Seis imóveis da empresa Farmácias de Moçambique (FARMAC, SA), localizados nas províncias de Cabo Delgado, Niassa, Nampula, Sofala, Inhambane e Cidade de Maputo estão à venda em hasta pública, desde o passado dia 12 de Julho, num processo descrito como de revitalização da maior e mais antiga rede de farmácias do país.
Trata-se de dois apartamentos Tipo 2, localizados nas províncias de Nampula e Niassa; uma habitação do Tipo 2, situada na Praia do Tofo, província de Inhambane; uma habitação de 3 pisos, que se encontra na província de Cabo Delgado; uma loja comercial, situada na província de Sofala; e um armazém comercial, localizado na capital do país.
Em entrevista à “Carta”, o Director-Geral da FARMAC, Eusébio Macete, explicou que a venda dos referidos imóveis está enquadrada no Plano de Revitalização da FARMAC, aprovado em Novembro de 2022, que recomenda a capitalização de tudo que não constitui core business da empresa e que acaba constituindo um fardo para a mesma.
“Por exemplo, os bens colocados à venda não constituem o core business da empresa. Temos casas que, quando olhas, temos de pagar luz, água, segurança, entre outras despesas, mas quando somas ao fim do mês, é uma despesa fixa que tens de aguentar. Portanto, a solução é livrar-se dessas despesas e levar esse dinheiro revitalizar a empresa”, defende Macete.
Segundo a Directora da Área Financeira, Isa Maria, esta não é a primeira vez que a FARMAC coloca os referidos imóveis à venda em hasta pública, tratando-se de uma terceira chamada. A primeira chamada, revela, foi feita em 2021, porém, os concorrentes não alcançavam 30 por cento do valor calculado pela empresa. A segunda foi feita em 2022 e os concorrentes também não alcançaram o valor de licitação.
“Se houvesse intenção de entregar a alguém, já teríamos entregue”, remata o Director-Geral da FARMAC, para quem, caso os concorrentes não alcancem o valor de licitação, os imóveis não serão vendidos.
Sem avançar os números esperados pela FARMAC, a Directora da Área Financeira garante que os imóveis à venda foram avaliados pela consultora Ernest&Young e que, na sua óptica, um dos factores que não ajuda a sua venda é a localização, pois, grande parte estão localizados nas províncias. “Fizemos um reajuste dos valores, mas se as propostas não chegarem aos valores de licitação, não iremos vender os imóveis”, sublinha Isa Maria.
O Director-Geral da FARMAC explica ainda que o património da empresa vem desde o período colonial, facto que encarece os custos de manutenção. “Muitas das nossas farmácias estão localizadas em prédios, na sua maioria construídos na época colonial, e que, neste momento, estão degradados, apresentando problemas de infiltração”, sublinhou, dando exemplo da cidade de Pemba, onde a empresa teve de encerrar uma farmácia por se localizar num edifício em avançado estado de degradação e já com dias contados.
“O fim único deste exercício [de venda de imóveis] é dar rentabilidade à empresa, de modo que esta volte a ser dinâmica. Não há nenhum objectivo de vender a empresa. Isso não está nos planos da empresa. A ideia é não perder recursos com algo que não será rentável para empresa, sobretudo na situação financeira em que se encontra”, defende Eusébio Macete, revelando que a empresa já vendeu quatro imóveis no âmbito do processo de revitalização.
Primeiros resultados positivos
O Plano de Revitalização da FARMAC, de acordo com o corpo directivo da empresa, prevê três fontes de financiamento, nomeadamente, as vendas; a rentabilização dos activos; e a injecção financeira por parte dos accionistas, neste caso, o Estado moçambicano. O Plano é válido por três anos (2022-2025) e visa tornar a FARMAC numa empresa sustentável, capaz de honrar com os seus compromissos de curto, médio e longo prazo.
Neste quadro de revitalização da maior e mais antiga rede de farmácias do país, a FARMAC está em processo de rebranding (mudança de imagem), estando a trocar o emblemático “cor-de-rosa” pelo “azul”. Desde 2018 que deixou de ser uma Empresa Estatal, sendo agora uma Sociedade Anónima, detida pelo Estado, através do Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE).
A Directora da Área Financeira diz que o rebranding visa mudar a imagem que a sociedade transporta da “antiga FARMAC”, de uma farmácia sem medicamentos e com instalações em estado deplorável. Aliás, a Farmácia Vitória, localizada na Avenida Mao Tse Tung, na cidade Maputo, está a ser transformada, devendo tornar-se em “farmácia-modelo”. Igualmente, está a ser concebido um website da empresa. As duas novidades serão lançadas no próximo dia 16 de Agosto, o Dia da FARMAC.
“As pessoas associam o anterior branding a um passado não muito positivo. Então, há essa necessidade de mudarmos a imagem da marca, pois, por mais que a gente abasteça as nossas farmácias com todo o tipo de medicamento, haverá um público que poderá não entrar devido a este passado”, explica Isa Maria, sublinhando que o novo branding está a influenciar positivamente os fornecedores e a banca, que já haviam perdido confiança na empresa.
Segundo Isa Maria, a FARMAC fechou o ano de 2022, pela primeira, depois de muitos anos, com um lucro de 800 mil Meticais. “É um valor pequeno, mas é encorajador, pois, vínhamos de um ano em que tivemos um resultado negativo de 15 milhões de Meticais. No entanto, em termos históricos, a nossa balança está muito afectada devido às dívidas históricas que a empresa tem”, sublinhou a fonte.
Maria garante que a FARMAC tem estado a lutar para competir, em pé de igualdade, com as farmácias privadas, apesar das dificuldades financeiras que atravessa, pois, neste momento, é obrigada a adquirir os medicamentos com o valor na mão, devido ao volume de dívidas que transporta.
Refira-se que a FARMAC é a maior e mais antiga rede de farmácias de Moçambique, contando, actualmente, com 38 farmácias, das quais 18 na Cidade de Maputo. No âmbito do processo de revitalização, a empresa reduziu a sua massa laboral de 193 trabalhadores, em 2021, para 133, em 2023. (Abílio Maolela)