O ambiente político em Moçambique continua a deteriorar-se. Consequentemente, vai continuar a deteriorar-se o ambiente social e económico.
Com efeito, o país está virtualmente paralisado há já duas semanas, isto é desde o dia 21 de Outubro, vivendo uma das maiores crises pós-eleitorais da sua curtissima experiência democrática.
As primeiras e principais vítimas deste contexto é a população pobre, que vive do que consegue angariar na rua, em cada dia, e o sector que cria riqueza e oferece algum emprego, o sector empresarial.
A aparição do candidato presidencial, Venâncio Mondlane, esta Terça-feira, através das redes sociais, apelando para uma nova onda de manifestações, de uma semana, a partir do dia 31 de Outubro, transmite uma mensagem de profunda desesperança para o país e grave preocupação geral: a de que o ambiente pode rapidamente vir a sair do controlo. Porque nessa mesma ocasião, Venancio Mondlane desqualificou a abertura ao diálogo, publicamente manifestada pela FRELIMO, na semana passada, dizendo que as acções violentas da Polícia, nomedamente em Mecanhelas, contra adeptos do partito Podemos, não confirmam vontade de diálogo.
Pelo contrário, o apelo de Venâncio Mondlane para manifestações visando escritórios de órgãos eleitorais (STAE e CNE) pelo país fora, num contexto inflamado, em que já foram dados sinais muito claros de grave animosidade popular contra a Polícia....cria fundados receios de níveis inimiginaveis de violência.
A estratégia da Podemos e do seu candidato presidencial até parece estranha ou incongruente: ainda esta semana o partido Podemos submeteu recurso ao Conselho Constitucional, no qual rejeita os resultos eleitorais comunicados pela Comissão Nacional de Eleições, que dão vitória àFRELIMO e ao seu candidato, Daniel Chapo.
Pelo contrário, no seu recurso, baseado na sua própria contagem, o Podemos reivindica vitória para si , com 138 lugares na Assembleia Republica, e para o seu candidato, com 53.30% dos votos dos eleitores. O pensamento lógico levava à conclusão de que, ao assim proceder, o Podemos e o candidato presidencial por si apoiado estavam declarando publicamente que, descordando dos resultados apresentados pela CNE, vão apostar nos meios, mecanismos e instituições legalmente estabelecidos para dirimir conflitos eleitorais.
Ora, as declarações, no dia seguinte, de Venâncio Mondlane, apelando para um levantamento geral à escala nacional, a culminar em Maputo no dia 7 de Novembro, relativizam profundamente a relevância do recurso interposto junto do Conselho Constitucional. A menos que Podemos e Venâncio Mondlane estejam, de alguma forma, desalinhados estrategicamente.
De todo o cenário mas próximo possível, além das consequências políticas, cada vez mais difíceis de prever, são evidentes e graves as seguintes: por um lado, o povo - que há muito esgotou a capacidade de consentir mais sofrimento – vai ainda viver dias de insuportavel martírio: além do alto risco de mais mortes violentas, milhares de familias vão passar fome, porque privadas de acesso à rua, da qual sobrevivem no seu dia-a-dia.
Por outro lado, os impactos sobre o sector produtivo empresarial vão ser incalculáveis. Uma economia tão frágil quanto a de Moçambique, fortemente dependente de crédito bancário, por sua vez muito caro, sofre abalos “sismicos” com a mínima” ventania” , e o presente contexto tende a atingir niveis de tempestade! Os riscos, portanto, desta nova onda de manifestações são altissimos.
Contra os riscos de mais violência e mais sangue; de mais sofrimento das populações, sobretudo nas zonas urbanas; contra abalos sobre a fragilíssima economia nacional, com consequências de longo termo graves – contra todos estes riscos, só pode haver um e único apelo, a todos os actores políticos em “cena”, incluindo o candidato presidencial Venâncio Mondlane: que haja alta sabedoria nos vossos actos; procurarando insensantemente as soluções menos dolorosas para o povo e para o país. Que prevaleça a boa ponderação de interesses; o bom senso e o equilibrio. Que haja a coragem de recusar o fatalismo: a coragem que nos falta!