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Actualizado de Segunda a Sexta

terça-feira, 08 outubro 2019 06:46

“Esquadrões da morte” assassinam defensor da biodiversidade e democracia em Gaza

Mais uma vítima dos famigerados “esquadrões da morte” foi calada, nesta segunda-feira (07 de Outubro), na cidade de Xai-Xai, capital provincial de Gaza. Anastácio Matavele, nascido a 01 de Janeiro de 1961, foi baleado mortalmente, na manhã desta segunda-feira, por três indivíduos supostamente pertencentes ao Grupo de Operações Especiais (GOE), da Unidade de Intervenção Rápida (UIR).

 

O Professor Doutor em estudos de Desenvolvimento na Universidade Free State foi alvejado por 10 tiros disparados de uma arma de fogo do Tipo AK 47, por volta das 11 horas, minutos depois de ter orientado a cerimónia de abertura de uma formação dos observadores eleitorais afectos ao CESC e Joint, duas organizações da Sociedade da Civil, e perdeu a vida no Hospital Provincial de Gaza (HPG), quando eram precisamente 13 horas.

 

 

Após o baleamento, os malfeitores puseram-se em fuga, porém, dois perderam a vida após envolver-se em acidente de viação. Outros dois supostos integrantes da quadrilha encontram-se sob custódia policial, sendo que um está na Segunda Esquadra da Polícia e outro no Hospital Provincial de Gaza recebendo cuidados médicos, após o acidente, outro suposto integrante encontra-se fugitivo, estando também na posse da arma usada para a concretização do seu trabalho. Entretanto, existem vozes que acreditam tratar-se de “queima de arquivo” e não aparente acidente de viação.

 

 

Face ao ocorrido, a Sala da Paz, plataforma das organizações da sociedade civil que monitora o processo eleitoral e da qual o finado fazia parte, convocou a comunicação social, baseada em Maputo, para dizer que não se vai deixar intimidar, porque entende que este crime é uma forma de intimidação da sociedade civil, principalmente, no período em que o país se encontra, quando faltam sete dias para as Eleições Gerais e das Assembleias Provinciais.

 

Falando à imprensa, Albino Luís, Secretário-geral do Conselho das Religiões e Presidente da Sala da Paz, na cidade de Maputo, disse: “estes actos são contra os direitos humanos e a liberdade de expressão plasmados na Constituição da República de Moçambique (CRM)”. E, devido a esse facto, apelam às autoridades competentes a investigarem o caso, com vista a encontrar-se os autores do crime hediondo e que, de forma exemplar, sejam punidos.

 

Acrescentando, Albino Luís disse que a Sala da Paz apela ainda aos seus observadores eleitorais na Província de Gaza a continuarem a levar avante o seu trabalho, reportando todos os incidentes eleitorais com isenção, transparência e, sobretudo, com rigor e profissionalismo.

 

Questionado pela “Carta” se o finado terá alguma vez reportado alguma situação de intimidação ou perseguição, Albino Luís respondeu: “Nunca Anastácio Matavele reportou algo do género, mas que a situação ocorre num momento tão complicado em que se encontram a formar observadores para as Eleições de 15 de Outubro e que, logo que dispararam contra o finado, os assassinos puseram-se em fuga, demonstrando que não tinham interesse em bens materiais mas, sim, em tirar a vida”.

 

Para Albino Luís e Paula Monjane, os observadores da Sala da Paz têm sido atacados para que não façam o seu trabalho e algumas organizações têm feito exigências que não fazem parte do processo. Acrescentam que na província de Gaza há um interesse particular para que o processo de fiscalização não seja devidamente feito. “Entretanto, os observadores da Sala da Paz irão continuar com o trabalho”, disse Paula Monjane, Directora do CESC.

 

A Sala da Paz exige que o homem, ora nas mãos da polícia, seja interrogado até revelar quem são os autores morais deste acto bárbaro. De salientar que na viatura acidentada em que seguiam os três assassinos foram encontradas armas de fogo, máscaras, fardamento policial e material de campanha.

 

Sublinhe-se ainda que Anastácio Matavele era também licenciado em Engenharia Química na Universidade Eduardo Mondlane (UEM). Até à data da sua morte era docente universitário em algumas universidades nacionais e estrangeiras.

 

Para além da sua formação académica, era Director-Executivo do Fórum das ONG Nacionais em Gaza (FONGA), Presidente da mesa da Assembleia-Geral da Joint, Ponto focal da Sala da Paz, membro do Fórum Nacional de Florestas (FNF) e um “ferrenho” defensor da biodiversidade e dos direitos humanos há mais de duas décadas. (Omardine Omar)

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