A violência renovada desencadeada pelo grupo Estado Islâmico-Moçambique (ISM) entre 8 de Fevereiro e 3 de Março forçou quase 100 000 pessoas a fugirem das suas casas, segundo revela a ONU. A nova onda de ataques ameaça minar meses de ganhos no combate ao terrorismo obtidos pelas Forças Armadas de Defesa de Moçambique e pelos seus parceiros regionais, a Missão Militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Moçambique (SAMIM).
Os insurgentes aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, tendo matado quase 5 000 pessoas e deslocado quase 1 milhão. Através dos seus canais de propaganda, o ISM assumiu a responsabilidade por 27 ataques em Fevereiro que mataram 70 pessoas e destruíram 500 igrejas, casas e edifícios públicos no distrito de Chiure.
O Presidente Filipe Nyusi prometeu responder com “medidas contundentes”.
“A situação acalmou muito e as populações estavam a regressar”, disse aos jornalistas no dia 3 de Março. “Todas as aldeias ocupadas por terroristas foram recuperadas. Mas agora, nas últimas semanas, há uma tendência de pequenos grupos começarem a realizar ataques em algumas aldeias e descerem para os distritos do sul de Cabo Delgado.”
O Presidente do Zimbabwe, Emmerson Mnangagwa, que se reuniu com Nyusi à margem da cimeira da União Africana em Fevereiro, indicou que a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) está a repensar os seus planos para uma retirada completa.
“A situação não se acalmou realmente”, disse ele, segundo o jornal zimbabweano The Herald. “Mas esse mandato está a chegar ao fim, por isso estamos a discutir como podemos lidar com a situação.”
A SADC irá considerar manter uma presença na cidade costeira de Pemba como base para operações ofensivas enquanto se retira de outros distritos de Cabo Delgado, de acordo com o site português Africa Monitor.
Criada em Julho de 2021, a SAMIM é composta por tropas de Angola, Botswana, República Democrática do Congo, Lesoto, Malawi, África do Sul, Tanzânia e Zâmbia. O novo comandante da SAMIM, major-general sul-africano Patrick Dube, está a supervisionar uma redução faseada prevista para ser concluída em Julho.
Depois de visitar em Fevereiro as tropas ruandesas estacionadas em Cabo Delgado, Nyusi viajou para a Argélia no início de Março para obter mais apoio no combate ao terrorismo. O Presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, comprometeu-se a enviar equipamento para os membros das Forças Locais em Cabo Delgado que lutam contra o ISM juntamente com as forças de segurança.
“Isto vai acontecer”, disse Nyusi aos jornalistas.
O Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, também se comprometeu a apoiar Cabo Delgado durante a sua recente visita à província.
“O mais importante ainda é como ajudar o governo a encontrar soluções para as pessoas deslocadas, seja ajudando-as a regressar às suas casas ou transferindo-as para outros locais ou mantendo-as onde estão”, disse aos jornalistas depois de se reunir com Nyusi em Maputo, no passado dia 4 de Março. (África Defense Fórum)