O distrito de Mecúfi, ponto de entrada do ciclone Chido em Moçambique, está quase totalmente destruído, com cerca de 76 mil pessoas sem comunicações nem energia, indicam organizações no terreno.
“Logo à entrada foi possível verificar que quase todas as infraestruturas, seja a nível privado, seja as infraestruturas do Governo, estão quase na sua totalidade destruídas, incluindo as casas da população de Mecúfi”, disse à Lusa Hélia Seda, gestora de projetos na Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento (ONGD) portuguesa Helpo em Moçambique, após visitar o distrito.
Citando o administrador local, Hélia Seda avançou que cerca de 76 mil pessoas foram afetadas pela Tempestade Tropical em Mecúfi, um distrito que está sem comunicação, sem corrente elétrica e com necessidades alimentares, de saúde, de infraestruturas e de abrigo.
“Quando fomos lá conversar com o administrador, a primeira necessidade que foi apontada foi a alimentação. Foi possível ver algumas pessoas tirando um pouquinho da comida dos escombros das casas para poder alimentar a sua família, então está uma situação de muita necessidade”, referiu ainda a responsável.
Imagens enviadas à Lusa mostram diversas infraestruturas sem teto, casas de construção precária totalmente destruídas, objetos, roupas e arbustos espalhados por Mecúfi, havendo ainda, segundo a Helpo, vias intransitáveis, lagoas, rios e riachos transbordados.
Apenas uma escola e duas salas de aula resistiram ao ciclone, avançou Hélia Seda, referindo que, juntamente com o Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), a Helpo levou kits de higiene e outro material para as famílias afetadas.
“Neste momento toda a ajuda possível é importante (…). Toda população de Mecúfi foi afetada sem distinção”, disse a responsável, acrescentando que mesmo as comunidades e escolas identificadas pelas autoridades como locais seguros para acolhimento não resistiram ao ciclone CHIDO.
O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) alertou para o sistema de saúde crítico no distrito de Mecúfi, com profissionais obrigados a trabalhar numa escola em condições “extremamente precárias”, situação que condiciona a prestação de cuidados eficazes.
“Todo o material médico se perdeu devido à exposição aos elementos. Há uma necessidade urgente de apoio para eliminar de forma segura estes medicamentos estragados, a fim de evitar o risco da sua utilização indevida”, refere a OCHA num documento de atualização de dados sobre os impactos do ciclone Chido em Moçambique, divulgado ontem.
A ONG avançou ainda que a comunidade necessita urgentemente de alimentos, abrigo, apontando também o reabastecimento de medicamentos essenciais e reconstrução dos serviços de saúde como prioridades.
Pelo menos 34 pessoas morreram em Cabo Delgado, Nampula e Niassa, na passagem do CHIDO, no domingo, e 35 mil casas foram afetadas, além de 34 unidades sanitárias, segundo novo balanço preliminar divulgado esta quarta-feira.
De acordo com um relatório do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD), o ciclone tropical intenso Chido de escala 3 (1 a 5), que se formou em 05 de dezembro no sudoeste do oceano Indício, entrou no domingo em Moçambique pelo distrito de Mecúfi, “com ventos que rondaram os 260 quilómetros por hora” e chuvas fortes.
Entre os impactos preliminares já contabilizados, até às 18:00 locais (menos duas horas em Lisboa) de segunda-feira, a situação afetou 174.518 pessoas, num total de 34.219 famílias, registaram-se 34 mortos – 28 em Cabo Delgado, três em Nampula e três em Niassa - e 319 feridos, além de 11.744 casas parcialmente destruídas e 23.598 totalmente destruídas.
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas no mundo, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e abril. (Lusa)