Começam a sair dos “armários”, os potenciais pré-candidatos à Presidência da República, a nível do partido Frelimo, organização política que governa o país desde a independência. O primeiro a “apresentar-se” aos membros do partido no poder é o antigo Primeiro-Ministro de Armando Guebuza, Alberto Vaquina, que nesta quinta-feira relançou a sua obra “as lágrimas do veterano”, lançada pela primeira vez, em 1999.
Numa cerimónia repleta de políticos (com destaque para o antigo Chefe de Estado, Joaquim Chissano, e a Presidente da Assembleia da República, Esperança Bias) e uma pequena franja de académicos e escritores, Alberto Vaquina dedicou todo o seu discurso (perto de 40 minutos) para “homenagear” e “agradecer aos anónimos” que marcaram a sua vida e nada disse acerca do livro, que era o principal motivo do encontro.
O antigo Primeiro-Ministro (que ocupou o cargo entre 2012 e 2014) começou por homenagear a mulher que, não sendo sua mãe de sangue, lhe deu leite materno, pois, a sua mãe não dispunha deste líquido, que serve de alimento para qualquer ser humano nos seis primeiros meses de vida. Seguiram-se a família, seus professores e o pai do escritor Ungulani Ba Ka Khosa (Esaú Francisco Cossa) que, na qualidade de Administrador do distrito de Eráti, na província de Nampula, emitiu o Atestado de Pobreza, que permitiu Vaquina frequentar o ensino secundário.
Depois de homenagear os “anónimos”, seguiu a homenagem aos “camaradas”, a começar por José Pacheco, antigo Ministro da Agricultura, a quem chamou de “meu primeiro governador”, tendo seguido Abdul Razak e Mouzinho Saíde, que o considerou seu primeiro Director Provincial da Saúde, em Nampula.
Homenageou os antigos Chefes de Estado, Joaquim Chissano e Armando Guebuza, pelo facto de Chissano considerar Alberto Vaquina como seu pai (pai de Chissano chama-se Alberto), enquanto Guebuza “tolerou” o seu comportamento: “eu sou muito irrequieto”, disse Vaquina. Também foram homenageados Eduardo Mulémbwe, Raimundo e Marina Pachinuapa, Eduardo Nihia e esposa, Mariano Matsinha, Óscar Kida, Hélder Injojo, Alberto Nkutumula, Lázaro Mathe e o jornalista Salomão Moyane.
Estranhamente, o nome do Presidente da República, Filipe Nyusi, não foi citado e nem de algum membro do seu Governo ou mesmo da Comissão Política do partido Frelimo. Aliás, a começar o discurso, Vaquina disse que Armando Guebuza e esposa foram convidados ao evento e que não se fizeram presentes “por razões devidamente justificadas”. Mas nada disse sobre o Presidente do seu partido.
O antigo membro da Comissão Política da Frelimo afirma que todos os homenageados fazem parte da sua caminhada e pediu-lhes que continuassem no mesmo barco. Aliás, intencional ou não, no seu discurso, Alberto Vaquina sempre enfatizou a parte étnica (macuas) e chamou António Taipo, pai de Helena Taipo, antiga Ministra do Trabalho, seu pai.
Aos jornalistas, Vaquina, que actualmente desempenha as funções de deputado, disse que nunca esteve desaparecido dos holofotes e que o evento servia apenas para o relançamento do livro e não para o seu posicionamento como pré-candidato às presidenciais.
“Nunca estive desaparecido, eu estava na minha aldeia a tomar conta da minha família. A tarefa que faço é a que tenho em cada momento histórico. Ao longo deste período, a minha tarefa era tomar conta da minha família e estar com aquelas pessoas perto de onde eu nasci para com elas aproveitar estar presente porque durante muito tempo estive ausente”, disse o político, médico e também escritor.
“Eu não tenho que estar desaparecido e nem tenho que me reposicionar, porque eu estou onde eu quiser estar em Moçambique e faço aquilo que eu quiser dentro daquilo que é legalmente autorizado”, disparou, considerando preconceituosa a pergunta sobre as suas intenções políticas neste momento de transição no partido Frelimo.
“Aí está um preconceito. Eu estou a lançar um livro e você pensa que me estou a reposicionar porque eu fui pré-candidato. Imagine que eu queira, qual é o impedimento? Não sou moçambicano?”, questionou, afirmando que a sua obra defende a união, com vista à construção do país que queremos. “Mas, para tal, devemos vencer os nossos preconceitos e unirmo-nos em torno do mesmo propósito, que se chama Moçambique”.
Lembre-se que Alberto Vaquina foi, a par de Filipe Jacinto Nyusi e José Pacheco, pré-candidato da Frelimo às presidências de 2014, todos indicados pela Comissão Política do partido. Vaquina perdeu na primeira volta com 19 votos, atrás de Luísa Diogo com 48 votos e Filipe Nyusi com 91 votos. Luísa Diogo, tal como Aires Ali, foram candidatos de última hora.
Com as eleições internas para a escolha do candidato da Frelimo às presidenciais de 2024 a se aproximarem, também crescem as expectativas sobre quem sucederá Filipe Nyusi no trono, tal como começam os movimentos dos possíveis presidenciáveis. (A. Maolela)