Nos últimos dias, um alerta de grevistas (basicamente motoristas sul-africanos de camiões) foi claro: nenhum camionista estrangeiro devia circular nas estradas da África do Sul. Esta manhã, alguns camiões foram incendiados em várias regiões da RAS.
Um grupo de operadores que está a monitorar a crise traçou para “Carta” o seguinte cenário: o túnel Du Toitskloof foi fechado e um camião incendiado logo antes da entrada entre a portagem e o túnel. Em Empangeni, no Kwazulo Natal, dois camiões de cana foram queimados na estrada da Felixton em direção à fábrica de açúcar da Felixton. Um camião de padaria foi incendiado quando se dirigia à Carnival East Rand (Gauteng). Os ataques não afectam só camiões. Viaturas ligeiras de civis também estão a ser alvo. Para a “Lalgy”, a remissão dos seus camiões para os parques foi a medida de precaução mais prudente.
Na semana passada, o grupo de grevistas, denominado South Africa Truck Drivers, emitiu o alerta da greve, apontando para as seguintes razões: “recrutamento ilegal de estrangeiros por parte de empregadores sul-africanos, exploração, humiliação e pobres salários”. O alerta terminava com a seguinte palavra de ordem: “Dizemos NÃO à transferência da pobreza para o nosso país”.
Para além desse alerta, os grevistas anunciaram os nomes dos transportadores que estavam autorizados a circular livremente: Bakers Transport, Kimeshan, Supergroup, Renwood, Starwheels, DHL, Timelink Cargo, STS, SYD, Green jacket, Zululand, Pro freight, City couriers, Woodford, Willowton oil, Reinhardt Group. Algumas destas transportadoras operam no mesmo mercado que o da Lalgy, circulando livremente ao longo do corredor de Maputo até o porto local.
Três ministros sul-africanos (o ministro dos Transportes Fikile Mbalula, o ministro da Polícia Bheki Cele, e o ministro dos Assuntos Internos Aaron Motsoaledi) disseram ontem em comunicado conjunto que a onda de ataques a camiões era uma pura "sabotagem económica" perpetrada por elementos criminosos.
Apesar de terem feito notar que as associações de camionistas do sector de frete rodoviário e logística se distanciaram da greve planeada, o facto é que ela está a ter lugar e com impactos severos. Os ministros condenaram a violência em curso e enfatizaram que se tratava de uma sabotagem económica que ameaçava a viabilidade da região da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).
Um observador atento ao fenómeno, falando à “Carta” comentou que a situação é recorrente nos últimos três anos, mas nenhum governo da região, incluindo o moçambicano (que muito fala em “diplomacia económica”) mostra vontade politica para proteger os interesses do seu empresariado, deixando que camiões sul-africanos inundem a estrada N4 em direção ao Porto de Maputo, sem serem alvo de um único arranhão. (Marcelo Mosse)