Director: Marcelo Mosse

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Actualizado de Segunda a Sexta

quarta-feira, 27 março 2019 06:09

“Presidente, água há-de vir mais?”

Na semana passada, o trauma de uma adolescente que viveu de baixo de uma torrente de chuva e cercada de água, que subia minuto a minuto, e onde a própria administradora do Distrito experimentou viver por cima de uma pensão que leva o nome do distrito, continua estampado em muitos rostos no Búzi.

 

Quando a pergunta veio, com a qual eventualmente ninguém contava, de uma adolescente, colocada ao PR, que dirigiu um breve comício, na sua fugaz passagem pela sede distrital de Búzi, na última quinta-feira, onde deixou caixas de biscoitos reforçados e fardos de roupa, o Presidente Nyusi tinha aparentemente entendido coisa diversa. 

 

Que a rapariga se referia a água para beber, água para consumo, que muita falta faz aos afectados. A miúda refez a pergunta e aí o Presidente encaixou.  Pergunta aparentemente difícil vinda de uma adolescente!  São daqueles momentos em que um estagiário da UEM no Instituto Nacional de Meteorologia (INAM) ou alguém das bacias hidrográficas podia dar uma resposta. Até porque Nyusi deu uma explicação. E foi convincente!

 

E a resposta do Presidente foi: Vamos procurar água, vamos procurar água, repetiu Nyusi!

 

E a adolescente retorquiu: Essa água das cheia Presidente! Essa das cheias, repetiu Nyusi.

 

Ouve-se um “sim”, em coro, da multidão que se juntou na parte frontal do edifício da sede distrital do Búzi cujas paredes brancas mostram até onde chegou a “marca de água” que, na sede distrital, ceifou a vida de 12 pessoas, segundo a administradora Bernardete Cipriano.

 

O local serviu de albergue de muitos concidadãos quando a inundação chegou antecedida do tais ventos que terão atingido os mais de 150 km por hora.

 

Entendida a questão, o Presidente da República respondeu: “Presidente não manda chuva, nem!” disse ele e ouviu-se um riso manhoso da população. “Agora estou a vir de Cahora Bassa, queria ver se lá está cheio mas disseram que não há maneira de vir mais. Mas está a chover muito lá no Save, lá no sul está encher pouco a pouco, Pungué pode também chover, então não voltem para aqueles sítios, vamos esperar, depois vamos informar se a chuva há-de vir mais, ouviram?”

 

E a resposta foi um outro coro: Sim.

 

O Presidente da República não deixou de mandar recados para quem o quis ouvir. Nyusi faz referência “a amigos que não são amigos, de mentirosos”.

 

Malta dos whatsaps e dos facebooks? Ou dos apóstolos da desgraça, no tempo da outra senhora? Malta do Maputo? Pode ser que o Presidente a estes se dirigisse.

 

“Mas também há uma coisa, temos amigos que não são amigos, mentem muito, falam muito” diz o Presidente, que é interrompido por um ensurdecedor “sim”.  E Nyusi continua: “Começam a dizer que vai chover hoje… aquilo é para vos por a correr correr de um lado para o outro, eles estão bem lá na cidade, no Maputo está bom, mas toda a hora estão a falar… falar falar só para vocês correrem de um lado para o outro”, disse Nyusi que recebeu de volta ensurdecedores aplausos. Estava dado o recado.

 

Segundo o Presidente da República, as populações devem ouvir as lideranças locais.  Aquelas não mentem.  “Esperar a administradora, os directores, os secretários do bairro, as lideranças, são estes que devem dizer o que fazer quando em situação de qualquer emergência. Sei que a Rádio não está a emitir aqui mas nós vamos falar com a administradora quando houver problemas”, disse Nyusi.

 

E o PR continuou as desmascarar os mentirosos, os que querem colocar o seu patrão “a correr de um lado para o outro”. Terá ouvido o PR em Songo, em Cahora Bassa, Tete, que na casa mortuária de hospital que não nomeou tinha muita gente, muitos corpos sem vida.

 

“Eu estava lá, em Tete, em Songo, Cahora Bassa, e começaram a dizer que tem muita gente lá na casa mortuária e mandei correr pessoas, não tem muita gente. As pessoas morreram sim, nos bairros… mas pessoas que gostam de mentir inventam coisas… é só para nós sofrermos. Vamos ficar calmos e ouvir aquilo que a estrutura vai falar, está bem?”, disse Nyusi.

 

À sua chega Nyusi deu um nostálgico abraço a administradora que parece não ter sido captado pelas TVs que chegaram a Búzi, 15 minutos antes.  Foi impressionante.  Pessoalmente, e mesmo vivendo aquilo a dois metros de distância, senti a sinceridade e humanismo do abraço fraterno do Presidente a administradora. Depois entre olharam-se com as mão entrelaçadas.

 

O PR depois dirigiu-se ao local de onde falaria para as comunidades. Eu continuava continuava a sentir o calor daquele abraço. Segundo soubemos, a administradora é uma verdadeira mãe, uma verdadeira heroína, ela que não abandonou o seu povo quando o “dilúvio” chegou.  Consta que ela manuscreveu uma comovente carta ao Governador Alberto Mondlane, relatando o drama por que passou ela e a sua gente.

 

Recebido no meio de muita emoção pela população, Nyusi ainda levou ao colo alguns petizes antes de ver outra indisposta no interior do edifício administrativo. Estava com alguma mazela.

 

Nyusi havia falhado aterrar no domingo porque a sede distrital estava ainda inundada, como ele próprio explicou. Aliás, a administradora Maria Bernardete Cipriano Roque conta que só se podia circular de barco na vila sede do distrito.  “Vim aqui no domingo mas não consegui aterrar porque havia muita água em todo o lado e ainda estava a chover”, disse o Presidente. Apelando a serenidade e calma, o Presidente garantiu a população que iria ele trabalhar no sentido de mobilizar apoios para ajudar a população e estes já começaram a chegar. (R.B.)

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