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terça-feira, 05 novembro 2019 05:42

Através do SUSTENTA, Banco Mundial ajudou a Frelimo na recente vitória eleitoral

Camiões e tractores do famigerado projecto SUSTENTA, financiado pelo Banco Mundial (40 milhões de USD para 10 anos), que apoia agricultores nas províncias de Nampula e Zambézia, têm sido usados para fins “ilegais” e de política partidária. Entre eles, o transporte de madeira ilegal para posterior tráfico, transporte de pessoas na calada da noite e, também, de militantes da Frelimo na recente campanha eleitoral.

 

Conforme verificamos entre os dias, 24 a 27 de Agosto, nos distritos de Murrupula, Monapo e Mecuburi, os agricultores que receberam os veículos têm usado os mesmos para transporte de madeira ilegal, cortada na zona tampão da reserva de Mecuburi. “Carta” apurou que um tractor que em Ribáuè terá levantado uma carrada de madeira ilegal foi apreendido pelas autoridades florestais locais, nos princípios de Agosto. Situação similar aconteceu com um outro beneficiário, cujo o tractor ficou avariado no distrito de Gúruè, província da Zambézia, onde tinha ido efectuar carregamentos não elegíveis no projecto.

 

 

Nossa reportagem verificou que vários camponeses nos distritos de Murrupula, Mecuburi, Monapo e Lalaua necessitam dos mesmos recursos para escoar sua produção, mas estão a ser prejudicados por esse "desvio de aplicação". Verificamos que, em alguns postos como Shinga, onde se produz mandioca de qualidade, camponeses usavam bicicletas para escoar seus produtos. Um produtor, Januário Amade (nome fictício), afirmou que os veículos foram distribuídos a pessoas de confiança política da Frelimo, e todos os não-militantes foram excluídos. Estes têm dificuldades em transportar sua mandioca ou em escoar seu peixe com rapidez, para evitar que se deteriore.

 

 

Victor Milagre, outro nome fictício, revelou que algumas viaturas do Sustenta foram alocadas a pessoas que não trabalham a terra, mas apenas se relacionam com os furtivos da madeira. Comprovados agricultores foram preteridos. Nos Serviços Florestais de Mecuburi, onde "Carta" esteve, ninguém quis confirmar ou desmentir os factos narrados.

 

No terreno, “Carta” verificou que, na calada da noite do dia 23 de Agosto, ao longo da estrada principal de Mecubúri, um camião do projecto SUSTENTA estava a ser usado para transporte de pessoas, em vertente comercial, ou seja, virou transporte semi-colectivo de passageiros. De dia, o mesmo camião escoava algodão comprado nas comunidades de Issipé e Napai, em Mecubúri, com destino à cidade de Nampula.

 

Durante a recente campanha eleitoral, um pouco por todo o lado em Nampula e Zambézia, onde a Frelimo venceu as eleições com números expressivos, camiões do projecto Sustenta foram usados para transporte de membros e simpatizantes do partido Frelimo, testemunhou "Carta".  O SUSTENTA funciona sob a alçada do Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, dirigido por Celso Correia, e tem financiamento do Banco Mundial.

 

 

De acordo com seus panfletos, o objectivo do SUSTENTA “é estimular a economia rural, através da integração das famílias rurais no desenvolvimento de cadeias de valor sustentáveis, com base agrícola e florestal, de forma a melhorar a sua renda e qualidade e vida, com respeito pela conservação ambiental”. Mas, em contrapartida, serviu também objectivos eleitoralistas do partido no poder. (Omardine Omar)

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