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quarta-feira, 10 janeiro 2024 08:48

Cabo Delgado: desinformação sobre cólera leva à morte de três líderes comunitários

Pelo menos três (3) líderes comunitários foram mortos e cerca de 50 casas incendiadas com os respectivos bens, nos distritos de Montepuez, Chiúre, Ancuabe, Namuno e Balama, na sequência de 14 incidentes relacionados com a onda de desinformação sobre a origem da cólera.

 

Segundo as autoridades, maior parte dos casos são liderados pelos Naparamas, grupos criados pela primeira vez no distrito de Namuno, em meados de 2022, e que, à semelhança das forças locais no norte de Cabo Delgado, vieram a expandir-se para os distritos de Montepuez, Balama, Chiúre, Macomia e Meluco, com vista a reforçar a luta contra o terrorismo.

 

Apesar de a região sul de Cabo Delgado estar livre da circulação de grupos terroristas, a presença dos Naparamas constitui motivo de preocupação, alegadamente por estar a pôr em causa a situação da segurança.

 

De acordo com as autoridades, os Naparamas são acusados de estar por detrás das manifestações violentas sobre a onda de desinformação em torno da origem da cólera nos distritos de Montepuez, Ancuabe, Balama e Chiúre, onde já foram reportados 14 episódios contra líderes comunitários, pessoal de saúde e agentes da polícia da República de Moçambique.

 

No início deste mês, o Secretário do Estado na província de Cabo Delgado lançou, na cidade de Pemba, uma reflexão sobre a agressividade dos Naparamas, durante um encontro no qual os participantes manifestaram preocupação e receio de que o movimento possa vir a ser outro motivo de insegurança na província, caso não sejam tomadas medidas urgentes.

 

"No início, os Naparamas eram bem-vindos, mas agora estamos a ver que é um problema sério contra o nosso governo", rematou um dos intervenientes.

 

Outro participante sugeriu que o governo devia tomar o assunto a peito. ″Não podemos tolerar esta situação porque amanhã pode criar mais desgraça na nossa província. Temos que ouvir essas pessoas″.

 

O Secretário do Estado em Cabo Delgado, António Supeia, afirmou que os Naparamas estão a desafiar o Estado, ao agirem fora do previsto.

 

"Agora, os Naparamas estão a confrontar o Estado ao atacar polícias, líderes comunitários e impedir a assistência à população. Nós já temos outros problemas, a exemplo de pessoas que estão a ser violentadas por conta do terrorismo. Os líderes estão diariamente a mobilizar as populações para o combate ao terrorismo e não queremos que surja outro terror", disse Supeia.

 

Contudo, todo o esforço feito até ao momento parece estar longe de convencer os Naparamas a mudar de atitude, sendo que esta semana paralisaram as actividades no centro de saúde do posto administrativo de Hukula, no distrito de Namuno, sul de Cabo Delgado.

 

Conforme apurou "Carta", os Naparamas de Hukula, por exemplo, acusam os técnicos de saúde e as autoridades locais de estar a propagar a cólera através de um suposto medicamento. O grupo paralisou a unidade sanitária e destruiu o centro de tratamento da cólera.

 

A situação obrigou a administradora de Namuno, Maria Felizbela Lázaro, a deslocar-se a Hukula, mas, devido à tensão instalada no local, foi preciso mobilizar um enorme contingente policial, incluindo membros da Unidade de Intervenção Rápida (UIR).

 

Ainda esta semana, uma manifestação contra o alegado uso de medicamento que causa a cólera teve lugar na aldeia Mecocora, no distrito de Ancuabe, tendo resultado na destruição de mais de uma dezena de casas. As autoridades da aldeia foram obrigadas a abandonar as suas casas e refugiar-se em locais seguros.

 

Cólera mata vinte e cinco pessoas desde Outubro

 

Dados partilhados pelo Ministério Saúde (MISAU) indicam que, desde Outubro do ano findo até Janeiro de 2024, o número de mortes devido à cólera subiu para 25. O dia mais mortífero deste ano foi a 06 de Janeiro, em que foram registados quatro óbitos e um no dia 08. A província que já notificou o maior número de óbitos até aqui é Nampula com 12, seguida de Tete com seis e Manica com três.

 

De acordo com os dados do Boletim Diário sobre cólera, até ontem (09 de Janeiro), já tinham sido notificados 8.878 casos da doença, com 6.387 pacientes internados. A taxa de letalidade situa-se em 0,3 por cento, tendo subido em um por cento desde o início do presente ano.

 

Neste momento, os dados apontam para prevalência de cólera em 26 distritos de sete das 11 províncias moçambicanas e as mais afectadas são Tete, Nampula, Zambézia e Cabo Delgado com 1.859, 2.840, 1.554 e 1.463, respectivamente.

 

Refira-se que decorre desde o passado dia 08 mais uma ronda de vacinação contra a doença, devendo terminar no próximo dia 12. A vacinação destina-se à população com idade igual ou superior a um ano, nas províncias de Cabo Delgado (Chiúre e Montepuez), Zambézia (Gilé, Gurué e Mocuba), Tete (Mágoe, Moatize e Zumbo) e Sofala (Marínguè).

 

A campanha pretende abranger 2.271.136 pessoas que actualmente vivem em áreas vulneráveis ao presente surto, estando avaliada em 1,3 milhão de dólares americanos. (Carta)

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