Nem a declaração unilateral da trégua por parte do Presidente da República, Filipe Nyusi, serviu, pelo menos por enquanto, para o aproximar de posições. É que Mariano Nhongo, líder da auto-proclamada Junta Militar da Renamo, continua firme, para já, na decisão de não se sentar à mesma mesa com Filipe Nyusi para colocar termo aos ataques armados na região centro do país.
O líder do movimento dissidente da Renamo disse, esta segunda-feira, à comunicação social, que só vai aceitar dialogar com o Presidente da República se este publicar o documento por ele (Mariano Nhongo) enviado, no qual vêm vertidas aquelas que são as preocupações do grupo.
Para Mariano Nhongo, a publicação do aludido documento é peça-chave, pois, deve ser do conhecimento do povo. Avançar para o tabuleiro negocial antes da publicação do documento enviado ao Chefe do Estado, disse Nhongo, assemelhar-se-ia a uma traição ao povo que diz defender.
“Não há negociação se ele não divulgar o documento. Eu não vou aceitar ser enganado. Eu não vou enganar o povo. Estou no mato a sofrer com a fome para defender o povo. Não há negociação se ele não divulgar o documento. Ler todo aquele documento para todo o povo ouvir. A Junta Militar já enviou o documento. Enviei o documento. Porquê não devolvem? O que vamos negociar?”, disse Mariano Nhongo.
Até ao momento em que falava a jornalistas, o líder da auto-denominada Junta Militar da Renamo disse que não havia sequer recebido qualquer telefonema de Filipe Nyusi. Anotou que tudo quanto sabia sobre as possíveis conversações com o Governo ouvira de “pessoas”.
“Ele ainda não me ligou. Ainda não recebi nenhum telefonema. Estou a ouvir as pessoas a falar. Estou no mato e nem rádio tenho”, anotou Nhongo.
Adiante, Mariano Nhongo disse que tinha reservas quanto à genuinidade da vontade de dialogar expressa pelo Presidente da República, precisamente porque havia homens seus a serem sequestrados. Aliás, disse que no passado domingo, por exemplo, elementos da Junta Militar foram sequestrados, desconhecendo-se, até ao momento, o seu paradeiro.
O líder da auto-proclamada Junta Militar voltou a defender o afastamento do Ossufo Momade da presidência da Renamo e que o Governo devia, igualmente, deixar de negociar com o actual homem forte do maior partido da oposição.
No passado sábado, o Presidente da República anunciou, a partir de Cabo Delgado uma trégua unilateral de sete dias nas províncias de Manica e Sofala para abrir espaço para que o movimento adira ao diálogo actualmente em curso. Na ocasião, Filipe Nyusi disse que instruiria as Forças de Defesa e Segurança posicionadas na região centro a cessarem as perseguições aos elementos daquele movimento dissidente.
O anúncio da trégua mereceu, recorde-se, a saudação do Presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, para quem as partes devem sentar-se à mesma mesa e resolver as diferenças. (Carta)