Estão divididas e extremadas as posições dos moçambicanos quanto à cessação ou não das manifestações amanhã, sexta-feira, para permitir a realização do jogo de futebol entre as selecções de Moçambique e Mali, no quadro da quinta e penúltima jornada das qualificações à Copa Africana das Nações (CAN), a realizar-se no Marrocos, em Janeiro de 2026. O jogo realiza-se às 18h00, no Estádio Nacional do Zimpeto, em Maputo.
Segundo o Presidente da Federação Moçambicana de Futebol, Faizal Sidat, a Confederação Africana das Nações (CAF) enviou uma nota ao órgão reitor do futebol moçambicano a exigir garantias de segurança para a realização da partida, face às manifestações populares em curso no país desde 21 de Outubro e que já causaram a morte de pelo menos 30 pessoas, incluindo crianças, assassinadas pela Polícia.
Na nota enviada semana finda, diz Sidat, a CAF avança a possibilidade de atribuir derrota à selecção nacional, caso não se garanta segurança às três equipas, incluindo de arbitragem. O assunto foi apresentado aos Ministérios do Interior e da Defesa Nacional que, ao invés de recomendar uma partida à porta fechada, garantiram total segurança para o jogo que pode garantir a segunda qualificação consecutiva àquele torneio continental.
No entanto, a decisão não acolhe consenso a nível da sociedade, havendo quem entende que o futebol devia solidarizar-se com a situação que se vive no país, sobretudo com a chacina de civis pela Polícia. Aliás, a falta de um minuto de silêncio nos jogos da última jornada do Moçambola, em memória às vítimas das balas da Polícia, é também outra questão que divide opiniões e que coloca o jogo de amanhã em alerta máximo.
Laurina Nove é uma das cidadãs que entende que as manifestações não só prejudicam o futebol, mas também a educação. “Não temos quem deve ou não fazer alguma coisa, até as crianças tinham avaliações na semana passada, porém, ninguém falou disso”, defende.
Opinião idêntica é expressa por João Matsinhe, que entende que a adesão popular ao jogo pode demonstrar a fragilidade dos moçambicanos e transmitir uma imagem de paz no país, facto que não existe.
Manuel Taque entende que o jogo de futebol de amanhã deve ser usado como termómetro para a comunidade internacional analisar a situação que se vive em Moçambique, de modo a ser mais incisiva nas suas condenações. “Penso que ninguém devia ir ao jogo. O país está em chamas e isso não pode ser ignorado. Há famílias que estão de luto por causa disto”.
Do outro lado da barricada está Eduardo Mahumana, que acredita que os moçambicanos vão lotar e até “transbordar” o maior e mais moderno recinto desportivo do país. “Penso que o jogo vai acontecer, somos adultos o suficiente para separarmos as águas.
Narciso Mula também entende que os “Mambas” podem jogar amanhã e a “luta” continuar nos próximos dias. “O futebol pode promover a paz. Seria bom até para desanuviarmos”, defende.
Moçambique lidera o Grupo I das qualificações ao CAN-2025 com oito pontos, os mesmos que o Mali soma ao fim de quatro jogos. As duas selecções ainda não perderam e uma vitória garante amanhã a qualificação a cada uma das equipas. A selecção moçambicana encerra a sua caminhada ao Marrocos na terça-feira, jogando com a selecção nacional da Guiné-Bissau, em Bissau, enquanto Mali recebe a sua congénere do eSwatini.
Refira-se que esta não será a primeira vez em que o Estádio Nacional de Zimpeto irá acolher um jogo de futebol sob “tensão”. Em Março de 2022, durante as qualificações ao CAN da Costa do Marfim, realizado em Janeiro último, Maputo recebeu o jogo entre as selecções de Moçambique e do Senegal, dois dias depois de a Polícia acusar os fãs e admiradores do rapper Azagaia de orquestrar um “Golpe de Estado”.
A Polícia (em suas diversas especialidades), incluindo os seus mancebos; os serviços secretos; e militares inundaram o Estádio com intenção única de repelir o “Golpe de Estado”, terminologia usada pelo Vice-Comandante Geral da Polícia ao então movimento de homenagem do rapper Azagaia, falecido no dia 09 de Março daquele ano, vítima de doença. Lembre-se que dias antes, a Polícia havia impedido uma manifestação pacífica nas cidades de Maputo, Quelimane, Nampula e Nacala-Porto. (Carta)