O Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) defende que o Investimento Directo Estrangeiro (IDE), que Moçambique tem vindo a receber em grande escala, nos últimos 10 anos, não está a ter um impacto expectável no desenvolvimento económico do país. Em vez de ajudar a desenvolver, diz o Instituto, pelo contrário cria conflitos entre as empresas que injectam o capital e as comunidades em redor dos projectos.
É na pesquisa intitulada “Investimento Directo Estrangeiro e o Desenvolvimento Socioeconómico de Moçambique: Dinâmicas, Tensões e Desafios”, que o investigador do IESE Michael Sambo constata que o país não se está a beneficiar devidamente do IDE, que tem vindo a atrair, sobretudo na última década.
Falando esta terça-feira, em seminário virtual, Sambo fundamentou que a fraca contribuição do IDE, sobretudo do sector extractivo (por ser o ramo que mais recebe investimento estrangeiro), deve-se à incapacidade do Governo colectar, nesta área, as devidas receitas para o Estado e o fraco reinvestimento dos lucros provenientes da indústria extractiva.
Em seminário, o pesquisador explicou que, para chegar a essa conclusão, partiu do pressuposto, segundo o qual, o IDE contribui grandemente para o desenvolvimento económico de países, sobretudo em crescimento, como o nosso. Todavia, feito o trabalho, conclui o contrário pelos referidos motivos.
Sambo sublinhou que, em vez de contribuir para o desenvolvimento necessário, o IDE gera vários conflitos entre as empresas que investem e as comunidades afectadas pelos projectos, bem como clivagens entre os investidores e as autoridades governamentais locais resultantes de falhas de coordenação entre os governos locais e central. Como exemplo, o pesquisador apontou os conflitos entre a Kenmare (e não só) com as comunidades em volta dos empreendimentos da empresa.
Perante essas constatações, o investigador afirma: “pode depreender-se que o argumento, segundo o qual, o aumento do IDE na economia é condição necessária para o desenvolvimento sócio-económico é falacioso para Moçambique”.
Diante dessa realidade, Sambo deixa várias recomendações, desde a necessidade de o Governo equipar-se de condições necessárias para colectar, como deve, as receitas em megaprojectos, capacitando os técnicos, até a diversificação na atracção de investimentos. De entre vários outros sectores, aquele pesquisador defende a aposta na indústria manufactureira, capaz de gerar renda não só aos investidores, mas também aos moçambicanos no processo de transformação dos recursos naturais brutos.
“A lógica do desenvolvimento sócio-económico sustentável e inclusivo, através da maximização do investimento na economia, só tem fundamento se este incidir em indústrias manufactureiras que permitam transferência de tecnologias, produção de valor acrescentado, incremento das vantagens comparativas, diversificação da base produtiva e gerações de ligações a montante e jusante. E esse cenário não é que caracteriza a economia moçambicana”, afirmou Sambo. (Evaristo Chilingue)