Representantes dos três partidos com assento na Assembleia da República (AR) advertem que os ataques terroristas que afectam alguns distritos da província de Cabo Delgado, norte do país, ameaçam a paz no país.
A Frelimo, partido no poder, a Renamo, o maior da oposição, e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) o segundo da oposição, apontam também o diálogo permanente e respeito pelas diferenças políticas, como ferramentas para a resolução de conflitos.
O facto foi avançado pelos representantes dos três partidos, durante um encontro que teve lugar ontem (04) na cidade de Lichinga, província do Niassa, sobre o tema “Mecanismos e Modelos Locais de Promoção de Paz e Reconciliação em Moçambique”. O evento surge no âmbito do projecto “PROPAZ – Cultura de Promoção de Paz, Reconciliação e Coesão Social”.
Em comunicado enviado à AIM, o Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD) cita a representante da Frelimo no encontro, Maria de Fátima Jesse, a condenar os ataques terroristas em Cabo Delgado, e aponta o envolvimento no processo da construção da paz como a única via para a promoção do bem-estar.
“A paz tem de ser construída todos os dias nas nossas famílias, no trabalho, assim como na nação. A situação de Cabo Delgado é delicada. Nós sabemos que os terroristas não mostram os rostos”, diz Jesse.
“Não se conhecem as pessoas que estão à frente do terrorismo. Se as pessoas que estão à frente mostrassem as suas caras, provavelmente, o governo iria falar com elas para saber o que está a acontecer de modo a resolver a situação de Cabo Delgado. Todos nós queremos paz em Cabo Delgado. É uma situação que afecta a todos”, afirma.
Sobre os processos eleitorais, Jesse considera que os partidos devem respeitar as instituições e evitarem a difusão de mensagens que incitam a violência.
“Temos tido problemas em relação a mensagens que algumas pessoas difundem, principalmente nas redes sociais. São mensagens que incitam a violência, principalmente nos períodos eleitorais”, disse.
Por sua vez, o representante da Renamo, Orlando Sousa, aponta fragilidades dos processos eleitorais como sendo uma ameaça à paz, dando como exemplo as últimas eleições autárquicas de 11 de Outubro último.
“No nosso caso concreto, em Moçambique, eu julgo que está difícil construir ou manter a paz por causa de muitos problemas que temos estado a ver. É só vermos os resultados das últimas eleições: o partido no poder já tinha dito que tinha ganho as eleições em todos os municípios. Mas após protestos, quatro municípios foram devolvidos à Renamo”, lembra Sousa, acrescentando que se trata de um “problema que está a beliscar a paz”.
“Quando vamos às eleições, a vontade dos eleitores não é respeitada”, vinca Sousa, que igualmente é o segundo vice-presidente da Assembleia Municipal de Lichinga.
Apontou a reconciliação e diálogo como fundamentais para ultrapassar as diferenças. “O que nós precisamos para manter a paz é uma verdadeira reconciliação, um diálogo genuíno e que toca nos corações dos moçambicanos e não continuarmos a ver situações desta natureza”, frisa.
Sobre as VII eleições gerais, a ter lugar a 09 de Outubro próximo, o representante da Renamo apela a um maior comprometimento dos órgãos gestores do pleito.
“O que nós esperamos é que o STAE [Secretariado Técnico de Administração Eleitoral] e a CNE [Comissão Nacional de Eleições] coloquem pessoas comprometidas com a paz para irem trabalhar e não termos presidentes e directores de órgãos eleitorais que vão adulterar as actas e aquilo que é a vontade do povo”, vinca.
Já a representante do MDM, Luísa Muecua, considera que a vontade eleitoral não tem sido respeitada, o que gera insatisfação e conflitos pós-eleitorais.
“Aqui em Moçambique não há eleições. As eleições só criam mais problemas para o país. Quando estamos a organizar eleições é para a população escolher o que quer, não é para impedir a população de escolher o partido que quer. Não se respeita a vontade popular. No recenseamento do ano passado as pessoas ficavam uma semana sem conseguir se recensear. As pessoas eram escolhidas a dedo para recensear. Isto tudo não ajuda para a paz”, sublinhou.
Aponta os ataques terroristas em Cabo Delgado como outra ameaça actual à paz e estabilidade em Moçambique.
“Como partido MDM, lamentamos a situação da extrema violência em Cabo Delgado. Com esta situação, podemos considerar que a situação em Moçambique não é boa. Os nossos filhos, família e amigos estão a morrer em Cabo Delgado. O governo já conhece as razões da guerra em Cabo Delgado. Eu peço ao governo para resolver este problema”.
Por seu turno, o director de Programas do IMD, Dércio Alfazema, explica que a organização tem estado a colher subsídios para a elaboração de uma agenda nacional para a paz e reconciliação, tendo apontado a necessidade de os partidos apostarem na reconciliação entre os moçambicanos, bem como no fortalecimento das instituições, para que haja mais confiança na sua actuação.
O evento é o quarto, de um total de onze agendados pelo IMD a decorrer em todo o país, e com o financiamento da União Europeia.
Além de encontros regionais e nacionais entre os partidos políticos, a agremiação vai juntar autoridades locais, organizações da sociedade civil, académicos, líderes comunitários e religiosos, artistas e estudantes.
O encontro decorre de um processo de consultas que o IMD tem estado a levar a cabo para propor uma agenda nacional de promoção da paz e reconciliação. (AIM)