Pelo menos 36 deputados proclamados pelo Conselho Constitucional não farão parte hoje da cerimónia solene de investidura da X Legislatura da Assembleia da República. Trata-se de 28 deputados da Renamo e oito do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), que decidiram se unir ao apelo do candidato presidencial Venâncio Mondlane de boicotar a cerimónia desta segunda-feira.
Em separado, os dois principais partidos da oposição moçambicana anunciaram, ontem, a ausência premeditada dos seus membros eleitos, como forma de repudiar os resultados das eleições de 09 de Outubro, que determinaram a eleição de Daniel Chapo como Chefe de Estado e da Frelimo como bancada maioritária do Parlamento, com 171 deputados.
“O partido Renamo entende que esta cerimónia está desprovida de qualquer valor solene e, por isso, constitui um ultraje social e desrespeito à vontade dos moçambicanos pelo que não fará parte desta cerimónia de tomada de posse. O partido Renamo entende que é preciso respeitar a vontade do povo e a vontade do povo passa por realizar eleições livres, justas e transparentes e não em eleições administrativas”, afirmou o porta-voz da Renamo, Marcial Macome, em conferência de imprensa após a reunião da Comissão Política Nacional da “perdiz”.
Para Macome, a única forma de se ultrapassar o diferendo eleitoral é anulando as eleições de 09 de Outubro último. “O partido Renamo não reconhece ninguém que tenha saído destes resultados eleitorais, pelo que tal tomada de posse ou investidura do Presidente administrativo do Conselho Constitucional é redundado a zero”, sublinha.
Quem também reuniu a sua Comissão Política e decidiu boicotar a cerimónia de hoje foi o MDM (Movimento Democrático de Moçambique): “os deputados eleitos pelas listas do MDM não vão tomar posse amanhã [hoje] na linha do nosso posicionamento político que assumimos desde o anúncio dos resultados pela CNE e na continuidade pelo Acórdão do Conselho Constitucional”, afirmou Lutero Simango, Presidente daquela formação política, também em conferência de imprensa.
“Reiteramos que não reconhecemos os resultados e (…), ao não tomar posse, estaremos a transmitir uma mensagem clara de que o MDM não vai legitimar as ilegalidades e muito menos a fraude”, defendeu o político, garantindo que a sua formação política continuará disponível para o diálogo nacional inclusivo.
“Carta” sabe que a decisão de a Renamo e o MDM não tomarem posse hoje resulta de uma negociação entre os dois principais partidos parlamentares do país, levada a cabo na manhã de ontem como forma de estar ao lado do povo moçambicano e do candidato presidencial Venâncio Mondlane, que defende ser traição tomar posse com base nos resultados da CNE e do Conselho Constitucional.
Até ao fecho desta edição, apenas a Frelimo (no poder desde 1975) e o estreante PODEMOS (de dissidentes da Frelimo) tinham confirmado a presença dos seus membros na investidura dos novos deputados. Aliás, o boicote da Renamo e MDM pressionam o PODEMOS, a maior sensação das eleições de 09 de Outubro, mercê do trabalho político de Venâncio Mondlane, o rosto da maior revolta popular desde a independência do país. (Carta)