, a Total já retomou os seus trabalhos, de mansinho.
Pelo menos a logística está operando.
Carregamentos de mantimentos para o “site” foram vistos em Pemba. O sobressalto com os 2 insurgentes logo abatidos pela Força Tarefa Conjunta (FDS e Total), de acordo com um SITREP (situation report) em nossa posse, foi suficiente para a Total anunciar a evacuação de Afungi, escamoteando uma evidência que era sobejamente conhecida: o acampamento estava assolado pela COVID 19.
Na ocasião do anúncio da retirada, “Carta” escreveu à Total perguntando sobre a situação da COVID. Quase duas semanas depois, a Total não tuge nem muge. Sua comunicação é uma aberração (atenção: a comunicação, não o Comunicador). A autoria do SITREP não é clara. O documento foi elaborado em cima dos acontecimentos, com todo o detalhe e sugere uma informação de inteligência para todos os actores envolvidos no terreno (consta que a autoria é da própria Total).
Com base no documento, a insegurança em Afungi resumia-se a dois aspectos: 2 insurgentes infiltrados, mas abatidos, e uma ameaça de ataque a Palma, para o dia 5, que nunca se concretizou.
Ou seja, a Total mandou interromper um projecto estruturante para a economia moçambicana por causa de uma ameaça. Isto levanta uma questão: afinal qual é a capacidade e dimensão da Força Tarefa Conjunta? Ela não foi concebida à medida do projecto? Fontes do sector dizem-nos que a Total usou o pretexto da insegurança também para obter uma vantagem negocial sobre...a própria Força Tarefa Conjunta.
A Total tem alegado nos bastidores que os homens das FDS integrantes da FTC não estão devidamente preparados e suspeita-se da ligação de alguns deles com a insurgência (não há confiança entre as duas partes) e alguns deles desertaram para a insurgência logo após os acontecimentos (alegadamente porque lá são melhor pagos).
Consta que ao longo da semana, o Governo e a Total mantiveram conversações, nas quais a multinacional francesa desafiou o executivo em três questões : o fracasso em fornecer as garantias de segurança prometidas em outubro, a falta de soluções políticas e o fracasso das intervenções militares.
Pelo acordo de julho de 2020, Afungi deveria ser protegido por 1000 militares e policiais e parte da segurança privada contratada pela Total, e haveria um aumento da segurança marítima. Entretanto, dois homens infiltrados e abatidos e uma ameaça a Palma para 5 de Janeiro foram o suficiente para mostrar a fragilidade da FCT. Mistérios!(M.M.)