O Bispo da Diocese dos Libombos e Primaz da Igreja Anglicana de Moçambique e Angola (IAMA), Dom Carlos Simão Matsinhe, vai à reforma no próximo mês de Julho. A informação foi oficializada na semana finda, pelo próprio Bispo da Diocese dos Libombos, em comunicado enviado ao Clero e ao Povo daquela Diocese.
A reforma, que já vinha sendo anunciada desde Janeiro último, é oficializada quatro meses depois de Dom Carlos Matsinhe ter enfrentado uma onda de contestação, devido à gestão conturbada e calamitosa do processo eleitoral de 2023. Aliás, a Comissão Permanente da 23ª Sessão do Sínodo Diocesano da IAMA chegou a convocar uma Sessão Extraordinária do órgão para debater o futuro do sacerdote, mas o encontro não chegou a acontecer.
De acordo com a Diocese dos Libombos, a reforma de Carlos Matsinhe surge em cumprimento dos limites de serviço episcopal estabelecidos pelos cânones da Igreja Anglicana de Moçambique e Angola, que apontam para os 70 anos de idade como limite para o exercício daquele cargo. O Bispo dos Libombos completa exactamente 70 anos em Outubro próximo.
O comunicado enviado aos sacerdotes e aos crentes da Igreja refere que Carlos Matsinhe irá se despedir do cargo a 14 de Julho próximo, durante a celebração da Missa de Acção de Graças a Deus pelos 45 anos do ministério ordenado ao serviço de Deus.
Refira-se que Carlos Matsinhe foi ordenado 11º Bispo da Diocese dos Libombos a 28 de Setembro de 2014, em substituição de Dom Dinis Sengulane, o primeiro sacerdote moçambicano a liderar aquela Diocese, cargo que desempenhou entre 1976 e 2014. Já em Novembro de 2022, Matsinhe foi eleito Primaz da Província Anglicana de Moçambique e Angola, a 42ª província anglicana no mundo e a 15ª em África.
Entretanto, desde fim de 2023 que a autoridade religiosa de Carlos Simão Matsinhe não reunia consenso, devido à gestão calamitosa do processo eleitoral, na qualidade de Presidente da CNE (Comissão Nacional de Eleições), cargo que desempenha desde Janeiro de 2021. A sua abstenção, na madrugada do dia 26 de Outubro, durante a votação que chancelou os resultados finais das eleições autárquicas de 11 de Outubro, que na altura deram vitória à Frelimo em 64 autarquias, das 65 existentes do país, colocou em causa a sua autoridade religiosa.
Aliás, em Carta Pastoral emitida dias antes do anúncio dos resultados finais das VI Eleições Autárquicas, o Conselho Anglicano de Moçambique (CAM) apelou aos órgãos eleitorais, em especial a Dom Carlos Matsinhe, para a observância da Lei Eleitoral e a prática da verdade, durante a fase de centralização nacional e apuramento geral dos resultados de 11 de Outubro.
“(…) Os eleitores esperam de vós a honestidade, integridade, transparência, respeito e a verdade. Jesus Cristo exorta a humanidade para conhecer a verdade, dizendo que a verdade vos libertará”, defenderam os bispos anglicanos, citando o livro do Evangelho de João (capt.8, vers.32). Porém, debalde!
Sublinhe-se que as eleições de 11 de Outubro de 2023 são consideradas as mais fraudulentas da história da democracia moçambicana, tendo sido alvos de contestação em quase todo o país. Aliás, alguns Tribunais Judiciais do Distrito provaram ter havido irregularidades que colocaram em causa a credibilidade do processo, algo inédito na democracia moçambicana. (Carta)