A cada dia que passa, a situação na província de Cabo Delgado ganha outros contornos. Para além do horror que se vive nas incursões armadas dos terroristas, os nove distritos alvos das acções bárbaras do grupo “sem rosto” vivem, actualmente, uma situação de Estado de Sítio, com os generais das Forças Armadas de Defesa de Moçambique a assumir o seu comando.
Conforme garantiram as nossas fontes, os Administradores daqueles distritos já não se encontram nos seus postos de trabalho, uma situação que justifica o facto de, nos últimos dois ataques ocorridos nas vilas de Mocímboa da Praia e Quissanga, não terem sido encontrados nas residências oficiais.
As fontes contam que, devido a certos indícios de corrupção militar, houve mudanças a nível do teatro operacional norte, levando à substituição do Coronel que liderava as Forças de Defesa e Segurança (FDS) por um Brigadeiro. As fontes avançaram ainda que a substituição deveu-se ao facto de ter-se percebido que algumas ordens não eram executadas, devido a trocas monetárias.
Segundo relataram as fontes militares, quando se verifica substituição de dirigentes civis por militares “é porque a situação é mesmo crítica”. Cada distrito, acrescenta a fonte, foi afecto um brigadeiro, para desempenhar a função que, em termos de hierarquia, é desempenhada por um Coronel.
“A outra razão da exoneração é de que desviava comida das posições, deixando as tropas sem comida”, contam as fontes. Outra realidade, que está a ocorrer em Cabo Delgado, conforme apuramos, é da detenção dos militares que têm gravado vídeos e áudios, revelando a suposta real situação que se vive naquele ponto do país.
“Vocês, quando querem rendição, recorrem aos órgãos de comunicação social, mas saibam que estão a vender a soberania”, garantiu a fonte, citando uma comunicação de um superior hierárquico. Estes pronunciamentos surgiram durante um encontro entre as lideranças militares e os soldados no teatro das operações, onde foram levados, aos calabouços, dois militares que terão disparado desnecessariamente em locais públicos, no distrito de Muidumbe, exigindo rendição.
No entanto, as fontes afirmaram que todos aqueles que estão a fazer vídeos, em função da gravidade, têm uma situação de vida “problemática” porque violaram os códigos militares e de combate. A situação, em Cabo Delgado, é descrita como sendo de pânico em alguns círculos, havendo orientações e ordens expressas para que, mesmo a nível da Cidade de Pemba, não é aceite a circulação depois das 22:00 horas, período reservado exclusivamente para agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), devido aos rumores que pairam na urbe sobre um eventual ataque.
A situação de insegurança vive-se diariamente. No passado dia 02 de Abril, os insurgentes atacaram a aldeia Ingoane, na Localidade de Pangane, no Posto Administrativo de Mucojo, distrito de Macomia.
Refira-se que, há dias, o Ministro da Defesa Nacional (MDN), Jaime Neto, em entrevista aos órgãos de comunicação social, em Maputo, reconheceu que as FDS precisam de mais reforço, uma situação que já começou a reflectir-se com a chegada de mais mercenários para combater o terror que, desde Outubro de 2017, se instalou nos distritos de Mocímboa da Praia, Quissanga, Nangade, Palma, Macomia, Muidumbe, Meluco, Mueda e Ibo. (Carta)